Esse diabo não é exatamente aquele — o príncipe das trevas
e pai das mentiras. Mas o New Jersey Devils é uma franquia prolífera em
traquinagens, além de, historicamente, ser conhecida como uma equipe que
não se importa se a plástica de seu jogo agrada ou não aos olhos alheios,
desde que finais vitoriosos justifiquem essa escolha. E para vencer esses
Devils, assim como para vencer o arrenegado, é preciso ser ou estar amparado
por um ser superior.
Às vezes, esse ser superior é um injustiçado. É alguém que precisa a cada
dia defender seus ideais perante o desventurado mundo em que vive. De
quem eu falo? O amigo leitor já deve ter visto a relação dos atletas que
vão para Dallas participar do Jogo das Estrelas da NHL. E nesse seleto
(?) grupo não está nosso grande amigo Dallas James Drake. E isso é injustiça
in natura. Injustiça em estado bruto.
Mas o destino encarregou-se de mostrar — dias antes de tomarmos conhecimento
da manipulação dos votos, pela NHL, para que alguns atletas ficassem de
fora do JDE — que Drake é o escolhido. Numa Continental Airlines Arena
com o bom público — para os padrões locais — de 16.337 pagantes, Drake
liderou seu ressurgido St. Louis Blues contra os comandados de Claude
Julien, que vinham de seis vitórias em sete jogos, e foi de um brilhantismo
ímpar:
• 12:14 minutos no gelo, o que indica superação e sacrifício, pois Drake
não está 100% fisicamente.
• Um gol (o da vitória), o que indica frieza para aparecer no momento mais
complicado da partida.
• Dois chutes, portanto um aproveitamento monstro de 50% contra um goleiro
de primeiro escalão.
• +2. Confiança readquirida. Com ele no gelo, é certeza de prosperidade
para sua equipe.
• Zero, nenhuma penalidade, o que indica fair play, disciplina, respeito
(?) ao próximo.
• Primeira estrela da partida, o que indica protagonismo e um raro reconhecimento
ao gladiador das bordas.
Tudo isso em apenas um jogador. Tudo isso em Dallas James Drake!
Então olhe para a primeira foto ao lado. É Dallas Drake celebrando seu
gol. O gol dos 3-2 que mantiveram a invencibilidade dos Blues contra equipes
da Conferência Leste nesta temporada (4-0). No mesmo retrato está, desolado
e abatido, Martin Brodeur, talvez o melhor goleiro do mundo na atualidade
e que estará no próximo Jogo das Estrelas. Assim como infausto ficou Brian
Rafalski, outro que também vai estar em Dallas para disputar a já citada
partida. Zach Parise (9), que participará do jogo dos novatos, também
foi testemunha do segundo gol do "D10s" na temporada. Testemunhas do caráter
vencedor, da entrega desmedida e da liderança exemplar desse ídolo às
vezes incompreendido.
Os três não conseguiram parar Dallas Drake, mas ele não vai fazer parte
do Jogo das Estrelas. Como pode? Eu também não sei, estimados leitores.
Na partida seguinte, os Blues — equipe com ótimo aproveitamento desde
que Andy Murray assumiu o comando — voltaram a vencer, desta vez os Kings.
Drake foi visto no gelo combatendo a nova jóia da coroa, Anze Kopitar.
Nem mesmo o ídolo de todos os eslovenos — e outro injustiçado desse já
desvalorizado e leviano Jogo das Estrelas — pode vencer a fúria e a sede
de vitória Drakeana.
Ainda assim, lamentavelmente, a NHL manda, como representante da equipe
a Dallas, o desleal e egocêntrico Bill Guerin.
Não é de hoje essa má vontade da NHL para com nosso ícone. Ao mostrar
a Brett Lebda, dos Red Wings, no último mês de dezembro, de que material
é feito as bordas, ele ganhou uma suspensão de dois jogos. Alguns nefastos
integrantes da imprensa marrom condenaram a verdadeira vítima desse episódio:
Dallas Drake. Até mesmo um obscuro colunista de um obscuro site (não
lembro se da CNNSi ou da Fox Sports, sempre confundo esses sites ínfimos)
criticou Drake por voar (tirar os pés do chão, segundo o inepto) quando
aplica seus trancos.
