Por
Marcelo Constantino
Escolha um dos cenários abaixo para fazer analogia com o momento atual
do Detroit Red Wings:
1997: Wings contratam o defensor Larry Murphy do Toronto Maple Leafs
em troca de nada no dia limite de trocas. O time fazia uma boa campanha
(era o terceiro na conferência), mas passava longe do favoritismo. Murphy,
que vinha sendo execrado pela imprensa e torcida de Toronto, formou
uma memorável e duradoura dupla com Nicklas Lidstrom. O time sagrou-se
campeão da Stanley Cup.
1998: No dia limite a gerência contrata o desvalorizadíssimo defensor
Jamie Macoun, também do Toronto, e o enganador Dmitri Mironov, e cede
Jamie Pushor e escolhas no recrutamento. Macoun surpreende e tem sólidas
atuações ao lado de Bob Rouse. O time conquista o bicampeonato.
1999: Os Wings definitivamente puxam o gatilho e protagonizam um
dos maiores negócios já vistos num dia limite de trocas: trazem o consagrado
defensor Chris Chelios, o atacante Wendell Clark (então numa brilhante
temporada em Tampa Bay), o defensor assustador Ulf Samuelsson e o goleiro
Bill Ranford. Cedem várias escolhas altas, inclusive duas de primeira
rodada, o goleiro reserva Kevin Hodson e o defensor Anders Eriksson.
O impacto é visível, o time começa avassalador nos playoffs, elimina
os Kings em quatro jogos e vence as duas primeiras do Colorado Avalanche
na fase seguinte. Exagerados especulam sobre 16 vitórias seguidas, mas
o time sofre um colapso impressionante na terceira partida, perde tudo
dali em diante e é eliminado.
2001: Detroit tem um fim de temporada excelente, ultrapassando o
St. Louis Blues na liderança da Divisão Central. Na terceira partida
dos playoffs, ocorre um colapso idêntico ao de 1999 e o time cai na
primeira fase para o Los Angeles Kings.
2002: Wings fazem campanha memorável, não encontram adversários
na temporada, mas caem vertiginosamente na reta final. Encontram sérias
dificuldades para superar o Vancouver Canucks na primeira fase dos playoffs,
até que um chute do meio da rua disparado por Nicklas Lidstrom, muda
a história. O time ruma até o título da Stanley Cup, passando inclusive
por uma série classe A de sete jogos na final de conferência, contra
o Colorado Avalanche.
Escolheu? Pronto, agora esqueça: nenhuma das situações acima pode ser
aplicada à atual. O time não é o mesmo, o estilo de jogo está cada vez
mais distante do left wing lock e Schneider não é Murphy nem
Chelios nem Macoun nem Mironov. É praxe da gerência do Detroit
contratar defensores no dia-limite, ou mesmo ao longo da temporada.
Red Wings pegando fogo: Último mês
de temporada regular, briga pelos playoffs se acirrando, briga pela
Divisão Central também se acirrando. Nesse contexto é que o Detroit
Red Wings entrou numa ótima seqüência vitórias com boas atuações. Já
deixaram para trás o St. Louis Blues, que liderava a divisão, e atualmente
chega a disputar a liderança da Conferência Oeste.
A boa fase começou pouco depois da parada para o Jogo das Estrelas.
Precisamente quando Brett Hull conseguiu marcar o seu gol número 700
contra os Sharks, numa vitória por 5-4 em 10 de fevereiro. De lá pra
cá, foram 17 jogos, 15 vitórias (incluindo uma seqüência de oito vitórias
seguidas) e apenas duas derrotas. Para completar, venceram o rival Colorado
Avalanche no sábado e os líderes da NHL, Ottawa Senators, no domingo.
Já tendo se distanciado do fantasma de enfrentar o Colorado Avalanche
na primeira fase dos playoffs, os Wings ainda receberam a volta de seu
capitão e líder incontestável após uma cirurgia que poderia tê-lo retirado
definitivamente do hóquei. Steve Yzerman retonrou e demonstra progressos
a cada partida, mas nada que garanta a solidez necessária a um jogador
na longa estrada dos playoffs. Entretanto toda a cidade de Detroit sabe
que sem Yzerman o time não vence uma outra Stanley Cup este ano. Basta
ver o que ele fez, com uma perna somente, nos playoffs de 2002.
