Por: Humberto Fernandes

Enquanto a NHL celebrava o feito de Martin Brodeur ao conquistar sua 551.ª vitória e igualar-se a Patrick Roy, o Detroit Red Wings estabelecia sem muito alarde um novo recorde entre as equipes.

Quando os Red Wings derrotaram o Columbus Blue Jackets no domingo, por 4-0, em Columbus, a equipe chegou à marca centenária de pontos pela nona temporada consecutiva. O recorde anterior, de oito temporadas, pertencia ao Montreal Canadiens, entre 1974-75 e 1981-82, período em que venceram quatro Copas Stanley.

Os Wings superam a marca dos cem pontos desde a temporada 1999-00, justamente o ano em que eu comecei a acompanhar a NHL. É por isso que Eduardo Costa me intimou a escrever sobre o novo recorde estabelecido pela franquia. A melhor maneira que eu encontrei para fazer isso é contar a história de cada uma das nove temporadas, mas em linhas gerais, sem maiores detalhes. Para os fãs da equipe, é uma espécie de flashback.

O primeiro ano do recorde representou também a última vez que o Detroit não ganhou a Divisão Central. Naquela temporada, o St. Louis Blues foi o melhor time da liga, até amarelar na primeira fase dos playoffs diante do San Jose Sharks. Os Red Wings, de 48 vitórias e 108 pontos, foram eliminados pelo Colorado Avalanche na segunda fase. Era o time de Steve Yzerman, Brendan Shanahan e Sergei Fedorov. Naquele tempo, Chris Chelios era um garoto de 38 anos e Larry Murphy, Igor Larionov e Pat Verbeek ainda estavam em atividade.

Foi a pior campanha em temporada regular do período recordista. Ainda assim, 108 pontos é uma marca que 11 das 30 franquias da NHL nunca atingiram, entre elas dois Originais, Chicago Blackhawks e Toronto Maple Leafs, um campeão da Copa Stanley, Tampa Bay Lightning, e quatro finalistas, Florida Panthers, Los Angeles Kings, Vancouver Canucks e Washington Capitals.

Já no século XXI, os Red Wings venceram 49 jogos e marcaram 111 pontos em 2000-01. O time era o mesmo do ano anterior, mas o resultado nos playoffs foi ainda pior. O Detroit não conseguiu superar os bravos Kings na primeira fase. Duas vitórias nos dois primeiros jogos da série deram a falsa impressão de que o duelo seria fácil. Até que a garra dos Kings e Adam Deadmarsh entraram na cabeça dos Red Wings: quatro derrotas consecutivas, todas por um gol de diferença, sendo duas na prorrogação, incluindo o jogo 4, em que o Detroit vencia por 3-0 e sofreu a virada.

Os fracassos consecutivos nos playoffs foram decisivos para que o gerente geral Ken Holland atuasse agressivamente no mercado para a temporada. Chegaram a Detroit Dominik Hasek, Luc Robitaille e Brett Hull. Figurinhas carimbadas deixaram o time, como Chris Osgood, Vyacheslav Kozlov e Larry Murphy. Eram tantas estrelas no ataque que não havia espaço para todo mundo nas principais linhas.

Com 22 vitórias nos primeiros 27 jogos da temporada 2001-02, o primeiro Troféu dos Presidentes do período recordista estava garantido já em novembro. Ao todo foram 51 vitórias e 116 pontos. Favoritos ao título, os Red Wings tomaram um susto com os Canucks na primeira fase e sofreram para derrotar o Avalanche nas finais de conferência, na épica série encerrada com a vitória por 7-0 no jogo 7. Na finais da Copa, o Carolina Hurricanes simplesmente não foi páreo.

Após a conquista do título, o lendário treinador Scotty Bowman anunciou sua aposentadoria, assim como o goleiro Hasek. A diferença é que o tcheco voltaria no futuro próximo.

No ano seguinte, com Dave Lewis à frente do time, os Red Wings sonhavam com o bicampeonato. Para tanto contrataram Curtis Joseph, outro goleiro de ponta. Polêmicas à parte, como o baixo tempo de gelo que levou Robitaille a reclamar diversas vezes em público, a equipe fez boa temporada, com 48 vitórias e 110 pontos. No entanto, os dois últimos jogos foram decisivos para selar o destino do Detroit. Tivessem vencido um daqueles "amistosos", os Red Wings não enfrentariam o então Mighty Ducks of Anaheim, e sim o Edmonton Oilers. Nas mãos do time que ainda pertencia à Disney, a equipe da Cidade do Hóquei foi novamente eliminada na primeira fase, dessa vez a vassouradas.

Em 2003-04, ao conquistar 109 pontos e 48 vitórias, os Red Wings venceram o Troféu dos Presidentes pela segunda vez no período recordista. Mesmo com Joseph no elenco, a equipe abriu as portas para o retorno de Hasek, que decidira abandonar a aposentadoria. Curiosamente, quem mais vezes defendeu o gol do Detroit naquela temporada foi Manny Legace, que deveria ser a carta fora do baralho. CuJo, tachado como vilão, fez ótima campanha nos playoffs, enquanto o restante do time fracassou. Contra o Calgary Flames, na segunda fase, os Wings foram eliminados em seis jogos.

