JOGO 3
Edmonton 2-1 Carolina

GARRA
Foi com garra que os Oilers venceram o jogo 3. E foi com garra que Ryan Smyth marcou este gol, que valeu a vitória (AP/Elsa - 10/06/2006)
por Scott Burnside

Aperte, aperte, aperte. E, um pouquinho antes de ouvir o último suspiro dos vencidos, assim que se vir o joelho encostando no tatame, espere um instante. Esta é a fórmula do Edmonton Oilers nos playoffs.

Não estão mortos ainda. Quase mortos, talvez. Mas não ainda.

Claro, havia algumas pessoas entre a delirantemente passional torcida que lotou o Rexall Place ontem à noite que se perguntaram se estariam prestes a ver o time que não se quebra nunca fazer justamente isso tão perto do fim do jogo 3. Talvez até entre o pessoal no banco dos Oilers.

Depois de não conseguir acabar com o Carolina Hurricanes, deixando de converter uma vantagem de dois homens no primeiro período, deixando de marcar em algumas chances claras, o capitão dos Hurricanes, Rod Brind'Amour mandou um chute de pulso por sobre o ombro de Jussi Markkanen, empatando a partida em 1-1 na metade do terceiro período.

E, por um instante, todos no estádio podiam imaginar o que estava por acontecer: um repentino "abafa" do Carolina, mais uma vitória dos Canes de virada e, praticamente, o fim dos sonhos de Copa Stanley dos Oilers.

Já tinha acontecido no jogo 1, quando os Oilers não conseguiram conter os Hurricanes depois de abrir 3-0. Aconteceu de novo no jogo 2, quando os Canes abriram um jogo parelho ao marcar três gols em 4:15 entre o fim do segundo e o início do terceiro períodos.

Aperte, aperte, aperte.

Então, com o tempo normal chegando ao fim, lá estava Ryan Smyth, ausente da lista de pontuadores das finais, abrindo seu próprio caminho à frente das redes do Carolina, com o disco de açguma maneira deslizando por cima da linha.

"Típico gol de Ryan Smyth", observou o técnico do Edmonton, Craig MacTavish. "Para nós, não poderia ter sido mais bonito."

Esta é a alegria dos playoffs neste ano. A linha entre apertar e quebrar é finíssima. A linha entre a esperança e o vazio, é tão fina quanto.

Quando aquele disco achou o caminho do gol — ilegalmente, se você acreditar nos jogadores dos Hurricanes que acham que Smyth interferiu com o goleiro Cam Ward —, isso marcou o início de algo parecido com esperança para os Oilers.

Uma derrota teria sido impensável.

"Isto foi uma boa pedra fundamental para nós na série", declarou Steve Staios, defensor do Edmonton.

Ele ficou nervoso quando Brind'Amour empatou o jogo?

"Claro. Especialmente poque tivemos chances de decidir o jogo", disse Staios, que teve um de seus melhores jogos nos playoffs depois de uma atuação pouco inspirada no jogo 2. "Às vezes, você sente que está fazendo a coisa certa, mas não está funcionando. Estivemos em situações como essa antes e mostramos a força de vontade para superá-las. Jogamos uma partida mais inteligente e sabíamos que tínhamos uma boa chance de ganhar."

Esta vitória pouco vai significar se os Oilers não conseguirem manter o embalo no jogo 4, na segunda-feira. Uma derrota dará aos Hurricanes a vantagem por 3-1 na série e a chance de conquistar sua primeira Copa Stanley em casa na quarta-feira.

Da mesma maneira, a dramática vitória em três prorrogações dos Oilers no jogo 3 da série contra o San Jose, série que eles perdiam por 2-0 antes de engatar quatro vitórias consecutivas, teria sido pouco mais que uma nota de rodapé se eles não a tivessem usado para devolver os rumos certos à equipe. O Carolina Hurricanes certamente está ciente da mania dos Oilers de não se dar por vencidos e tem um respeito saudável pela capacidade deles.

"O Edmonton merece estar aqui. Acho que nós merecemos estar aqui. Acho que temos dois times que vão jogar um bom hóquei", disse o técnico do Carolina, Peter Laviolette.

Os Hurricanes também têm mostrado uma admirável habilidade para se recompor. Eles perdiam para o Montreal por 2-0 na primeira fase e permiti-ram que o Buffalo forçasse um sétimo e decisivo jogo nas finais da Confe-rência Leste, mas emergiram vitoriosos de ambos os abismos.

E é por isso que a vitória de ontem é tão valiosa da perspectiva do Edmonton.

Nestes playoffs, ambos os times dizimaram adversários que representa-vam cópias exatas de seus respectivos estilos. Agora, nas finais da Copa Stanley, o vencedor terá de impor sua vontade sobre o outro para poder beber da Copa.

Os Canes e seu eletrizante ataque ganharam os jogos 1 e 2. Ontem, os Oilers e seu estilo "rosto contra o vidro" prevaleceram.

"Acho que foi um jogo ao estilo dos Oilers, buscando o disco no fundo do ataque, sujando as mãos e atormentando [os Canes]", comemorou o principal agitador dos Oilers, Raffi Torres. "É assim que temos de jogar. Não podemos jogar para lá e para cá com esses caras, porque eles vão acabar conosco como mostraram no joga anterior."

Foi um lance de Torres no segundo período que definiu a noite passada — as coisas que os Oilers fizeram certo e as ciladas que eles evitaram. Na zona do Carolina, Torres derrubou Mike Commodore, que tem sido o me-lhor defensor dos Canes até agora, com um tranco de ombro. Depois, não muito distante dali, Torres encontrou Brind'Amour, o mais perigoso atacan-te dos Canes até agora. Ambos colidiram, e o capacete de Brind'Amour voou longe.

Nenhuma penalidade, mas uma mensagem inconfundível.

Depois de sofrer três gols em vantagem numérica no jogo 2 e um crucial no jogo 1, os matadores de penalidade dos Oilers seguraram a unidade de vantagem numérica do Carolina, a melhor da pós-temporada, nas cinco oportunidades que ela teve. Mais importante, os Oilers conseguiram gerar um jogo físico sem passar dos limites.

"Fizemos um bom trabalho. Passamos um bom tempo na zona deles na primeira metade do jogo. Então, eles começaram a embalar, mas tínhamos mais jogadores na posição certa", lembra MacTavish. "Agora só temos de dar tudo de nós no jogo 4 para empatarmos a série novamente."

Ao longo dos dois primeiros jogos, este time do Edmonton, que construiu sua reputação nestes playoffs com coração e desafiando as probabilida-des, levou uma aula nesses quesitos dos Hurricanes. Ontem, ao menos por um instante, os Oilers lembraram aos Canes, a si mesmos e à sua torcida de que ainda há um coração batendo atrás do logo na camisa.



Scott Burnside é jornalista do site ESPN.com. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 11 de junho de 2006.