Por: Marcelo Constantino

Não foram poucos os que, antes de a temporada começar, indicaram o San Jose Sharks como o maior favorito à Copa Stanley deste ano. Claro, palpites assim têm tanta precisão quanto adivinhar quem será o novo campeão da Copa do Mundo de 2010, mas é um exercício interessante. Eu mesmo indiquei os Sharks, e vi o time fazer uma temporada abaixo das expectativas até meados de fevereiro. E, a bem da verdade, uma temporada não tão boa quanto se imaginava pouco quer dizer quando a hora realmente chega.

As dificuldades dos Sharks começavam na divisão deles, que é talvez a pior da NHL hoje em dia. Simplesmente porque é na Divisão do Pacífico que estão o Anaheim Ducks — atual campeão e, para muitos, atual favorito para vencer mais uma Copa Stanley — e o Dallas Stars — um dos melhores times da liga no momento. A Conferência Oeste ainda conta com o Detroit Red Wings, que, até fevereiro chegar, sobrava na temporada.

Mas as dificuldades maiores eram internas mesmo. O time não reproduzia no gelo o relativo favoritismo a que lhe era atribuído, alguns jogadores importantes do time rendiam abaixo do esperado — tudo isso talvez ainda reflexo da eliminação nos playoffs do ano passado.

O panorama mudou.

No momento em que esta matéria está sendo escrita, antes dos jogos da terça-feira, os Sharks somam nada menos que nove vitórias consecutivas, recorde da franquia. A seqüência de vitórias coincidiu quase que inteiramente com a chegada do defensor Brian Campbell, contratado no dia-limite de trocas junto ao Buffalo Sabres, que vem suprindo em grande parte necessidades defensivas da equipe — tanto em aspectos essencialmente defensivos (a defesa do San Jose até então era tida como um tanto aberta demais) quanto em termos de apoio ao ataque (o famoso "quarterback" do hóquei, posição valorizadíssima na liga, e exercida por muitos sem a devida competência; e, não, um Craig Rivet não é suficiente).

E o mais interessante é que as nove vitórias vieram imediatamente após o que talvez tenha sido o pior momento do time na temporada, quando perdeu cinco partidas seguidas no meio do mês de fevereiro.

O atual momento traduz bem a forma como o time passou a atuar depois daquelas derrotas. O San Jose de agora é um time batalhador, que parece jogar cada partida como se já fosse um disputa de playoffs. Vitórias apertadas sobre adversários difíceis (3-2 sobre os Red Wings, 6-4 sobre os Habs, 3-2 sobre os Senators) contam bastante, mas a vitória mais suada talvez tenha sido a última — ainda que só tenha chegado na disputa de pênaltis —, também por 3-2, contra o Minnesota Wild.

Individualmente alguns jogadores da equipe começaram a crescer recentemente. É o caso do capitão Patrick Marleau, que chegou a figurar em boatos sobre negociáveis ao longo da temporada. Marleau marcou quatro gols nos últimos seis jogos, todos em março. Para efeito de comparação, ao longo de todo o terrível mês de fevereiro ele marcou apenas um. E o mais importante dos últimos gols: dois deles foram da vitória.

É o caso também de Jonathan Cheechoo, aquele que um dia nos levou a acreditar que era um dos grandes goleadores da NHL, quando marcou 56 gols e levou o Maurice Richard de 2005-06 para casa. Embora não seja tudo isso, o atacante parece definitivamente recuperado de uma contusão que o retirou de parte da temporada e, melhor, parece novamente energizado por um gás de final de temporada (no ano passado Cheechoo também elevou seu jogo no fim da temporada), tendo marcado 11 gols nas últimas 15 partidas.

Não é o caso de Joe Thornton, líder e craque do time, que vem jogando bem durante toda temporada e que figura geralmente entre os cinco maiores pontuadores da temporada - em termos de assistências a briga praticamente se resume a ele e ao subvalorizado Marc Savard. Thornton é, de muito longe, o jogador mais importante dos Sharks na temporada.

Talvez também não seja o caso de Evgeni Nabokov, que esteve no gol da equipe em oito das nove vitórias. Aliás, é muito raro não ver Nabokov no gol dos Sharks. Mas muito raro mesmo: ele só não esteve no gelo em três partidas nesta temporada. Você não leu errado, foram apenas três. Tanto que ele é o líder entre os goleiros em vitórias na temporada.

Os Sharks ainda precisam acertar seu jogo em casa (onde a campanha nesta temporada não enche os olhos: 16-13-5), e isso certamente não será estatisticamente sanado faltando apenas um mês para os playoffs. Caberá ao time demonstrar nos playoffs que também sabe jogar em casa.

É bem verdade que também falta ao time mais profundidade nas linhas de ataque. Entretanto, os tempos de rolar quatro linhas sem consideráveis diferenças de qualidade já se foram, possivelmente junto com o antigo Acordo Coletivo de Trabalho. Em tempos de teto orçamentário, todo time tem uma ou duas linhas que entram no gelo apenas para segurar as pontas e, o que vier ofensivamente delas, é lucro.

Atualmente o San Jose claramente coleta os dividendos da contratação de Campbell, embora isso, por si somente, não justifique toda a ascensão recente do time. A decisão futura do próprio Campbell, quanto a ficar ou não em San Jose, vai depender em muito da longevidade da corrida do time nesses playoffs. E isso dependerá de todo o time.

O gol atual é obter o título da Divisão do Pacífico, e a batalha é contra o Dallas Stars. A distância entre os dois é pequena e os Sharks têm menos partidas disputadas. A vitória no fim da linha dependerá de quem souber administrar melhor as partidas restantes das próximas semanas.

Marcelo Constantino entende que nem sempre a adoção do princípio da reciprocidade é a melhor resposta a uma quebra de acordo.
Jose Sanchez/AP
A equipe do San Jose corre para celebrar o gol da vitória do ressurgido capítão Patrick Marleau (camisa 12), marcado na prorrogação contra o Ottawa Senators.
Tony Avelar/AP
Joe Thornton, craque indiscutível do time, comemora um gol com Brian Campbell, talvez a melhor adição efetuada no dia-limite de trocas, dadas as necessidades dos Sharks.
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Página publicada em 12 de março de 2008.