O resultado magro de 1-0 no jogo 2 das finais da Copa Stanley não traduz
o domínio absoluto do Anaheim Ducks na partida. Sim, absoluto. Do segundo
período inteiro até algum momento depois do único gol da partida só
havia um cenário: Ducks atacando e Ottawa Senators se defendendo. Durante
esse longo período o disco mal chegava na zona de defesa do Anaheim
— e geralmente chegava rifado — e já era dominado por algum jogador
do time da casa, que rapidamente saía em busca de mais um ataque. Talvez
eu esteja me esquecendo de um ou outro lance que foram exceções a essa
regra durante o citado período? Talvez. Mas não apaga a sensação de
total comando das ações por parte dos Ducks.
Só depois do gol, marcado por Samuel Pahlsson, é que o Ottawa começou
a tentar alguma coisa, mas aí faltavam menos de seis minutos. Até o
final do jogo o time canadense conseguiu dois bons momentos de grande
pressão. Um deles quando faltavam cerca de três minutos para o fim e
o outro já com a rede vazia, já em clima de desespero. Ambos falharam.
E, no fim das contas, foi muito pouco. Afinal, durante a maioria expressiva
da partida, os Senators atuaram na zona defensiva, ou então de forma
defensiva. No fim das contas a breve pressão foi segura pelo Anaheim.
Já a voraz pressão dos Ducks foi segura durante quase todo o jogo, graças
em grande parte — mas em grande parte mesmo, porque, para mim, ele
foi o grande nome do jogo — pelo goleiro Ray Emery. No começo do terceiro
período, com o placar ainda em 0-0, ele fez uma daquelas fantásticas
defesas em cima da linha, com o disco no ar, prestes a cair para dentro
do gol. Mas não foi suficiente: da mesma forma que Roberto Luongo não
faz gol, Emery não podia sair para fazer esse papel que cabe ao ontem inexistente
setor ofensivo do time canadense.
Vale ainda lembrar que, mais uma vez, o ataque dos Senators desperdiçou
uma chance de vantagem numérica de dois homens, ainda no primeiro período.
Não foi insosso, o time especial realmente criou chances, mas não passou
por Giguere. Nem naquele momento, nem até o fim da partida.
Dessa vez, ainda que a linha de Ryan Getzlaf tenha feito novamente uma
boa partida, sobressaiu a linha de Rob Niedermayer e Samuel Pahlsson.
O terceiro jogador da linha, Travis Moen, já havia sido o herói do jogo
anterior. O herói de ontem foi Pahlsson. E esta é uma linha de marcação,
defensiva, composta por guerreiros. Porém, mais ou menos como o próprio
narrador da CBC comentou ontem, é uma linha defensiva de mentalidade
ofensiva! Eles geralmente são os escalados para marcar a principal linha
ofensiva do adversário e, até o momento, você não tem ouvido falar muito
de Jason Spezza, Dany Heatley e Daniel Alfredsson na série (aliás,
Heatley foi o jogador que não conseguiu dominar o disco que acabou parando
no taco de Pahlsson, e dali só saiu para o fundo da rede de Emery).
Outra função que essa linha cumpre com maestria, e isso eu já vejo desde
as finais de conferência, é manter o disco na zona de ataque. Niedermayer
(o Rob) é um guerreiro remanescente daquele time de guerreiros que chegou
à final da Copa em 2003. Marca bem, faz gols e ainda desce pauladas.
Pahlsson é o veloz central que comanda a linha e que dá um toque mais
ofensivo. Ofensivamente eles estão superiores até mesmo à linha principal
de ataque dos Senators.
Talvez o único ponto positivo do ataque dos Sens na partida de ontem,
e isso não cabe exatamente ao trio principal, foi a disposição demonstrada
em desferir trancos nos defensores dos Ducks. Isso aconteceu desde o
começo e foi o melhor que conseguiram fazer. De um modo geral o jogo
de ontem foi um tanto mais físico e menos ofensivo que o jogo 1.
Foi um jogo em que o Ottawa não merecia vencer, de maneira alguma. Se
o jogo 1 foi equilibrado, o jogo 2 foi quase que integralmente do Anaheim.
Aliás, computando-se apenas os dois primeiros jogos até aqui, os Ducks
parecem ter tido mais trabalho com o Detroit Red Wings.
Uma coisa me parece certa: do jeito que jogou ontem o Ottawa não vira
essa final. Aliás, nem empata a série, não vence jogo algum. Simplesmente
porque não se vence jogos quando você praticamente passa o tempo todo
se defendendo. Como os Sens sequer construíram uma vantagem para sentar
em cima, o fato de terem ficado atuando daquela forma passiva tem motivo
claro: os Ducks estão melhores. Muito melhores.
Mas se eles estão muito melhores assim, porque não venceram por um placar
realmente elástico? É uma pergunta que eu me faço e que evidentemente
demonstra uma deficiência do time. Ainda que Emery estivesse numa ótima
noite, fica claro que os Ducks não souberam traduzir sua supremacia
na partida em gols. Porém, mais uma vez, quando a hora começou a apertar,
lá foram eles e decidiram com o gol que lhes foi necessário. Enquanto
o panorama for esse, está ótimo para o Anaheim.
![]() |
![]() O grande nome do jogo de ontem, Ray Emery parou tudo, exceto esse gol. (30/05/2007) |
30/05/2007 | 00 | |||
Ottawa | 0 | 0 | 0 | 0 |
Anaheim | 0 | 0 | 1 | 1 |
PRIMEIRO PERÍODO — Gols: Nenhum. Penalidades: M. Comrie, Otw (boarding), 2:17; D. Miller, Anh (interference), 4:50; A. Volchenkov, Otw (boarding), 8:05; S. Thornton, Anh (charging), 12:31; C. Pronger, Anh (slashing), 13:24; M. Fisher, Otw (roughing), 18:07. | ||||
SEGUNDO PERÍODO — Gols: Nenhum. Penalidades: T. Preissing, Otw (tripping), 18:04; A. McDonald, Anh (hooking), 19:36. | ||||
TERCEIRO PERÍODO — Gols: 1. Anaheim, Samuel Pahlsson 3 (sem assistência), 14:16. Penalidades: Nenhuma. | ||||
CHUTES A GOL | ||||
Ottawa | 7 | 4 | 5 | 16 |
Anaheim | 12 | 14 | 5 | 31 |
Vantagem numérica: OTW – 0 de 4; ANH – 0 de 4. Goleiros: Ottawa – Ray Emery (31 chutes, 30 defesas). Anaheim – Jean-Sébastien Giguere (16, 16). Público: 17.258. Árbitros: Bill McCreary, Brad Watson. |