19 de junho de 2002
Pragas empesteiam o gelo da NHL. E isso é bom!

Por Fabiano Pereira

Defina o que é peste. Pode citar definições. Praga? Correto, pode ser praga, daquelas que vitimam toda uma localidade. Epidemia? Sim, uma doença que se espalha rapidamente e acaba com toda uma população. Que o diga a Europa, na Idade Média, com a Peste Negra. Mas e se eu disser os seguintes nomes: Tyron Nash, Darcy Tucker, Kirk Maltby, Dan Hinote, Erick Cole, Claude Lemieux, Bobby Holik ou Mike Peca? Não os conhece? Bem, talvez por não serem superestrelas da liga. Mas as superestrelas sabem, e muito bem, quem são eles.

Na NHL eles são conhecidos como pestes, jogadores que, literalmente, são pragas que destroem a lavoura ofensiva de um time ou dizimam toda uma população de atacantes com seu estilo agressivo de jogo, pelas pancadas que desferem sem dó nos atacantes e por grudarem como carrapatos (outra peste) nas superestrelas adversárias.

Quem não se lembra de 1999, ano em que os Sabres chegaram às finais da Stanley Cup, quando enfrentaram os Stars? Todos falam que Hasek levou o time sozinho até lá e daquele famigerado gol do Brett Hull que foi marcado dentro da área. Mas ninguém se lembra de que em todas as séries por que os Sabres passaram as superestrelas foram totalmente paradas por um pequeno homem chamado Mike Peca, talvez a peste mais conhecida da NHL. Pequeno no tamanho, mas grande na intensidade, Peca acabou com estrelas como Mats Sundin por onde passou. Chato, grudento e que não larga do pé (não, não é aquela garota ou garoto que te persegue aonde você vai), ele poderia facilmente ser considerado o co-MVP dos playoffs junto do Dominador, caso ganhassem a Stanley Cup. Mas eles não ganharam e ambos estão agora em outros times.

Chegando aos Isles para esta temporada, Peca conseguiu levar o time de Long Island aos playoffs após um longo hiato e, ainda por cima, ajudou a diminuir em um gol a média de gols sofrida pelo time.

Aliás, a intenção de ser uma peste não é ser o melhor jogador ofensivamente. Tanto que nenhum dos nomes citados é um especialista em gols ou assistências. E, mesmo jogadores como Peca, Holik ou Tucker, que fizeram mais de 20 por temporada, ainda assim marcam daqueles mais feios. Desviados, rebote, depois de dar uma porrada em alguém. Dificilmente você verá uma finta excepcional, um belo chute ou uma triangulação perfeita.

E acha que estes jogadores não gostam de ser chamados de peste? Eles adoram. É um daqueles rótulos que aqueles jogadores que sabem que jamais ganharão os troféus por mais pontos ou gols adoram receber. Como o melhor brigador, o melhor vencedor de face-offs, o melhor jogador de bordas. É um orgulho ser uma peste. E, normalmente, rende ótimos dividendos.

Mesmo perdendo para o Avalanche nas finais da Stanley Cup, Bobby Holik, dos Devils, é um dos jogadores mais valorizados. Forte, com um chute muito forte, sabe ficar na frente do goleiro adversário, é ainda muito rápido, desfere muito bem pancadas. Ou seja: pode dominar totalmente o principal atacante adversário e ainda contribuir ofensivamente. Tanto é que vinha sendo o único jogador, além do goleiro Brodeur, a jogar alguma coisa nestes playoffs, até serem eliminados.

Já Darcy Tucker é realmente chato. E ainda teve a melhor campanha ofensiva de sua carreira, com 24 gols e 59 pontos. Nada mal para um jogador de terceira linha, que foi trazido apenas para atrapalhar a vida dos adversários. E fica clara a importância dele neste time dos Leafs, que tem uma das mais encardidas linhas de choque da liga em Tucker, Shayne Corson e Travis Green, podendo Gary Roberts ainda entrar nela. Ugh! Dá até medo pensar no que eles podem fazer juntos.

E, juntos, os Blues montaram uma bela linha de agitadores, com Tyron Nash, Jamal Mayers e Reed Low. Nash é a peste da linha, Mayers é o cara que distribui porradas e Low é o que toma satisfações na briga. Com esta linha, os Blues marcaram gols importantes por irritarem demais os adversários.

Marcar gols, ser ofensivo, é uma das facetas do jogo. Mas pergunte a times como os Rangers quanta falta fazem jogadores que sabem defender e irritar.

Fabiano Pereira estava ouvindo uma das "pestes" do rock, Jimi Hendrix, ao escrever este texto. Esse, sim, empestiava as multidões...
 
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Página publicada em 17 de junho de 2002.