Pontos altos -- A linha mais quente neste período, de longe, é a
formada por Henrik Zetterberg-Pavel Datsyuk-Brett Hull. Datsyuk e Hull
atuam juntos deste a temporada passada, mas era Boyd Devereaux que atuava
pela esquerda, brigando pelo disco nas bordas e trazendo mais velocidade
à linha. Zetterberg faz tudo isso e com muito mais qualidade. Trata-se
de um dos melhores novatos desta temporada, atua em todos os times especiais
e vem sendo tratado com o mesmo cuidado com que Datsyuk foi tratado
em 2002. Ambos estavam descartados de qualquer negociação no dia limite
de trocas.
O trio é basicamente este; o prospecto do ano de um lado, o prospecto
do ano anterior no centro e uma lenda viva do outro lado. Se marcar
ao menos 35 gols nesta temporada Hull obtém uma automática renovação
de contrato. Com o hat-trick contra os Sens no domingo, ele já chegou
aos 33. "Nós queremos que ele fique", diz o gerente Ken Holland sobre
uma possível renovação de contrato, independente da quantidade de gols,
antes do Golden Brett tornar-se um agente livre novamente.
Se a linha mais quente é a de Datsyuk, a mais sólida, aquela que esteve
bem durante toda a temporada, é a Grind Line. Não é novidade
para ninguém, trata-se da linha mais antiga e entrosada dos Wings. Atuando
juntos em boa parte das últimas seis temporadas e playoffs, Kirk Maltby,
Kris Draper e Darren McCarty seguem com sua forte característica defensiva,
mas sem jamais se limitar a isso. O tempo de jogo deste trio é superior
a qualquer outra considerada terceira ou quarta linha na NHL e raras
são as noites ruins para eles.
Pontos fracos: Os pontos que andavam mal no time durante a temporada,
goleiro e defesa, se acertaram nessa seqüência pós-Jogo das Estrelas.
Curtis Joseph parece ter conseguido dar a volta por cima, depois de
meses de atuações inconsistentes. A chegada de Mathieu Schneider, o
melhor defensor negociado no dia limite de trocas, traz a segurança
necessária ao corpo defensivo e deverá dar dor de cabeça a Lewis caso
Jiri Fisher volte em tempo (e em forma) para os playoffs. Quem sairá
para a chegada dele?
Atualmente os seis defensores principais do time estão definidos: Nicklas
Lidstrom, Chris Chelios (se o joelho deixar), Schneider, Jason Wooley,
Mathieu Dandenault e Dmitri Bykov.
Com a dupla Chelios e Fisher fora do páreo pela maior parte da temporada,
o espaço foi aberto para que os jovens Bykov, Maxim Kuznetsov e Jesse
Wallin aparecessem. O novato Bykov é das boas novidades do time em sua
primeira temporada na NHL, mas Kuznetsov e Wallin não convenceram, mesmo
já tendo alguma experiência anterior na liga. Este último, quando não
está contundido, não aproveita as chances nas poucas partidas em que
consegue ser escalado. Kuznetsov era útil como tradutor de Bykov e Datsyuk.
Com tantas contusões na defesa (além de Chelios e Fisher, Dandenault
e Wallin estiveram um tempo de fora), a gerência convocou o defensor
Patrick Boileau, veterano das ligas menores. Suas atuações o colocaram
à frente de Wallin e Kuznetsov na preferência de Lewis. Entretanto,
nenhum dos três jamais gozou da confiança necessária para estar entre
os seis principais defensores do time nos playoffs.
Fora isso, é necessário registrar também a baixíssima produção de um
artilheiro do quilate de Luc Robitaille. Como os gols andam cada vez
mais escassos, Luc é dos jogadores que tem recebido menos tempo de jogo
no time nesta temporada. Dificilmente esta não será sua última temporada
em Detroit. Deverá ser a última também do mestre Igor Larionov, para
o bem dele e do time.
Enfim, os Red Wings vêm quentes nesta reta final rumo à definição dos
playoffs, num ano que será bem mais difícil que 2002. Além do mesmo
Avalanche do ano passado, Dallas Stars e Vancouver Canucks despontam
como sérios candidatos à final da Stanley Cup.
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Marcelo Constantino é dos raros colunistas
de hóquei a defender a contratação de Sergei Berezin pelo Washington
Capitals. |
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O MAIS QUENTE - Em sua segunda
temporada na NHL, Pavel Datsyuk atingiu uma média de duas
assistências numa seqüência de sete jogos, recorde
na franquia dos Red Wings (Kevork Djansezian/AP - 10/03/2003) |
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CALDER PARA ELE?
- Henrik Zetterberg tem feito uma temporada de estréia digna
de Calder, atuando regularmente em qualquer situação
(Bill Kostroun/AP - 28/01/2003) |
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