Por
Humberto Fernandes
A moda pegou mesmo na NHL. Não importa a equipe, não importam
os jogadores ou a falta deles , nem mesmo o que o homem atrás
do banco representa. Perdeu? Demita o treinador. E tudo se resolve.
Você consegue localizar onde está o erro no trecho acima?
Sim, está na última frase. Demitir o treinador definitivamente
não é a solução para os problemas de uma
equipe, e aquelas que recentemente adotaram esta prática possivelmente
pagarão caro por isso salvo quando acontece uma substituição
por melhor qualidade, como no caso do Calgary Flames.
Agora fomos surpreendidos pela demissão de Dave King do Columbus
Blue Jackets. É sempre uma mistura de surpresa e decepção
encontrar um treinador demitido a menos que ele venha de Nova
York, mais precisamente dos Rangers. Três derrotas causarem a
perda do emprego é coisa de futebol; o hóquei está
em outro plano, muito mais elevado. Mas não foram apenas três
derrotas que derrubaram King. Foram vinte, somente nesta temporada,
e 106 em sua história, que se mistura com a dos Blue Jackets,
afinal ele foi o primeiro treinador do time, com dois anos e meio de
casa.
Ao todo, King comandou o time em 204 oportunidades, conquistando 64
vitórias, as já citadas 106 derrotas, 21 empates e 13
derrotas na prorrogação. Seu melhor momento em Columbus
aconteceu recentemente, quando a equipe iniciou a temporada com uma
boa campanha (7-5-1-1), a melhor da história da franquia (dois
anos!). Desde então, venceram apenas 7 de 26 jogos, perdendo
15.
Doug MacLean, presidente e gerente geral, perdeu a paciência.
Vendo seu time na penúltima colocação da Conferência
Oeste, com 34 pontos (até o fechamento desta edição)
e ainda sendo surrado pelo lanterna Nashville Predators, não
pensou duas vezes e resolveu balançar a equipe.
"Esta foi uma decisão extremamente difícil de fazer,
porque Dave King é uma tremenda pessoa, que trabalhou muito por
esta organização nos últimos três anos",
disse MacLean. "Entretanto, eu não penso que estamos onde
deveríamos estar como um time, e isto me permite avaliar nossos
funcionários por uma perspectiva diferente. É importante
para nossa organização progredir".
Visando este progresso, MacLean assumiu interinamente a função
de treinador e deve permanecer assim até o fim da temporada.
Não é a primeira vez que ele irá trabalhar como
treinador, tendo até boas histórias para contar.
Nos últimos 17 anos, trabalhou em diversas equipes da NHL. Imediatamente
antes de ser nomeado gerente geral dos Blue Jackets, serviu como treinador
do Florida Panthers, compilando a marca de 83-71-33, incluindo 76-59-29
durante as temporadas 1995-96 e 1996-97. Durante este período,
somente cinco equipes tiveram mais vitórias que os Panthers:
Detroit Red Wings (100), Colorado Avalanche (96), Philadelphia Flyers
(90), New Jersey Devils (82) e os Rangers (79). Já na sua primeira
temporada como treinador, conduziu os Panthers ao título da Conferência
Leste nos playoffs e ao vice-campeonato da Stanley Cup derrota
para o Avalanche por 4-0.
Após conseguir o feito de levar um time com apenas três
anos de vida à final da Copa, MacLean recebeu o prêmio
de Treinador do Ano concedido pelo The Hockey News e concorreu ao Jack
Adams, concedido pela NHL.
MacLean ainda teve passagens pelo St. Louis Blues como assistente
de treinador, entre 1986 e 1988 , Washington Capitals também
como assistente, antes de assumir o time menor dos Caps na AHL, entre
1988 e 1990 e Detroit Red Wings novamente como assistente,
entre 1990 e 1992, deixando o cargo no ano seguinte para se dedicar
ao desenvolvimento de jogadores, tanto que se tornou assistente de gerente
geral e, em seguida, recebeu a função máxima no
afiliado dos Red Wings na AHL, de 1992 a 1994. Ele deixou a organização
para ingressar nos Panthers como diretor de desenvolvimento de jogadores
e, em um ano, tornou-se o treinador da equipe.
Agora ele terá que cuidar dos Blue Jackets, e não será
nada fácil. Os jogadores assumiram a culpa pela demissão
de King, mas quantas vezes já não vimos isso ao redor
da liga, especialmente no último mês?
Certamente não são os jogadores os culpados pela infelicidade
de King. Ele mesmo declarou isso: "Atrás do banco, às
vezes você abaixa a cabeça e diz, 'puxa, se nós
tivéssemos outro jogador ou dois que pudessem fazer diferença'".
A falta de bons nomes não permitiu ao ex-treinador repetir o
sucesso que teve com o Calgary Flames, entre 1992 e 1995, quando acumulou
109-76-31 e dois títulos de divisão. Apesar disso, foi
demitido após os Flames serem eliminados na primeira rodada dos
playoffs pelo terceiro ano consecutivo e agora, há quantos
anos aquela equipe não disputa mais que 82 jogos por temporada?
Resta saber se MacLean é capaz de reerguer o time. Não
repetir o fiasco da última temporada, quando os Blue Jackets
fizeram apenas 57 pontos e terminaram no último lugar do Oeste,
não será tão difícil assim. Mas que tal
ultrapassar a marca de 71 pontos, feita em 2000-01? Já terá
valido a pena para todos em Columbus.
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Humberto Fernandes quer ver os Blue Jackets melhores, para acirrar
ainda mais a crescente rivalidade com os Red Wings. |
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O SORRISO FINAL Derek King
perde o emprego em Columbus e sorri; não deve ser tão
ruim trocar o time (?) pela rua (Terry Gilliam/AP - 07/01/2003) |
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