Tarde de quarta-feira, primeiro dia do recesso de fim de ano da universidade. Clima de férias para esse colunista. Toca o telefone. É o editor-chefe, Alexandre Giesbrecht.
— Não temos matéria de capa! Quero um artigo sobre o Columbus Blue Jackets pra ontem!
— Mas, chefe, entrei de férias hoje, não estou com inspiraç...
— Não me interessa! Ou você escreve ou está fora! Entendeu? Fora!

A contratação de Ken Hitchcock imediatamente trouxe para o Columbus Blue Jackets uma importância que essa equipe jamais teve em sua história — com todo respeito aos ex-treinadores do time, Dave King, Doug MacLean e Gerard Gallant, que juntos não somam o currículo de Hitchcock, vencedor de uma Copa Stanley, uma medalha de ouro e dono de grande reputação.

Sejam bem-vindos, Blue Jackets!

O impacto do treinador foi imediato: nas quatro primeiras partidas, uma vitória e três derrotas por um gol de diferença. Para um time que sempre significou "dois pontos fáceis" para qualquer adversário, perder jogos dessa forma é quase uma vitória.

"Eu não tenho certeza do quanto nós mudamos porque eu só podia ver o time por vídeo, mas estamos jogando bem," declarou Hitchcock em sua segunda semana de trabalho. "Nós não somos mais pontos fáceis e esse é o nosso objetivo.

"Fora de casa, nós queremos ir à arena e que o outro time diga, 'olhe, esses pontos serão difíceis pra conseguirmos'. Nós estamos perto disso, ficando muito perto. Haverá um tempo muito em breve onde ganhar pontos desse time [Blue Jackets] não será mais garantido."

Hitchcock nunca esteve no papel de reconstruir um time antes. Tanto no Dallas Stars quanto no Philadelphia Flyers ele conduziu elencos repletos de veteranos.

Desde que assumiu o desafio o treinador diz que seu objetivo maior é fazer o time crescer, dar confiança aos jogadores e colocá-los no gelo acreditando que podem vencer qualquer um. E a princípio eles compraram a idéia e estão dispostos a aceitar essa personalidade.

A diferença entre o Columbus de Gallant e o Columbus de Hitchcock é notável, dentro e fora do gelo. Hoje o time compete em um nível muito maior. Não é feitiçaria, é trabalho. Hitchcock imediatamente implantou a mentalidade de jogar como um grupo, porque o esporte é coletivo e se todos direcionarem seus esforços para os objetivos do time, as vitórias acontecem e as metas individuais são alcançadas.

"Hitch nos trouxe confiança. Ele sabe do que fala. Seus detalhes são incríveis," declarou Fedorov, ganhador de três Copas Stanley. "Ele definitivamente trouxe a mentalidade de que temos que jogar como um grupo antes de qualquer coisa".

O elenco dos Blue Jackets não é tão sofrível assim quanto parece. Na verdade o time tem bastante talento, principalmente ofensivo, tanto que com Hitchcock, que tem fama de retranqueiro, a média de gols marcados por jogo é de 3,15, contra 2,10 do antigo treinador.

O que faltava para o Columbus é maior comprometimento de alguns jogadores. Logo, Hitchcock realizou seu primeiro treino em Columbus sem Adam Foote, Fedorov e Fredrik Modin. A justificativa foi outra, mas o que o treinador queria era dar aos veteranos uma participação no comando do time, por acreditar que os jogadores devem vender o sistema de jogo entre eles — e ninguém melhor que os líderes do time para isso.

Hitchcock é conhecido por adotar uma disciplina quase militar, a exemplo do editor-chefe dessa humilde publicação, mas o que ele na verdade prega é o trabalho duro. Na manhã da vitória contra o Minnesota Wild, no fim de novembro, o treinador programou um treino opcional de patinação. Todos os jogadores participaram, por espontânea vontade.

Do trabalho duro nascem as vitórias. E os Blue Jackets venceram cinco partidas consecutivas, sendo quatro fora de casa, contra Edmonton Oilers, Colorado Avalanche, St. Louis Blues e Stars, e uma em casa, contra o Ottawa Senators.

A sequência de vitórias na estrada estabeleceu o novo recorde da franquia. Contra os Senators os cinco gols marcados em vantagem numérica também configuraram um recorde. Os Jackets venceram jogos em Dallas e Colorado pela primeira vez na história.

Quando é que alguém em Columbus sonhou com recordes?

O próximo sonho é a classificação para os playoffs, e o histórico de Hitchcock é inspirador. O treinador sempre classificou seu time, em todos os anos de sua carreira, em todas as ligas que disputou, quando ocupou o cargo durante toda a temporada — o que já não é o caso em Columbus, mas quem se importa?

"Eu não acredito que nosso foco esteja lá agora", afirmou o treinador, que vê os playoffs como um assunto ainda precoce. "O que nós estamos buscando é uma melhora significativa."

A dúvida de parte da imprensa era entender como um treinador tão vitorioso — 408 vitórias em 750 jogos ao sair da Philadelphia — assumiu um trabalho de perdedores.

"Quando você decide ser um treinador, você tem que decidir se está se tornando um treinador porque quer vencer o tempo todo ou porque quer treinar." Hitchcock escolheu a segunda opção.

A sequência de vitórias dos Blue Jackets acabou na semana passada, na prorrogação em Phoenix. Em seguida o time perdeu para o Chicago Blackhawks e se recuperou diante do Detroit Red Wings, uma das vitórias mais comemoradas da temporada. Após 12 partidas com Hitchcock o Columbus ainda não havia sofrido sequer uma derrota no estilo que os Blue Jackets anteriores sofriam noite após noite. A goleada de 5-0 imposta pelos Red Wings foi a primeira.

Ele tinha razão: não são mais dois pontos fáceis.

Na apresentação de Hitchcock em Columbus, um dos donos do time o anunciou como "o cara que nós esperamos que vá nos salvar." Hitchcock trouxe a solução: trabalho, dedicação e competência. É o trabalho duro que salva, não falsos milagres.


Humberto Fernandes foi a uma festa a fantasia no sábado fantasiado de Mats Sundin — ou, pelo menos, de torcedor do Toronto Maple Leafs.
RESPEITE-ME Ken Hitchcock trouxe para Columbus a atenção e o respeito que a Liga nunca despertou para esse time. Até onde ele será capaz de guiá-lo?
(Len Redkoles/Getty Images - 24/11/2006)
 
O PRIMEIRO A imagem acima tem acontecido com mais frequência no reinado de Hitchcock. É o primeiro gol marcado pelo Columbus com o novo treinador.
(Len Redkoles/Getty Images - 24/11/2006)
 
RENASCIDOS Em 14 jogos sob comando de Ken Hitchcock, Sergei Fedorov soma sete gols e 15 pontos, enquanto Rick Nash tem seis gols e 12 pontos.
(Ronald Martinez/Getty Images - 12/12/2006)
 
SURPRESA Com 155 minutos e 28 segundos sem sofrer gol, Fredrik Norrena é o novo recordista da equipe. Suas cinco vitórias seguidas também estabeleceram novo recorde.
(Tony Gutierrez/AP - 12/12/2006)
 
BASTIDORES Essa foto somente está aqui porque é de uma beleza ímpar, mostrando o caminho percorrido pelo Columbus até o gelo.
(Gregory Shamus/Getty Images - 18/12/2006)
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Página publicada em 20 de dezembro de 2006.