Por
Marcelo Constantino
E então, o time que todos no Oeste apontavam como aquele que ninguém
queria confrontar no começo chegou à final de conferência. O Canadá
terá ao menos um representante! O Calgary Flames já havia eliminado
o Vancouver Canucks em sete partidas, numa série em que os jogos 6 e
7 foram épicos. Agora, nas semifinais, eliminou o favorito Detroit Red
Wings em seis. Alguém ainda duvida deste time?
Jamais. Antes da série contra os Wings muitos diziam que, para parar
o ataque do time, era necessário conter Jarome Iginla. E lá se foi toda
aquela portentosa defesa dos Red Wings fazer de tudo para parar a estrela
adversária. Até que conseguiram na maior parte do tempo. Mas craque
que é craque sempre encontra espaço e Iginla encontrou alguns desses
espaços para marcar um gol e para dar passes para outros.
Já que a estrela exigia a atenção constante dos adversários, veio a
demonstração de que o ataque dos Flames não se resume a Iginla. Tanto
que o autor do gol que classificou o time à final de conferência foi
Martin Gelinas, o mesmo que havia marcado o gol da classificação do
time sobre os Canucks.
Você consegue imaginar o que passa pela cabeça de um jogador já experiente,
de 33 anos de idade, que marca por duas vezes os gols mais importantes
do seu time em duas semanas, gols na prorrogação, gols que deram a classificação
ao time? Agora somem a isso o fato de que foi o mesmo Gelinas que marcou
o gol da vitória do Carolina Hurricanes na final da Conferência Leste
dois anos atrás, contra o Toronto Maple Leafs. O cara é o primeiro jogador
na história da NHL a matar três séries com gols na prorrogação!
Muito também se fala das semelhanças dos Flames deste ano com os Mighty
Ducks de 2003. De fato, são várias, mas com diferenças. Ambos são azarões
em que poucos apostavam. Mas nos Ducks NINGUÉM apostava, os Flames já
tinham entusiastas desde o começo dos playoffs. Miikka Kiprusoff tem
sido sensacional, mas não chega ao sobrenatural que Jean-Sébastien Giguere
atingiu no ano passado.
O que é idêntico é a forma com que ambos os times vencem os jogos. Todas
as partidas em que os Flames venceram os Wings foram por diferença de
um gol. Aliás, com exceção de um 4-0 no jogo 4 contra os Canucks, todas
as demais vitórias dos Flames foram assim. Time que tem a sabedoria
de vencer jogos apertados, com diferença de um gol, que vence partidas
na prorrogação é time com carimbo de corrida séria pela Copa Stanley.
Os Ducks seguiram assim até o jogo 7 da final no ano passado.
Mas não apenas isso. O Calgary Flames é daqueles times que começam um
jogo de uma forma e terminam exatamente da mesma forma. Brigando, batalhando,
correndo atrás. Não há disco perdido, não há partida perdida, desistir
não faz parte do vocabulário do time. Todos na liga reconhecem que eles
são o time mais batalhador dentre os quatro que restaram.
Este é um time que esteve a perigo de sequer chegar aos playoffs um
mês atrás. Este é um time que deveria estar contente apenas por chegar
aos playoffs depois de tanto tempo, um time que não deveria ter maiores
aspirações na pós-temporada. Nada de fazer frente aos campeões da Divisão
Noroeste.
Mas não, eles vão superando todos os que supostamente seriam superiores.
Pela primeira vez em sua história de playoffs, os Flames conseguiram
shutouts consecutivos. E isso contra um ataque que era considerado o
melhor da liga, ao lado dos Senators. O ataque do time que venceu o
Troféu dos Presidentes.
Claro que não foi fácil derrotar um time como os Red Wings. Mas, verdade
seja dita, não foi tão difícil assim. Pra começar, foi menos difícil
do que passar pelos Canucks na fase anterior. Aquela série custara sete
jogos, prorrogações vencidas pelo adversário e um número consideravelmente
maior de gols sofridos. Os Wings marcaram inclusive mais gols que os
Flames na série, graças ao jogo-exceção da série, o jogo 2. A chave
do Calgary é o espírito com que encaram cada partida.
A defesa deste time não tem jogadores com muita experiência. Seus principais
defensores -- Robyn Regehr, Rhett Warrener, Jordan Leopold, e Andrew
Ference -- não têm sequer 30 anos de idade ainda. No gol, Kiprusoff
tem 27 anos e era reserva de Nabokov nos Sharks até esta temporada.
Não sofre gols há 150 minutos.
É trabalho para seu ex-time, que agora terá de quebrar essa seqüência,
na primeira final de conferência do Calgary em 15 anos. E na primeira
final de conferência da história do San Jose.
Um ataque liderado por um jogador que, com a incógnita quanto ao futuro
de Todd Bertuzzi, é tido como o melhor power forward da liga
no momento, rodeado de coadjuvantes daqueles que ninguém dá muito por
eles, mas que nunca se apagam. Uma defesa de jovens guerreiros com pouca
experiência e um goleiro quente e sólido. Um time guerreiro que nunca
desiste. Os Flames merecem estar aqui. E merecem até mais.
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Marcelo
Constantino torce pelo sucesso do representante único
dos canadenses nas finais de conferência. |
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SOLIDEZ NO GOL Miikka Kiprusoff
traz tranqüilidade e segurança ao gol dos Flames (Ryan
Remiorz/AP - 03/05/2004) |
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O PENÚLTIMO PASSO Craig
Conroy dispara para marcar o gol da vitória no jogo 5. Com
Jarome Iginla sendo vigiado constantemente pelos defensores dos
Red Wings, sobrou espaço para ele e Martin Gelinas aparecerem
nos momentos decisivos da série (Ryan Remiorz/AP - 01/05/2004) |
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