Ora, o que esse ignorante não sabe é que Drake se espelha nos camicases japoneses
que combateram no final da Segunda Guerra Mundial. Um tranco voador pode
ser fatal até mesmo para o executor. Quem não se lembra quando, contra
os mesmos Wings de Lebda, Drake errou um oponente e esfacelou-se nas bordas?
Ele não se importaria em cair mortalmente ferido em um desses vôos cegos.
Isso seria morrer pelos seus companheiros. E definitivamente Drake é um
jogador de equipe. Não é à toa que ele carrega o C de capitão no peito.
O mesmo C que um dia foi de outros gênios, como Wayne Gretzky, Chris Pronger
e Al MacInnis, nesse mesmo St Louis Blues.
Pelo menos fica o sentimento de dever cumprido por parte de seus súditos,
que votaram dezenas de vezes no gladiador das bordas. É claro que houve
aquele indivíduo que se absteve e não colaborou com nossa luta. Incrível!
O que poderia acontecer se esse incauto concedesse 24 horas seguidas — sem
pausas para necessidades básicas — de sua vida para tão nobre campanha?
Morrer? Talvez, mas nós da TheSlot.com.br teríamos cuidado bem de sua
namorada — dependendo da avaliação física — e de seus bens materiais, afinal somos
irmãos no hóquei. Mas o egoísmo e a negligência falaram mais forte. Drake
aceitaria morrer pelos seus companheiros de time, mas alguns vivem escondidos,
como Pavel Datsyuk e Joe Thornton em jogos de pós-temporada. Lamentável.
Mas, mesmo se todos tivessem votado, ele não teria ido para o JDE. Foi
uma votação com tanta lisura quanto as eleições presidenciais de Moçambique.
Veja o caso Rory Fitzpatrick, por exemplo. O atleta dos Canucks esteve
entre os titulares do Oeste até os instantes finais da votação, mas aí
o destino — leia-se a NHL e sua corja — alterou os números e o defensor
ficou de fora da festa (?). Fitzpatrick pode ser uma estrela ao olhos
do humilde torcedor, mas não sob a ótica capitalista da NHL.
É de se destacar, entretanto, como a maioria dos seguidores desse magnífico
esporte aqui no Brasil, se uniu em prol da presença da raça desenfreada
de Drake no Texas. A todos nós, um parabéns. Em algum lugar da América
do Norte, Dallas Drake está abrindo uma latinha de Budweiser e brindando
a seu povo. Faça como ele, abra uma lata do sagrado líquido e brinde
ao amanhã, que será vitorioso. Ao amanhã que derrotará a indiferença de
muitos e a máfia liderada por Gary Bettman. Não vos arrefeceis após a
primeira derrota. E, para falar a verdade, quem precisa desse evento mesmo?
Se valesse algo, mitos como Rod Brind'Amour e Jaromir Jagr não iriam preferir
uma pausa para se recuperarem de suas mazelas, pegando o primeiro vôo
rumo ao sul. Se fosse sério, ele contaria com Maxim Afinogenov, Marc Savard,
Alexander Semin e Olli Jokinen. Ele não teria Jonathan Cheechoo titular,
com seus 15 gols e -8 — culpa de milhares de votos de gente que deve ter
parado de acompanhar a NHL em algum ponto da última temporada. Em suma,
esse JDE é uma futilidade, uma afronta, um ultraje, um opróbrio (?).
E nem sempre foi assim: basta verificarmos que um de nossos mais estimados
leitores, Fernando "Caniac", o rei do buzuki na noite paulistana, colocou
em seu perfil no Orkut uma célebre citação de Siphodemos, filósofo grego,
2530 a.D.D. (antes de Dallas Drake), que prova que esse evento um dia
valeu, e muito:
"Quando Dallas Drake disputou o All-Star Game, os times eram Conferência
Oeste e Leste vs. Dallas Drake."
Jim McIsaac/Getty Images
Camisa 10, capitão e figura dos Blues. Aqui Drake comemora
mais um gol em sua sobrepujante carreira. Mas os três de vermelho
e preto vão ao JDE, e Dallas não vai a Dallas...
Al Bello/Getty Images
Aqui o exato momento em que ele vence Martin Brodeur. Membros da
Jihad Drakeana cultuarão esse lance para todo o sempre. Repare
na face intrigante do mestre!