Por
Alexandre Giesbrecht
Ainda há esperança.
A média de gols por jogo da NHL cai a olhos vistos – na
última semana, não alcançou nem míseros
cinco gols por jogo –, os artilheiros da liga têm menos
gols a cada ano que passa e as grandes estrelas da época em que
placares como 7-5 eram comuns vão se aposentando. Mas dois jovens
jogadores dão algum alento, uma demonstração de
que o futuro, ao invés de negro, poderá ser vermelho.
Vermelho como a luz que assinala os gols marcados.
Rick Nash, do Columbus, e Ilya Kovalchuk, do Atlanta, lideravam a liga
em gols marcados, respectivamente com 19 e 18. Logo atrás, aparecia
Pavel Datsyuk, do Detroit, não exatamente um veterano aos 25
anos. Mas Nash e Kovalchuk ainda não podem sequer comprar bebida
alcoólica legalmente nos Estados Unidos: Nash tem 19 anos; Kovalchuk,
20.
Eles também têm em comum o fato de serem ambos primeiras
escolhas do recrutamento. O cada vez mais astro do Atlanta foi escolhido
em 2001, enquanto Nash esteve na capa de nossa edição
sobre o recrutamento de 2002, quando foi surpreendentemente o primeiro
escolhido – todos esperavam que o zagueiro Jason Bouwmeester,
que acabou sendo o terceiro, fosse recrutado em primeiro lugar.
Com todo esse pedigree, se terminarem a temporada nos dois primeiros
lugares na lista de goleadores, eles serão a dupla artilheira
com a menor média de idade em todos os tempos, com 20 (até
lá, Nash já terá comemorado mais um aniversário).
O recorde atual foi atingido em 1987-88, quando Mario Lemieux, dos Penguins,
marcou 70 gols aos 23 anos e Craig Simpson, que começou a temporada
nos mesmos Penguins, mas foi trocado ainda em outubro para os Oilers
de Wayne Gretzky, ficou em segundo, com 56, aos 21 anos. Por duas vezes,
a média de idade foi de 23 anos. Em 1981-82, os extraordinários
92 gols de Gretzky vieram aos 21 anos; Mike Bossy, aos 25, ficou em
segundo, com 64 tentos. Em 1992-93, Teemu Selanne, então com
22 anos, e Alexander Mogilny, então com 24, marcaram 76 gols
cada.
Embora Kovalchuk tenha tido um início ainda mais incrível,
com um ritmo que a certo ponto da temporada o levaria aos cem gols,
ele acalmou um pouco, e já está há cinco jogos
sem marcar. Mesmo que não alcance os 92 gols de Gretzky, ele
ainda tem tudo para conseguir números animadores nesta temporada.
Mais que isso, até. Tanto ele quanto Nash têm condições
de alcançar a marca de 50 gols. Apenas três jogadores já
conseguiram chegar aos 50 antes de completar 21 anos: Pierre Larouche,
Jimmy Carson e, claro, Gretzky.
Mas, mesmo que cheguem, vamos dizer, apenas aos 40, eles já terão
conseguido igualar o feito de seus predecessores. Com hat tricks cada
vez mais raros, o que eles conseguiram aqui seria impressionante ainda
que eles fossem seis anos mais velhos.
O que também traz esperança é o fato de cada um
ter o seu estilo. Nash é o chamado power forward, o atacante
que vai com tudo para cima da defesa adversária, abrindo espaços
com seu tamanho, um aspecto valioso nesses tempos de agarra-agarra.
Alguns o comparam ao John LeClair de dez anos atrás, mas com
mais talento para enfrentar jogadores um contra um, além de um
arsenal de chutes bem mais variado. Ele está liberado pela comissão
técnica para tentar qualquer tipo de jogada, por mais extravagante
que possa parecer, desde a temporada passada.
Já Kovalchuk é todo explosão. Ele é rápido,
sua patinação é impecável e, na frente do
gol, seu instinto assassino dificilmente o deixa na mão. Mesmo
em sua tenra idade, ele tem a plena confiança do técnico
Bob Hartley, que o deixa constantemente no gelo durante vantagens numéricas,
a ponto de liderar a liga nesse quesito, com 232 minutos, mais de meia
hora à frente do segundo colocado – Nash também
não vai mal nesse quesito, detendo o 25.º lugar na liga,
à frente de jogadores consagrados como Doug Weight e Chris Pronger.
O único grande problema de Kovalchuk era a sua atuação
na defesa. O pessoal do Atlanta teve de ensiná-lo a defender,
começando praticamente da estaca zero. Embora ainda não
seja nenhuma ameaça para conquistar a Troféu Selke, dado
ao melhor atacante defensivo da liga, ele já aparece no gelo
até em situações de desvantagem numérica.
É possível que eles não consigam repetir as grandes
atuações do início de temporada com freqüência
até abril, mas a cada ano que passa as alegrias que eles darão
às suas torcidas só devem aumentar. E também deverá
aumentar o medo que as torcidas adversárias terão de enfrentar
Thrashers e Blue Jackets.
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Alexandre
Giesbrecht, publicitário, depois de quase oito anos
ainda não conseguiu descobrir quem toca os maravilhosos
solos de guitarra que serviam como fundo para os lances apresentados
pelo NHL 2Night na temporada de 1995-96. |
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EXTRAVASANDO Kovalchuk comemora,
o adversário (Ian Moran, do Boston) chora (Tami Chappell/Reuters
- 19/11/2003) |
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ABRINDO ESPAÇOS Nash,
fazendo o que faz melhor (Larry MacDougal/CP - 29/03/2003) |
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