Por
Alexandre Giesbrecht
Há alguns dias, quando os Penguins estavam no meio de uma seqüência
de dez derrotas, perguntaram ao gerente geral Craig Patrick sobre o
"prestígio" do técnico Rick Kehoe. Patrick sorriu
e respondeu: "Eu não sei se o meu emprego está a
salvo". Foi uma mostra espontânea de responsabilidade de
Patrick, um conceito que parece perdido no mundo do hóquei ultimamente.
Apenas quatro dos 30 técnicos da NHL estão no cargo há
mais de cinco anos, ninguém por mais tempo que Paul Maurice,
dos Hurricanes, que já soma sete. Apenas nove estavam nas suas
posições atuais antes de 1.º de janeiro de 2000.
Apenas 17 estavam nas suas posições atuais no início
da última temporada.
Em contraste, 13 gerentes gerais estão por aí há
pelo menos cinco anos, destacando-se Lou Lamoriello, dos Devils, há
16 anos no cargo, e Patrick, há 12. Apenas seis times trocaram
de gerentes gerais nas últimas duas temporadas. Mesmo o espinafrado
Mike Milbury, dos Islanders, está com seu empregador atual desde
um mês antes que Maurice.
Será que é tudo mesmo culpa do treinador?
Nenhum técnico foi demitido nos primeiros dois meses desta temporada,
mas quatro foram decapitados em dezembro (nada menos que por três
vezes um técnico novo acabou na capa da Slot BR só neste
mês): Darryl Sutter, do San Jose, Greg Gilbert, do Calgary, Bob
Hartley, do Colorado, e, agora, Curt Fraser, do Atlanta. Em todos os
casos, exceto, talvez, o dos Flames, pode-se dizer que o gerente geral
teve um papel fundamental nas atuações sofríveis
de seu time.
Comecemos com os Sharks. Muitos os consideravam favoritos à Stanley
Cup para esta temporada, e isso graças ao GG Dean Lombardi, que
construiu um elenco tão completo quanto poucos na liga. Mas sua
única tarefa nas últimas férias – garantir
que todos os seus jogadores voltassem para a nova temporada –
não foi cumprida. Evgeni Nabokov e Brad Stuart ficaram sem contrato
por boa parte do péssimo início dos Sharks, forçando
Lombardi a, no fim das contas, dar a eles o dinheiro que pediam. Vários
jogadores têm apontado as ausências de Nabokov e Stuart
como o motivo pela produção decepcionante do time.
Já o Colorado é sempre visto como favorito, e foi isso
que levou o GG Pierre Lacroix a chocar o mundo do hóquei ao substituir
Hartley depois de um início não tão ruim quanto
o dos Sharks. Aqui, de novo, a principal diferença entre o Avalanche
do ano passado e o deste ano foi uma troca que Lacroix fez com os Flames
durante as férias, que mandou para Calgary o artilheiro Chris
Drury e o raçudo Stephane Yelle, em troca do talentoso, mas "delicado"
zagueiro Derek Morris. Perder jogadores como Drury, Yelle e, anteriormente,
Shjon Podein e Jon Klemm foi o que fez com que o Avalanche passasse
a perder dentes, ao invés de arrancá-los dos adversários.
O mesmo vale por ceder Ville Nieminen e Rick Berry para os Penguins
só para alugar Darius Kasparaitis por três meses.
A demissão em Atlanta é a mais questionável destas
três. Quando o GG Don Waddell estava respondendo a questões
da imprensa sobre a demissão de Fraser, entre as suas frases
estava esta pérola: "Vamos ser um pouco mais agressivos
defensivamente". Fraser, o técnico demitido, não
deve ter conseguido conter o riso quando leu isso.
Nas suas mais de três temporadas como técnico do Atlanta,
Fraser nunca recebeu sequer um zagueiro que pudesse patinar bem o suficiente
para empregar qualquer nível de estilo agressivo. Mesmo neste
último verão norte-americano, quando os donos do time
deram a Waddell sinal verde para gastar, suas aquisições
para a linha azul foram Uwe Krupp e Richard Smehlik, cujas reputações
são de estarem sempre machucados e serem extremamente lentos.
Nesta temporada, ambos... bem, ambos têm estado sempre machucados
e continuam extremamente lentos.
Agora, Waddell está treinando o time, e isso pode ser bastante
engraçado. Talvez ele sinta o gostinho do que é mandar
Chris Tamer para o gelo umas 24 vezes por jogo.
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Alexandre Giesbrecht, publicitário, estava escutando "In
bloom", do Nirvana, quando finalizava este artigo. |
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ELE VALE UM DRURY? Derek Morris
(à esquerda) chega e não substitui o que Chris Drury
representava para os Avs: a culpa é de Hartley? (David Zalubowski/AP
- 21/12/2002) |
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