Por
Alexandre Giesbrecht
Enquanto era debatido nos círculos da NHL se o Washington realmente
usaria a primeira escolha geral para recrutar Alexander Ovechkin, tanto
a diretoria dos Capitals como a dos Penguins estavam tranqüilas.
A dos Capitals, por motivos óbvios: iria escolher o jogador que
quisesse — ou, na pior das hipóteses trocar a escolha por
algum pacote não apenas irrecusável, mas também
estúpido, por parte de outro time. A dos Penguins também
não tinha do reclamar, já que, se não ficasse com
Ovechkin, veria cair em suas mãos outra gema, ainda que não
do mesmo quilate, Evgenii Malkin. E foi, de fato, o que aconteceu.
E o resto dos times? Bem, alguns estavam mais felizes que outros.
Os Blackhawks tinham tudo para estar radiantes com a terceira posição,
mais quatro escolhas na segunda rodada (sendo que a mais baixa era a
de número 54), mas é impossível que não
tenha ficado um gosto amargo na boca depois que o Washington ganhou
o sorteio e ultrapassou Pens e Hawks na ordem da primeira rodada. Para
piorar ainda mais a situação, ao contrário dos
dois últimos anos, havia um consenso claro das duas primeiras
escolhas, só que estes jogadores (Ovechkin e Malkin) estavam
num patamar muito acima dos demais. Ou seja, para o Chicago, cair uma
posição não era muito diferente de cair quatro
ou cinco. É bom que o escolhido, o defensor Cam Barker, consiga
fazer a torcida esquecer dessa situação em alguns anos.
Quem também devia estar feliz era a diretoria dos Coyotes, com
a quinta escolha e mais duas entre as 50 primeiras. Mas eles surpreenderam
a todos escolhendo o ponta direita Blake Wheeler, cuja previsão
era de ser recrutado na segunda rodada, no máximo. Muitos apostavam
que o goleiro norte-americano Al Montoya seria o escolhido do time de
Phoenix, mas ele acabou indo parar em Nova York, com a camisa dos Rangers.
Os Rangers, aliás, também estavam felicíssimos.
Conseguiram o jogador que realmente queriam com a sexta escolha, depois
de passar dois meses imaginando que iriam perdê-lo para os Coyotes.
E a festa continuou ainda com escolhas altas: usaram o cacife de seis
escolhas na segunda rodada para arrematar mais uma na primeira, a 19.ª,
com que escolheram o ponta esquerda finlandês Lauri Korpikoski,
e ainda ficaram com quatro escolhas na segunda rodada. Curiosamente,
selecionaram três centrais com elas.
Já os Wings não tiveram muito a comemorar. O recrutamento
provavelmente não rendeu muita ajuda. A primeira escolha do time
foi a 97.ª no geral — a penúltima escolha do sábado,
quando foram realizadas as três primeiras rodadas —, que
rendeu o central sueco Johan Franzen, que provavelmente passará
boa parte da carreira na terceira ou quarta linha. Foi a sexta vez em
oito anos que o time não teve uma escolha na primeira rodada,
resultado de trocas que trouxeram estrelas para Detroit.
Ao menos, com o sucesso dos últimos anos, não há
muito do que reclamar; outros times estavam em situação
parecida e não tiveram nem sombra do sucesso dos Red Wings. Leafs
e Flyers, por exemplo. Time de Toronto foi recrutar o primeiro jogador
com a 90.ª escolha geral (o goleiro Justin Pogge), enquanto o da
Filadélfia ainda teve de esperar a escolha do Vancouver para
selecionar o ponta direita Rob Bellamy na 92.ª posição.
Por falar nos Canucks, eles foram outro time de pouco sucesso recente
a merecer uma menção honrosa por aqui: Depois de selecionar
o goleiro Corey Schneider na 26.ª posição geral (mais
um claro sinal de que os dias de Dan Cloutier na Costa Oeste canadense
estão contados), a próxima escolha foi justamente aquela
entre Leafs e Flyers, que rendeu o defensor Alexander Edler.
Enquanto isso, os Capitals faziam a festa nas primeiras rodadas, algo
que já tinham feito em 2002, quando detinham as três primeiras
escolhas dos mesmos Flyers, recebidas na troca que levou Adam Oates
para a Filadélfia (onde ele jogou pouco mais de um mês).
Além de Ovechkin, os defensores Jeff Schultz e Mike Green foram
selecionados na primeira rodada, respectivamente na 27.ª e 29.ª
posições. Pouco depois, na 33.ª posição,
já na segunda rodada, ainda veio o central Christopher Bourque
e, mais adiante na mesma rodada, mas 29 posições depois,
o também central Michail Yunkov.
À parte das duas primeiras escolhas, alardeadas já desde
o início da temporada de 2003-04, a classe de 2004 era considerada
fraca, por isso alguns times se deram ao luxo de arriscar com palpites
dos olheiros. Então, jogadores que teoricamente seriam escolhidos
nas últimas rodadas acabaram subindo algumas dezenas de posições,
como foi o caso do já citado Wheeler, que vai para Phoenix. Com
isso, jogadores que deveriam ser escolhidos antes, acabaram caindo algumas
posições. Foi o caso, por exemplo, do ponta esquerda finlandês
Lauri Tukonen, que foi recrutado pelos Kings na 11.ª posição,
mas, até a semana passada, era tido com o quarto ou quinto melhor
prospecto disponível.
Outra coisa estranha deste recrutamento foi o fato de ter havido poucas
trocas envolvendo jogadores já estabelecidos. Radek Bonk e seu
salário de mais de US$ 3 milhões passou a valer uma mera
escolha de terceira rodada, e ele foi dos Senators para os Kings. Mal
teve tempo de ser comunicado do fato, já tinha um novo destino,
Montreal, que o adquiriu basicamente por mais uma escolha de terceira
rodada — os goleiros Cristobal Huet e Mathieu Garon também
mudaram de time nessa mesma troca.
Os Senators continuaram a se livrar de jogadores que não conseguiram
levá-los ao título, e o goleiro Patrick Lalime foi a próxima
vítima, indo para os Blues no domingo, em troca de uma escolha
de quarta rodada em 2005. Também trocaram de time Niclas Havelid,
agora em Atlanta, e Kurtis Foster, agora em Anaheim, enquanto Stephane
Quintal foi para Los Angeles, garantindo ao Montreal as famosas considerações
futuras.
Então o recrutamento deste ano concentrou-se no que ele representa:
o futuro da NHL. Mas, com a incerteza em relação à
próxima temporada, ninguém sabe quando os jogadores recrutados
no último fim de semana irão disputar sua primeira partida
pela principal liga de hóquei no gelo do mundo.
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Alexandre
Giesbrecht, publicitário, acabou de adquirir a primeira
temporada de Arquivo X, que vai aproveitar para devorar nas
suas férias. |
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PRIMEIRA GEMA Alexandre Ovechkin
era o favorito para ser escolhido em primeiro lugar, e os Capitals
não perderam a oportunidade para agarrar aquele que pode
ser a pedra fundamental na reconstrução da franquia
(Tami Chappell/Reuters - 26/06/2004) |
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SEGUNDA GEMA Depois de Evgenii
Malkin, recrutado pelos Penguins com a segunda escolha no geral,
o nível caiu um pouco: os dois estavam num patamar acima
dos demais (Karl DeBlaker/AP - 26/06/2004) |
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