Por Humberto Fernandes

Enquanto esta revista completa seu primeiro ano de vida, um ás do hóquei chega aos 75, sem jamais ter sido esquecido pelos fãs e historiadores do esporte.

Abaixo, uma homenagem a Gordon "Gordie" Howe, eterno ídolo do hóquei no gelo.

O apelido talvez seja o aspecto que mais define um jogador e sua influência no jogo. O arsenal de habilidades de Mario Lemieux surpreendeu a todos, ficando conhecido como "Super Mario" e "Le Magnifique". O maior artilheiro da história da NHL, Wayne Gretzky, é simplesmente conhecido como "The Great One".

Porém, o apelido mais significativo pertence ao homem que foi ídolo de Gretzky, quando este ainda sonhava em ser uma estrela. Estou falando de "Mr. Hockey", Gordie Howe.

Nascido no dia 31 de março de 1928, Howe deixou uma marca indelével na NHL antes de se aposentar, com 52 anos. A incorporação do termo "power forward" ainda não era usada para definir jogadores, mas ele foi um bom patinador que menosprezava a velocidade.

Era um gigante, em ambos os sentidos, literal e figurado, já que em sua época não eram comuns jogadores de tamanho porte físico, assim como ele, que media 1,82m e pesava 93 Kg. Ao contrário dos atletas de hoje que atuam pensando somente em si mesmos, Howe foi um exemplo, reconhecendo o significado de defesa e jogo em equipe.

Nativo de Floral, Saskatchewan, Canadá, esteve no hóquei durante cinco décadas e 32 temporadas como profissional (1946-71; 73-80). Neste período, Howe estabeleceu todos os recordes, batendo com méritos as marcas anteriores de jogos disputados (1767), gols (802), assistências (1049) e pontos (1850). Embora Gretzky tenha esmagado a maioria, Howe ainda detém o recorde de jogos e temporadas disputadas (26) e de mais temporadas integrante de Equipes All-Star (21, incluindo 12 participações no Primeiro Time).

Em toda a sua carreira como profissional, incluindo playoffs, Howe teve 2421 fenomenais jogos, 1071 gols, 1518 assistências e 2589 pontos.

Indiferentemente, sua carreira quase terminou após apenas quatro anos, quando Howe fraturou o crânio em um jogo de playoffs contra o Toronto Maple Leafs. Ele perseguia Ted Kennedy com a intenção de atingi-lo com os patins. Diante disso, o central integrante do Salão da Fama tomou a precaução de parar, enquanto Howe, impossibilitado de deter o momento, chocou a cabeça nas bordas.

Após passar por uma operação para aliviar a tensão em seu cérebro, Howe retornou ao hóquei com um tique-nervoso e recebeu um apelido de menor prestígio, "Blinky".

O incidente poderia ter provocado uma fatalidade, mas não deixou de ser implacável, prejudicando o jogador em alguns aspectos do jogo. Notoriamente corajoso, em uma idade na qual suas características descreviam seu modo de jogar, Howe recebeu os apelidos "Mr. Elbows" e "Power", de seus adversários e companheiros de equipe, respectivamente. Uma estatística moderna que bem elucida sua metodologia é o "Gordie Howe Hat Trick". Tal distinção é dada ao jogador que em um único jogo marca um gol, uma assistência e participa de uma briga.

A épica carreira de Howe teve início no Detroit Red Wings, em 1946, mas poderia facilmente ter começado três anos mais cedo, com o New York Rangers. Os "Blue Shirts" convidaram o ala-direita (com 15 anos na época) para os treinamentos da equipe em Winnipeg, mas o jogador não agradou, por ser muito magro. Ele recusou uma bolsa de estudos do Notre Dame College, em Saskatchewan.

Um ano depois ele assistiu os treinamentos dos Red Wings, após passar uma temporada em cada franquia júnior, Saskatoon e Galt, e ainda no Omaha, da Liga de Hóquei dos Estados Unidos.

Howe marcou seu primeiro gol em 16 de outubro de 1946. Seguiram-se 26 temporadas na NHL até pendurar os patins em 1980. Em sua galeria de troféus constam seis troféus Hart, como o MVP, meia-dúzia de vezes artilheiro da liga e quatro Stanley Cups (1950, 52, 54 e 55).

Howe compartilha muito de seu sucesso com as estrelas que jogaram ao seu lado. Logo no início de carreira estava na "Production Line", com Ted Lindsay e Sid Abel, sendo que ambos entrariam para o Hall da Fama mais tarde. Em seguida, Howe se juntou a outra dupla presente no Hall da Fama, Alex Delvecchio e Frank Mahovlich. Para finalizar, atuou ao lado de Bobby Hull no Hartford Whalers por nove jogos, durante a última temporada de ambos.

Era uma unidade familiar, porém, significou tudo para Howe. Tendo ficado tanto tempo atuando (o que lhe gerou outro apelido, "Gramps"), Howe realizou um feito que os pais e filhos apenas podem sonhar. Gordie, e seus filhos Mark e Marty, não somente jogaram no mesmo time profissional (Houston Aeros), como também conquistaram por duas vezes a Avco Cup, da Associação Mundial de Hóquei.

A oportunidade parecia distante quando Gordie se aposentou, pela primeira vez, em 1971. Todavia, após passar dois miseráveis anos em um papel insignificante no escritório dos Red Wings, Howe entrou para os Aeros quando o treinador Bill Dineen lhe perguntou se daria uma nova chance ao hóquei.

Em 1977, o trio se mudou para New England (futuramente Hartford e agora Carolina) e ajudou a legitimar a franquia e a WHA. A presença de Howe solidificou a WHA, influenciando na campanha de fusão à NHL em 1979-80.

Howe terminou sua carreira participando de um jogo All-Star em 1980, em uma temporada na qual apareceu em todos os 80 jogos dos Whalers, durante a temporada regular, um feito inimaginável para a maioria, já que estava com 52 anos.

Introduzido no Salão da Fama em 1972, quebrou recordes que poderiam manchar sua carreira. Porém, Gordie exemplificou a verdadeira definição de um jogador de hóquei: um competidor de primeira, trabalhador industrioso, líder destemido e orgulhoso por representar as organizações e cidades pelas quais passou. Após tudo isso, esquecemos de suas estatísticas, mas estes atributos serão eternos, repassados de geração em geração.

Gordie Howe é hóquei.