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17 de janeiro de 2003
Tributo a Darren McCarty

Por Marcelo Constantino

Quando o Detroit Red Wings foi eliminado pelo Colorado Avalanche nas finais de conferência de 1996, Claude Lemieux disse o seguinte à imprensa: "Eu penso que os Wings deveriam estar furiosos pelo jeito que eles vêm jogando nos últimos anos, não por causa daquele tranco (aquele famoso que ele deu em Kris Draper no jogo 5 da série)". Sábias palavras do escroque.

Assim fez a gerência do time de Detroit, embora, claro, não fosse deixar passar em branco a atitude deselegante, para dizer o mínimo, de um jogador que deu um tranco por trás em um colega durante uma partida, viu seu maxilar ser dilacerado e jamais deu qualquer demonstração de ao menos lamentar o ocorrido.

Período entre-temporadas é hora de refletir e avaliar. Em linhas gerais, a conclusão da gerência dos Wings era de que o time era extremamente habilidoso — e a temporada recordista de vitórias, os Cinco Russos etc. provavam isso —, mas carecia principalmente de força física para encarar os playoffs. "Jogadores como Martin Lapointe e Darren McCarty precisam ter mais tempo de jogo", disse um dos membros da gerência.

Assim foi feito para a temporada de 1996-97.

A nova filosofia ficou nítida não só no aumento do tempo de jogo daqueles jogadores, mas também na contratação de Brendan Shanahan e Joey Kocur, no maior papel concedido aos novatos Jamie Pushor, Aaron Ward e Tomas Holmstrom e também na troca de Greg Johnson por Tomas Sandstrom. Tudo na mesma direção: mais força física.

Naquela temporada, Darren McCarty despontou como um atacante que podia brigar, distribuir trancos a granel e ainda balançar as redes adversárias. Seus 19 gols (inclusive seis gols da vitória) e 49 pontos não foram superados nas temporadas seguintes.

Foi a melhor temporada da vida de McCarty, que o credenciou a ser ídolo em Detroit até hoje. Provavelmente para sempre. Os motivos podem ser resumidos em três pontos:

1) Foi ele que esmurrou a cara de Claude Lemieux no inesquecível blood bath contra o Colorado, de 26 de março de 1997. Uma vingança prometida desde os playoffs anteriores.

2) Foi ele que, não tendo sido expulso, marcou o gol da vitória naquele mesmo jogo, na prorrogação, com placar final de 6-5. "Se este jogo representa alguma coisa para o Detroit Red Wings, eles têm de esvaziar seu banco para Darren McCarty", disse o comentarista da ESPN logo após o gol da vitória. Sofrer o gol da vitória do mesmo jogador que socou a cara de um dos seus mais importantes jogadores e depois de jamais ter estado atrás no placar foi demais para os Avs. É certo que foi decisivo para o reencontro entre os times mais tarde, novamente na final de conferência.

3) Foi ele que marcou o gol do título da Stanley Cup, de beleza insuperável desde então. É inesquecível Gary Thorne narrando o gol ("...Niinimaa in front of him... McCarty cross, McCarty in, McCarty scoooooores! A magnificent goal; Darren McCarty!"). E Bill Clement comentando de forma exagerada ("Can you believe this goal by Darren McCarty? 'Move over, Mario, here I come!'").

Diga, você não sonharia com um heroísmo tríplice destes quando pequeno? Se este fosse um personagem de filme de Hollywood beiraria o inverossímil. Imaginem a sinopse: "Jogador querido pelos colegas, mas pouco popular na liga, esmurra maior inimigo do time em partida sangrenta e marca o gol da virada na prorrogação. Na partida decisiva do título, marca o gol da vitória de forma espetacular". Digno dos exageros do cinemão americano. Mas foi real.

Naquele ano e no seguinte, McCarty atuou ao lado de Steve Yzerman na maior parte dos playoffs. Em 1997 teve Sandstrom do lado esquerdo; em 1998, Brent Gilchrist e Tomas Holmstrom alternaram-se na posição.

De 1998 em diante, Scotty Bowman fez McCarty melhorar seu jogo defensivo. Ele aprendeu, passou a integrar linhas de desvantagem numérica, tendo, inclusive, marcado um gol nesta situação. A busca por ser um jogador mais completo acabou, entretanto, fazendo sua produção declinar, como geralmente ocorre com qualquer jogador que busca aperfeiçoar seu jogo defensivo.

E isso foi jogado na mesa durante as negociações para a complicada renovação de seu contrato, em 1999. "Isso me dói", dizia o jogador. "Eles dizem para você jogar melhor defensivamente, para jogar para o grupo, e você faz isso. Na hora de negociar, eles vêm com uma tabela mostrando a sua produção ofensiva". Felizmente, tudo se resolveu pouco depois do começo da temporada.

Desde aquele ano atuando principalmente na famosa grind line, não é sempre que McCarty produz o mínimo esperado. Tem sofrido críticas crescentes e, durante a temporada passada, elas vieram com mais força ainda. Contusões constantes e a produção ofensiva cada vez menor estavam suplantando o bom trabalho defensivo daquele que era o único no time que fazia o trabalho essencialmente físico no gelo.

A excelente performance da grind line nos playoffs e um hat-trick — o primeiro de sua carreira — contra os Avs no jogo 1 da final da Conferência Oeste estancaram as críticas.

Felizmente nesta temporada o Big Mc de Detroit está numa ótima fase. Já ultrapassou o número de gols e pontos da temporada passada e poderá chegar a uma pontuação que não tem desde 1998-1999.

Devido à sua liderança e empatia com o público em geral, torcida e imprensa, é possível que um dia ainda vejamos Darren McCarty com o C de capitão na camisa dos Red Wings. Por um jogo, que seja.

Marcelo Constantino recomenda a todos a visita à página LetsGoWings, onde poderão baixar vídeos com todos os citados grandes momentos de Darren McCarty.
O VINGADOR Esta é a posição "tartaruga" que Claude Lemieux imortalizou, ao ser esmurrado por McCarty no Blood bath (Arquivo The Slot BR - 26/03/1997)
 
HISTÓRIA Darren McCarty comemorando o bélíssimo gol da conquista da Stanley Cup de 1997 (Nico Toutenhoofd/Detroit Free Press)
 
EXPLOSÃO Assim foi a comemoração depois do hat trick natural, na primeira partida contra os Avs nos últimos playoffs (Daniel Mears/The Detroit News - 02/05/2002)
 
FICHA

Darren McCarty
Nascido: 1/abril/1972
Local: Burnaby, BC, Canadá
Altura: 1,85 m
Peso: 97 kg
Recrutado: 2.ª rodada, 46.º no geral (1992)
Ídolo de adolescência: Rich Tocchet

CARREIRA
  J G A P Min
93-94 DET 67 9 17 26 181
94-95 DET 31 5 8 13 88
95-96 DET 63 15 14 29 158
96-97 DET 68 19 30 49 126
97-98 DET 71 15 22 37 157
98-99 DET 69 14 26 40 108
99-00 DET 24 6 6 12 48
00-01 DET 72 12 10 22 123
01-02 DET 62 5 7 12 98
02-03 DET 44 8 5 13 85
TOTAL 571 108 145 253 1172
 
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Página publicada em 8 de janeiro de 2003.