Wade Redden foi a segunda escolha geral do recrutamento de 1995. Foi escolhido pelo New York Islanders logo depois de Bryan Berard ser escolhido pelo Ottawa Senators. Ambos os defensores acabaram negociados antes de jogarem na NHL e Redden foi parar justamente no Ottawa.

Em sua primeira partida na NHL, em seu primeiro disparo a gol, Redden marcou. Chegou a ser eleito o melhor novato num dos meses da temporada de estreia. O Ottawa Senators deixava de ser um time ruim e já naquele ano classificava-se para os playoffs pela primeira vez — na verdade Redden esteve nos Sens durante toda a sequência de classificações para os playoffs, de 1997 a 2008 – a combinação "Redden no time + classificação para os playoffs" é perfeita neste caso. Quando Redden saiu, em 2008-09, os Sens não se classificaram para os playoffs.

O defensor camisa 6 do time crescia a cada temporada. Ao longo de sua carreira no Ottawa, Redden ganhou um “A” na camisa e participou de Jogos das Estrelas. No auge, em 2005-06, anotou 50 pontos em 65 jogos, sua melhor média na carreira. Entre 2001 e 2006 teve como companheiro de time Zdeno Chara, com quem chegou a formar uma das mais respeitáveis duplas defensivas da liga. Até que, em 2006, os Sens precisavam escolher entre um dos dois para manter. O orçamento não permitia assinar com os dois, então com passe livre.

Ambos vinham de suas melhores temporadas na carreira. Chara era tido como mais defensivo e mais físico, enquanto Redden parecia mais completo e mais habilidoso aos olhos da gerência (e de boa parte dos analistas da liga). O Ottawa assinou com Redden e deixou Chara sair. Começava o declínio na carreira de Wade Redden.

As duas temporadas seguintes do camisa 6 ainda foram um tanto acima da média (da carreira dele, vide gráfico ao lado) em termos de produção ofensiva, mas defensivamente Redden piorou muito. O Ottawa chegou a tentar negociá-lo nesse período, mas o defensor recusou-se a renunciar à cláusula contratual que impedia sua negociação — enquanto isso, Chara firmava-se como um dos grandes defensores da liga.

Em 2008, ao fim do contrato e já em longa decadência, Redden assinou um milionário contrato com o New York Rangers de US$ 39 milhões por seis anos. Poucos foram os que não enxergaram uma supervalorização naquele contrato, mas... é aquela coisa, os Rangers são assim mesmo.

O efeito? Uma temporada ainda pior que todas as anteriores em 2008-09. E na temporada seguinte? Pior ainda. É simbolicamente lembrado o fato de ter sido Redden o último homem a “marcar” Sergei Fedorov, quando este marcou o gol que eliminou os Rangers na primeira fase dos playoffs em 2009. Foi como um marco da passagem do defensor pelo time de Nova York.

E então, o que fazer com seu (supostamente) principal defensor, com contrato por mais quatro anos ao custo de US$ 6,5 milhões por temporada? Era o que boa parte na liga se perguntava desde o dia da eliminação do time. O boato de que os Rangers poderiam mandá-lo para a AHL foi crescendo ao longo dos meses, passando do inacreditável para o mais viável. E eis que aconteceu: Redden foi colocado na Desistência, ninguém o quis, e foi enviado para o time afiliado aos Rangers na AHL, o Hartford Wolf Pack. Não havia espaço no orçamento do time para acomodar o jogador e seu alto salário, que, por sua vez, não rendiam a contento. Solução: mandá-lo para a liga menor, e abrir espaço para o time na NHL.

Aos 33 anos de idade, Redden precisava escolher entre cumprir seu contrato e jogar na liga menor ou rescindi-lo e tentar um retorno à NHL num patamar bem menor.

E você, o que faria no lugar dele? Tente não pensar somente nos milhões de dólares restantes no contrato — lembre-se, esses caras ganham milhões como você ganha milhares. Tentaria a Europa? Seu valor de mercado atual está no poço, é bom lembrar. Persistiria na AHL e trabalharia duro para mostrar seu valor e tentar retornar à NHL pelos Rangers mesmo? Pode tirar o cavalinho da chuva, porque você foi para a AHL predominantemente pelo salário que você recebe — que estoura o teto do time. Pra você retornar, tem de mostrar que é absolutamente vital ao time, e, convenhamos, por mais que você se esforce, dificilmente isso vai ocorrer. Rescindiria seu contrato e buscaria novos rumos, necessariamente em patamares MUITO menores em termos de salários? Se a grana não é tudo para sua vida (e eu realmente acredito que não seja no caso de Redden), entendo que esta é a melhor opção.

Mas não foi o que ele escolheu. O defensor apresentou-se no fim de setembro último ao Hartford para treinar com a equipe e, ao que tudo indica, esse é o caminho escolhido.

Fico imaginando o constrangimento de Redden em jogar na AHL. Não exatamente por jogar numa liga menor, mas por receber um dos maiores salários da NHL e jogar na liga menor por não ter mais espaço na maior. Por ser considerado uma das piores contratações da história da NHL. Por acabar de ser pai pela primeira vez e, dias depois, ser demovido da NHL.

Eu já vi figurão recebendo mega salário sem produzir a contento na NHL, já vi figurão sendo enviado para as ligas menores, mas nunca havia visto a conjugação dos dois. Ao menos não na magnitude de Wade Redden. E é perfeitamente compreensível a atitude dos Rangers: se falta espaço no orçamento e eu tenho um jogador que pesa no orçamento não rende nem perto do esperado, este é a bola da vez.

Afinal, o que houve com Redden?

Difícil encontrar uma resposta exata. Mas podemos identificar facilmente que os dois últimos no Ottawa já foram de queda. Os dois anos seguintes, nos Rangers, foram catastróficos. Talvez ele seja um jogador que precise de qualidade superior ao redor. Talvez o peso de tornar-se defensor número 1 tenha sido demais para ele — há pessoas que não nasceram para liderar. Talvez Redden seja um jogador fortemente afetado pelo aspecto confiança — daqueles que, se a perdem, dificilmente a recuperam e isso arrebenta com seu rendimento.

Ainda assim, não consigo enxergar esta situação se prolongando por toda a duração do contrato. Em outras palavras, não consigo acreditar que Redden jogará mais quatro anos na AHL.

Marcelo Constantino é um dos vários que acreditavam no potencial de Wade Redden na NHL ao longo desta última década.

• Capa
• Editorial
• A volta da NHL a Québec
• Os novos calouros da liga
• O incrível declínio de Wade Redden
• Primeiras manchetes da temporada
• Price não inspira confiança