JOGO 7
Carolina 3-1 Edmonton

FESTA Os momentos inesquecíveis destas finais — e outros nem tanto — proporcionaram cenas como esta (Lou Capozzola/Sports Illustrated - 19/06/2006)
por ALLAN MUIR

Não tenho certeza, mas, ao entrar em meu carro na segunda depois do jogo, acho que ouvi Brass Bonanza tocando ao longe.

Devia ser a minha cabeça tentando me pregar peças, mas, também, quem é que não estava com a cabeça girando depois de 60 minutos de drama de um lado ao outro do gelo, vulgo jogo 7 das finais de 2006? Se eu vir mais jogos como este, vou parar de reclamar da extremamente longa tem-porada de 82 jogos. Prometo.

Que triunfo para a liga. Isto foi a Nova NHL em seu melhor: poucos gols, mas muitas chances, velocidade no meio e colisões brutais nas trincheiras, jovens e talentosas estrelas e veteranos em seu ocaso, todos jogando com a técnica e o coração que os horóis de nossa juventude tinham, não importa quando tenha sido a sua juventude.

Foi um daqueles jogos que fazem os convertidos dizer: "Se a audiência americana tivesse assistido, eles se apaixonariam pelo hóquei." Isso é loucura, claro — como um todo, é mais provável que os americanos tro-quem suas peruas esportivas por Trabants com banco original e sem ar-condicionado do que dar a este esporte o respeito que ele merece —, mas, sim, o jogo foi bom assim. E, num menor grau, a série também.

O melhor momento da noite? The best moment of the night? A relutância do capitão do Carolina, Rod Brind'Amour em deixar o sonolento discurso de Gary Bettman à torcida local fazer demorar um segundo a mais que fosse sua espera de 17 anos para tocar a Copa (e Bettman não usou uma variação daquele mesmo discurso em 2003, em Tampa, e em 1999, em Dallas?). Ele não era só uma criança no Natal: Brind'Amour era o cara que o Papai Noel ignorou por tantos anos e que finalmente iria experimentar a alegria de achar presentes debaixo da árvore.

Para descrever a cara dele quando finalmente levantou o troféu sobre sua cabeça, outra pessoa terá de achar as palavras. Não importa para quem você estava torcendo, não dá para não se emocionar com uma cena dessas. Quem vence uma Copa atrás da outra sempre diz que "esta" é mais doce que a primeira, mas compare a expressão de que já tinha ganho, como Mark Recchi e Aaron Ward, com a de quem ganhou pela primeira vez, como Brind'Amour, Glen Wesley e Peter Laviolette. Só por aí já dá para saber que a tal frase não pode ser verdadeira.

Outros momentos desta série de que me lembrarei? Que tal a milagrosa defesa com a luva de Cam Ward no final da causa perdida que foi o jogo 6? Um 3-contra-1 perfeitamente executado é raríssimo, mas os Oilers con-seguiram, terminando a jogada com um chute que já veio carimbada com o endereço.

Se Ward tivesse se despedido de sua concentração àquela altura, nin-guém teria falado nada. Mas lá estava ele, abrindo sua luva como Patrick Roy, outro novato que liderou seu time à Copa nos dias de outrora. E, apesar de a defesa por si só não ter significado nada naquele jogo, foi uma daquelas jogadas definitivas que provavelmente o ajudaram a con-quistar o Troféu Conn Smythe.

E o que dizer de sua contrapartida, Jussi Markkanen? Oito semanas atrás, o cara não era considerado confiável o bastante para ser o primeiro reser-va de Dwayne Roloson. Na segunda-feira, depois de ganhar três jogos nas finais da Copa Stanley, ele manteve seu time no páreo até os segundos finais. Dentre os nomes da longa lista de heróis improváveis nos playoffs, poucos podem igualar o "pedigree" desse cara.

E que tal o incansável jogo físico de Raffi Torres e Chris Pronger, culminan-do na eliminação do atacante-chave Doug Weight no jogo 5? Falando de Pronger, que tal sua maneira calma de encarar o primeiro pênalti converti-do na história das finais, no jogo 1? E que tal o gol na prorrogação do jogo 5, em desvantagem numérica, de Fernando Pisani, o surpreendente golea-dor que marcou cinco gols da vitória ao longo dos playoffs e foi a mais consistente ameaça ofensiva do Edmonton?

E ainda houve o espantoso retorno de Erik Cole para o jogo 6. Ver um homem de volta menos de quatro meses depois de contundir seriamente o pescoço, não apenas contribuindo para a causa, como ainda ignorando duros trancos — bem, isso já dá toda a munição de que você precisa para seu próximo debate sobre qual esporte tem os atletas mais durões.

Depois de algum tempo para reflexão, tenho certeza de que me lembrarei de outros momentos, mas estou feliz com esses que pipocaram na minha cabeça.



Allan Muir é jornalista do site SI.com. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 22 de junho de 2006.