Por
Thomaz Alexandre
Esse ano a tríade do Oeste pouco vai poder falar sobre a tal superioridade
de sua conferência. Até porque, nem mesmo às finais de conferência um
de seus representantes chegou, quanto mais contestar ao vivo nas finais
o mérito dos Devils.
Nos últimos nove anos, apenas três vezes o campeão saiu da Conferência
Leste. Nas três vezes foi o New Jersey Devils. Os seis títulos do Oeste
se dividem entre Detroit Red Wings, com três, Colorado Avalanche, com
dois, e Dallas Stars, com sua contestada vitória em 1999. Mesmo assim,
Dallas justifica sua presença por aqui com dois Troféus dos Presidentes
e a melhor campanha do Oeste em 2003.
Nas suas duas conquistas anteriores, os Devils varreram os Red Wings
em 1995 e bateram os Stars na prorrogação do jogo 6 em 2000. Os Wings
viriam a ser nada menos que o melhor time da temporada regular seguinte,
além de campeão em 1997 e 1998. Os Stars por sua vez foram campeões
no ano anterior (1999) e conquistaram o Troféu dos Presidentes no mesmo
ano e um antes também.
Com a decisão de 2003, New Jersey também atingiu três finais em quatro
anos. A única derrota, em 2001, veio em sete jogos para o Colorado Avalanche.
O Avalanche venceu o Troféu dos Presidentes naquele ano, além de contar
com uma temporada sem precedentes de Joe Sakic: o capitão foi o máximo
goleador, votado pela melhor performance defensiva de um atacante, melhor
combinação de excelência esportiva e conduta cavalheiresca, e acima
de tudo jogador mais valioso.
Desta vez, contudo, a concorrência foi muito menos qualificada historicamente,
bem mais pobre em nomes ou em resultados consistentes. A representar
o Oeste estava um clube que, dois meses e meio atrás, era concorrente
legítimo na categoria “piada da NHL nos últimos 10 anos”, mesmo dentro
de sua melhor temporada regular (nada históricos 95 pontos e sétimo
colocado no Oeste).
Não havia Patrick Roy contra os Devils, e nem haverá mais daqui por
diante. Não havia Joe Sakic e, como em 2001, não havia Peter Forsberg,
e muitos acreditam que o melhor jogador de hóquei com menos de 35 anos
voltará para a Suécia após a próxima temporada. Não havia Ed Belfour,
agora em Toronto, para tentar detê-los, nem Joe Nieuwendyk ou Jamie
Langenbrunner para marcar gols chave contra Brodeur: agora eles o fazem
a seu favor. Yzerman ou Fedorov, eles não puderam bater Giguere, e se
tentarem no ano que vem será por outro time ou simplesmente não será.
Ao contrário da maioria dos nomes presentes na tríade do Oeste, os Devils
não pagam muito a seus jogadores. Martin Brodeur, membro certo do Salão
da Fama e único goleiro em atuais condições de desafiar os recordes
de Patrick Roy, ganha na casa dos oito milhões de dólares anuais.
Seu ex-companheiro Bobby Holik ganha um milhão a mais agora que assinou
com o New York Rangers, e sua produção pós-transferência passa longe
de “louvável”. Falando em Holik, central de marcação, impossível não
citar Michael Rupp, jovem de perfil semelhante que saiu do nada no início
dos playoffs e, com seu salário que tangencia o mínimo da liga, marcou
três pontos no jogo 7 das finais. Holik, Sather (Glen, Gerente Geral
dos Rangers): Lamouriello e Rupp mandam lembranças.
Até mesmo o Mighty Ducks of Anaheim, “menor” adversário dos Devils em
finais, mas que caprichosamente só não lhes perturbou mais que o Colorado
em 2001 -- na verdade a única derrota de New Jersey em decisão de Stanley
Cup -- possui seu Paul Kariya a dez milhões anuais.
Não, não vou me juntar ao coro do momento e dizer que Scott Stevens
é o melhor líder da atualidade. Mas se eu realmente detestaria um sujeito
desses em meu time, garanto que é mais seguro assim do que jogar contra
ele. Lamouriello pode não ser o melhor GM para trazer grandes nomes
que por si só impulsionem uma corrida pela Stanley Cup, ou “comprar”
um grande time que garantisse a seu jovem capitão -- por falta de opção
-- um lugar na história. Mas ele tem tido as pessoas certas atrás de
seu banco, vide Jacques Lemaire, Larry Robinson e agora a dupla Constantine-Burns.
No gelo, ele tem os jogadores suficientes para vencer. Mesmo que seja
por 1-0 ou 2-1, mas “devagar e sempre”.
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Thomaz Alexandre tem como novo vício no hóquei as escalações dos
times. |
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