Então veio o locaute e, com ele, a nova NHL e o teto salarial. Novas regras, novo jogo, nova temporada. Em Detroit, novo técnico. Mike Babcock assumiu o lugar de Lewis, considerado um "banana". Impacto imediato: 58 vitórias e 124 pontos para mais um Troféu dos Presidentes na melhor temporada do período recordista e a segunda melhor em toda a história da franquia. Era o time de Pavel Datsyuk e Henrik Zetterberg, na última temporada de Yzerman e Shanahan. Nos playoffs, logo na primeira fase, o time caiu em seis jogos diante dos Oilers, que durante a temporada regular venceram 17 partidas a menos que o Detroit. Pela terceira vez em cinco anos, os Wings foram eliminados de cara.

Era evidente que o Detroit sobrava na temporada regular, apenas para fracassar nos playoffs. A sina se repetia ano após ano e já era, de certa forma, esperada pela torcida.

A temporada 2006-07 serviu para mudar essa imagem e salvar a pele de Babcock. Não foram as 50 vitórias e os 113 pontos que limparam a barra do time. Quando os Red Wings eliminaram os Sharks na segunda fase dos playoffs, pela primeira vez em quatro anos a equipe chegou às finais de conferência. Dali em diante, o que viesse era lucro. Houve até quem acreditasse na conquista da Copa Stanley quando os Wings abriram 2-1 na série contra os Ducks, mas sucessivos desfalques na defesa culminaram com a eliminação do time. Ao contrário das três campanhas anteriores, desta vez o sentimento era de superação. Foi a determinação e a entrega dos jogadores que levaram o time até aquele ponto.

Para superar a campanha da temporada anterior, o Detroit teria que chegar às finais da Copa Stanley em 2007-08. No caminho, o quarto Troféu dos Presidentes, com 115 pontos e 54 vitórias em 82 jogos. Com um time equilibrado, em que a excelência defensiva era notável, os Red Wings protagonizaram novamente o papel de favoritos. A campanha nos playoffs não foi das mais difíceis, apesar do susto na primeira fase contra o Nashville Predators. Com a série empatada em 2-2, Osgood assumiu o gol com propriedade, desbancando Hasek. Os Wings venceram os nove jogos seguintes, eliminando os Predators, varrendo o Avalanche e abrindo 3-0 contra o Dallas Stars nas finais de conferência, vencida em seis jogos. Na final de Copa Stanley dos sonhos da NHL, Zetterberg superou Sidney Crosby, e o Detroit conquistou a Copa pela segunda vez em seis anos.

Encerradas as comemorações, a gerência trabalhou para manter o elenco campeão. E Holland foi além: assinou com Marian Hossa, um dos melhores atacantes da liga. O bicampeonato se desenhou no horizonte.

No 70.º jogo da temporada 2008-09, os Red Wings atingiram a marca centenária na pontuação pela nona vez consecutiva. Mesmo com sérios problemas defensivos, sem a definição de quem é o goleiro titular do time e sofrendo duas humilhantes goleadas, a equipe caminha rumo a mais um título de divisão e, possivelmente, a outro Troféu dos Presidentes. Em abril, quando os playoffs começarem, o Detroit será favorito à conquista da Copa Stanley.

Justamente após o jogo em que foi estabelecido o recorde, o treinador Ken Hitchcock, dos Blue Jackets, declarou:

"Não me importa quem jogue contra o Detroit, se os Red Wings decidirem jogar desta maneira, ninguém vai derrotá-los. Ninguém vai vencê-los em uma série de playoffs se eles jogarem assim. Os outros times terão sorte se ganharem jogos contra eles.

"Eles fizeram um jogo pensado. Jogaram com esforço acima do talento, e quando você tem o nível de talento deles, é devastador ser o oponente."

Independentemente do que aconteça até junho, o recorde dos Red Wings é impressionante. Já seria em qualquer tempo, mas é ainda mais notório quando se tem em mente que a franquia passou dos anos do agarra-agarra e dos gastos desenfreados para a era do teto salarial. E o Detroit conseguiu tudo isso enquanto assistia à transição do time de Yzerman para Datsyuk.

Na tabela abaixo, a pontuação dos Red Wings no recorde de nove temporadas centenárias, em comparação com a marca anterior dos Canadiens.

Detroit Red Wings
Montreal Canadiens
Temporada
Pontuação
Temporada
Pontuação
2008-09
103*
-
-
2007-08
115
1981-82
109
2006-07
113
1980-81
103
2005-06
124
1979-80
107
2003-04
109
1978-79
115
2002-03
110
1977-78
129
2001-02
116
1976-77
132
2000-01
111
1975-76
127
1999-00
108
1974-75
113

* Pontuação conquistada em 71 jogos.
Humberto Fernandes detestou a mudança no regulamento da F1 que vai determinar o campeão pelo número de vitórias.

Arquivo: TheSlot.com.br
O Detroit Red Wings conquista mais uma Copa Stanley, a segunda no período recordista.

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Página publicada em 18 de março de 2009.