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17 de janeiro de 2003
De estrangeiro desacreditado a MVP

Por Alessander Laurentino

Em 30 de Julho de 1973, em Ornskoldsvik, uma pequena cidade do interior da Suécia, provavelmente ninguém imaginava que nasceria naquele dia e naquele lugar uma das maiores estrelas do hóquei atual. Markus Naslund, o sueco capitão, líder e artilheiro do Vancouver Canucks.

Naslund chegou à NHL através do Pittsburgh Penguins, que o selecionou na primeira rodada do recrutamento de 1993 e enfrentou algumas dificuldades, tendo atingido resultados abaixo do esperado nas duas primeiras temporadas como profissional do time. Por ironia, no ano que ele parecia despontar como o futuro artilheiro que se tornou, o Penguins acabou trocando-o, fazendo com que ele fosse parar no desacreditado Vancouver Canucks. Certamente o pessoal do time de super Mario deve se arrepender até hoje por ter perdido Naslund tão de graça, ou alguém sabe dizer onde anda Alek Stojanov?

Ao chegar no Vancouver, Naslund encontrou um time desacreditado, desarrumado e repleto de intrigas, individualismo e estrelismos. Na época, o principal desagregador do time se chamava Pavel Bure, o foguete russo, que apesar do enorme talento é um narcisista nato.
Naslund sempre foi um jogador considerado calado, que evita confusões, discreto e que na época passava claramente despercebido no time, até porque com as confusões criadas por Bure, a apatia de Alexander Mogilny, a liderança de Trevor Linden e o passado de Mark Messier, Naslund não era então um atrativo para a imprensa.

Durante o chamado "reinado do terror" de Mike Keenan nos Canucks, vários jogadores foram trocados, e por muito pouco Keenan não conseguiu mandar embora também o futuro capitão Naslund.

Após sobreviver a todos estes problemas e a uma intensa reformulação orquestrada pelo novo gerente geral, Brian Burke, Naslund seguiu aprimorando sua técnica e seu físico, ao mesmo tempo em que sua maturidade como homem e jogador cresciam, sua produtividade saltava a olhos vistos e Naslund se tornava um homem de família.

Após a saída de Messier, o time necessitava de um novo capitão e muitos questionaram a decisão de Naslund ter sido o escolhido do time para a temporada 2000-01, principalmente devido ao seu temperamento calmo e ser pouco falante. Mais uma vez, Naslund enfrentava as críticas e as dúvidas sobre suas qualidades e novamente ele calou todos os seus críticos.

De um jovem jogador estrangeiro e desconhecido num time campeão como eram os Penguins na época, Naslund transformou-se no decorrer de 10 anos em um dos melhores jogadores atualmente e em toda a história da liga. Certamente as estatísticas ainda não falam muito, afinal, Naslund ainda não completou seu ponto de número 500 — e talvez já o tenha feito no momento em que você leitor estiver vendo esta matéria —, mas ninguém que veja o capitão dos Canucks jogar pode negar sua imensa habilidade e talento em comandar o time dentro do gelo e de fazer gols.

Quando Naslund sofreu uma fratura na perna no final da temporada de 2000-01, faltando poucos jogos para terminar a temporada regular e após ter batido seu recorde gols na época, muitos falaram que ele jamais voltaria a ser o mesmo, que a fratura em dois locais na perna enterraria sua carreira e que, mesmo voltando, ele jamais teria a velocidade que tinha.

Naslund provou o contrário e não apenas voltou ao hóquei como voltou melhor do que era antes. Em 2001-02, marcou 40 gols e fez 50 assistências, num total de 90 pontos em 81 jogos, ficando entre os primeiros na tabela de artilharia de toda a liga.

Ao contrário de antigas estrelas como Bure, Naslund é o tipo de jogador que se dedica ao time, sempre colocando o coletivo à frente do pessoal. Ele não tem obsessão em ser o artilheiro, em ser o mais bem pago ou ser a capa da revista nem do jornal devido aos seus gols. Segundo ele mesmo disse, "Um jogador é julgado pelo número de Copas Stanley e títulos que ele consegue, e isso é uma coisa que eu adoraria fazer parte [vencer uma Stanley]". Para Naslund, não importa que tenha marcado 31 gols e 56 pontos em apenas 43 jogos nesta temporada, o que importa é que seu time está entre os primeiros e está no passo de atingir 110 pontos ao final da temporada regular. Isso sim motiva o capitão.

Devido aos últimos resultados de Naslund, alguns já o apontam como um sério candidato para vencer a disputa de MVP da temporada. Claro que Mario Lemieux faz milagres em Pittsburgh, mas quem mais você encontra na liga?

Scott Lachance, ex-Canuck, atualmente jogando no Columbus Blue Jackets, disse recentemente que Naslund foi quem segurou as pontas quando o time começou mal a temporada passada, e que sua liderança e constância no vestiário, nos treinamentos e dentro do gelo, foram fundamentais para o time se manter unido.

Ao ser perguntado se ele gostaria de ser tão bajulado em sua cidade natal como são Peter Forsberg e Mats Sundin, seus conterrâneos, Naslund respondeu: "Eles têm jogado bem na seleção nacional, venceram campeonatos e ganharam o Ouro olímpico, e é assim que você se torna um herói em casa. Eu ainda não tive o luxo de vencer coisa alguma. Já fui segundo em algumas ocasiões. Os fãs lá na Suécia acompanham mais a seleção nacional do que acompanham a NHL".

Naslund está cumprindo o primeiro ano de seu novo contrato que lhe pagará 15 milhões de dólares em 3 anos. Ele preferiu receber menos para permanecer em Vancouver e tentar ser campeão com os Canucks a ganhar o dinheiro fácil de times como Red Wings ou Rangers. Se ele conseguirá erguer a taça ao final dos playoffs, ninguém pode confirmar ou negar, mas que seria uma data inesquecível para o hóquei, com certeza seria, afinal, não é todo dia que se vai de estrangeiro desacreditado a MVP campeão da Stanley.

Alessander Laurentino é fã incondicional de Markus Naslund e não acredita que um dia já apertou sua mão.
ELE VALE UM STOJANOV? Hoje capitão dos Canucks, Marks Naslund um dia saiu dos Penguins em troca de um tal Alek Stojanov (Canadian Press)
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Página publicada em 15 de janeiro de 2003.