Por: Marcelo Constantino

Na quinta-feira passada o defensor Nicklas Lidström marcou seu milésimo ponto na NHL. Era algo esperado para o começo desta temporada, claro. Anormal seria ele não conseguir. Mil pontos em 1336 jogos (até então). Todos jogando pelo Detroit Red Wings. É o primeiro defensor europeu a conseguir isso na NHL. É o oitavo defensor a alcançar esta meta.

Lista de defensores com mil pontos ou mais na história da NHL
Ray Bourque - 1579 pontos - 1612 jogos
Paul Coffey 1531 1409
Al MacInnis 1274 1416
Phil Housley 1232 1495
Larry Murphy 1216 1615
Denis Potvin 1052 1060
Brian Leetch 1028 1205
Nicklas Lidström 1000 1336
É plausível acreditar que Lidström ultrapassará as marcas de Potvin e Leetch, estabelecendo-se como o 6.º maior pontuador da história da NHL entre defensores. Acima disso é exagero: Lidström brevemente entrará na seara Chris Chelios dos 40 anos de idade. Ele ainda joga uma média de 25 minutos por noite, chegando a 30 em algumas vezes, mas é provável que esse tempo diminua nesta temporada — se não me engano já diminuiu na última.

Não se sabe quantos anos a mais ele quer jogar na NHL. O que se sabe é que ainda não há defensor melhor que ele para jogar de “quaterback” na vantagem numérica. Ainda não há defensor melhor que ele no embate um-contra-um (acredito que tenha sido Brett Hull que uma vez disse que, no um-contra-um, o jeito de Lidström movimentar o taco em direção ao disco, para retirá-lo do adversário, assemelha-se com o bote de uma serpente. Rápido, seco e eficiente).

Os dois pontos da quinta-feira vieram de assistências, disparando o disco da zona da linha azul para ser redirecionado para o gol. Henrik Zetterberg e Thomas Holmstrom foram os que aproveitaram.

A carreira ofensiva de Lidström é assim mesmo, com ele fazendo o básico que um defensor de elite faz: disparar o disco ou direto para o gol, ou na direção de algum taco de algum jogador do time, ou ainda disparar o disco para que bata nas bordas do fundo e retorne para a região em torno da área do goleiro (essa era uma jogada muito usada nos tempos de Mathieu Schneider no time). Difícil mesmo é fazer isso constantemente bem. De todas as formas, o disco que sai do taco de Lidström é certamente um disco perigoso para o adversário.

Mais perigoso ainda para o adversário é ser um atacante e ter Lidström à sua frente, defendendo. Não porque ele seja bruto ou fisicamente intimidador. (Muito pelo contrário, uma vez li que em toda sua carreira recebeu apenas uma penalidade por “roughing”. Não sei realmente se é boato, não consegui conferir. Seja como for, se não foi uma, foi muito próximo disso.) O perigo é porque o atacante estará frente a frente com o defensor mais eficiente da liga quando se trata de não permitir que o disco seja desferido contra o gol.

Por conta disso, quando chegam os playoffs ele é sempre escalado para conter os principais jogadores adversários. Brett Hull, Peter Forsberg, Jarome Iginla, Joe Sakic, Eric Lindros, Teemu Selanne, Mike Modano, Ryan Getlzaf, Sidney Crosby, entre tantos outros.

Defensor absurdamente constante, seus erros, de tão raros, tornam-se superlativos. Quando Chelios e Schneider fizeram temporadas melhores que a dele, foram notícia. Como é que poderia algum defensor no próprio time estar melhor que ele? Ao largo dos altos e baixos dos que o rodeavam e rodeiam, Lidström era e é sempre Lidström.

Foi o primeiro europeu a vencer o troféu Norris, em 2001. Foi o primeiro capitão europeu a conquistar a Copa Stanley, em 2008. Foi o primeiro europeu a conquistar o troféu Conn Smythe, como MVP em 2002. Apesar dos seis troféus Norris como melhor defensor, em sua prateleira não consta nenhum troféu Hart como jogador mais importante do time na temporada — embora dificilmente alguém discorde do estrago monumental que faria — e que fará algum dia — sua ausência do Detroit.

Desde que passei a acompanhar a NHL, na temporada de 1996-97, que acompanho também a ascensão de Lidström, tanto no Detroit quanto na própria NHL. Já naquela temporada ele despontava como o principal defensor do time, após a saída do clássico Paul Coffey.

E já naquela época a impressão geral era de que ele era um defensor de rara qualidade, que atuava bem em praticamente todos os jogos. Absolutamente nada mudou nas características de Lidström: ele seguiu sendo um jogador sério, de um estilo de jogo praticamente único, paradoxalmente modesto e relativamente pouco popular. Um jogador que jamais apela para o embate físico, evita penalidades, não desfere trancos espetaculares, não faz jogadas sensacionais (ao menos não no senso comum) carregando o disco e que cisma de jogar com uma regularidade que é absolutamente incomum a qualquer jogador de qualquer esporte coletivo.

Tornou-se um líder com a saída de Coffey do time em 1996 e sobretudo com a saída de Yzerman em 2006, quando foi alçado à condição de capitão do time. Naquela época já havia alguns anos que era Lidström o jogador mais importante e valioso do time, e não o camisa 19. Isso são palavras do próprio Yzerman, e não são da boca para fora (“Lidström é o coração e alma da equipe”. É até hoje).

Apesar da tal modéstia, a gerência sempre soube valorizar o jogador: há algum tempo que o salário de Lidström é referência de teto dentro do elenco.

Eu tive a felicidade de ver jogar alguns dos maiores da história, mesmo que o final da carreira de alguns. Nomes como Wayne Gretzky, Mario Lemieux, Yzerman, Sakic, Ray Bourque, entre vários outros.

Eu tive e tenho a felicidade única de acompanhar a ascensão e o auge de Nicklas Lidström. O declínio, ainda estou pra ver. De jovem promissor a seis Norris, quatro Copas — uma delas como capitão —, um Conn Smythe, entre outras conquistas. Lugar assegurado como um dos maiores defensores da história do hóquei. Conquistou tudo o que um jogador pode querer.

Para mim, o melhor e mais importante jogador do Detroit desde que acompanho a NHL.
Nicklas Lidström
17 temporadas na NHL, todas pelo Detroit Red Wings
4 Copas Stanley (1997, 1998, 2002, 2008)
6 troféus Norris (2001-2003; 2006-2008)
1 troféu Conn Smythe (2002)
Recordes no Detroit Red Wings:
- pontos numa temporada, entre defensores (80 pontos, em 2005-06)
- assistências em playoffs (119)
- jogos em playoffs (235)

Marcelo Constantino confirma sua predileção pelas camisas n.º 5, número vestido por Lidström no Detroit e Junior no Flamengo.

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Página publicada em 15 de outubro de 2009.