Por Daniel Martins

Segundo minhas contas, a série de hóquei sobre o gelo NHL, franqueada pela produtora norte-americana Electronic Arts Sports (ou apenas EA Sports), completa doze edições sem parar. Nos remotos tempos de Super Nintendo ou Mega Drive, fez muitos de nós virar a noite tentando entender o que era um "icing" ou um "face-off" e vibrar com as disputas de pênaltis ou seus uniformes coloridos e vibrantes (tirando aquela coisa estranha que os Canucks usavam).

A partir da edição de 2004, a EA revolucionou o gênero e retirou do jogo um atributo que vinha sendo alvo de duras criticas por parte dos usuários: sua jogabilidade arcade. Isso mesmo: era fácil derrubar o adversário, era fácil fazer gol... E tudo sem parar sequer de patinar! Então, com vários especialistas no esporte, a produtora mudou todo o sistema de jogo. Patinar? Agora é difícil, e você pode acabar indo de um lado pro outro. Derrubar alguém? Claro! O hóquei não é nada sem os famosos trancos, mas agora tudo depende da sua pontaria, assim como na vida real. Alias, uma novidade que também surgiu na versão comemorativa de dez anos foi a de poder esmagar o adversário (imaginem o quanto é legal prensar Paul Kariya nas laterais com monstros como Derian Hatcher ou Zdeno Chara?) ou segurá-lo nas laterais com os botões de hook ou body check.

Com o locaute, a versão 2005, que trazia Markus Naslund na capa, passou meio despercebida, mas ainda assim inovou na jogabilidade, com os comandos mais suaves no gelo. Passada toda essa confusão, finalmente a Electronic Arts chega próximo à perfeição com o NHL '06, que pode ser jogado em qualquer plataforma da geração atual de videogames ou PCs.

Contando com Vincent Lecavalier na capa, astro do Tampa Bay Lightning — ultimo campeão da Copa Stanley —, o jogo traz toneladas de gols, muita velocidade, possibilidade de mudar quase tudo, modos extras, trailers, vídeos, defesas, brigas... Mas tudo o que esperávamos não vem no pacote. A ausência de Sidney Crosby e Alexander Ovechkin, estrelas da atual geração de novatos, deixaria nosso NHL 2006 mais triste se não fosse o modo para criar jogadores. Então, antes de jogar, certifique-se de ter atualizado os elencos ("rosters") com os dois jogadores. Ah, claro, o visor espelhado de 'Chkin está lá!

Jogabilidade
Quem jogou as duas ultimas versões do jogo não vai demorar muito para se acostumar à nova parte física, mais real e pesada. Virar de um lado para o outro ficou mais difícil e, conforme o tempo passa, seu jogador perde coordenação, devido ao cansaço da partida. Portanto, aos apressados e adeptos do jogo veloz, economizem a barra de stamina (uma barra amarela logo na frente do seu jogador), pois, se ela acabar, só com a virada do período ou um pedido de tempo para recarregá-la. E não é muito bom ver jogadores como Bobby Holik passar como uma flecha por Ilya Kovalchuk sem poder reagir.

Os disparos de longe e de perto são praticamente impossíveis de acertar, e isso tudo com a velocidade da porrada verificada no canto direito superior da tela (como no tênis, porém, em milhas por hora). Até aí, nenhum espanto: a cada ano que passa, o nível dos goleiros da NHL sobe. Mas é só apelar para os disparos de primeira ("one-timers") e "right-analog skills" (RAS) para nunca errar um gol. Pelo menos em 90% das tentativas, você deixará o goleiro a ver estrelas. Não espere ver Sergei Zubov ou Brett Hull acertando seus famosos slap-shots direto da linha azul, pois é muito difícil que tenham êxito. Mas experimente utilizar o botão de deking perto do goleiro e apertar rapidamente o botão de chute para ver o resultado! Dificilmente ou quase nunca ocorrerão shutouts, e partidas com menos de quatro gols são escassas como a modernidade em Uberlândia.

Os jogadores e times em si estão mais equilibrados. É possível, dependendo da perícia do jogador, vencer um Detroit Red Wings inspirado jogando com um fraco e esquecido St. Louis Blues. Não há muita diferença, a não ser o abismo que separa os jogadores All-Star dos normais e mortais. O já citado RAS só e possível ser realizado com êxito dentro da zona ofensiva de cada time se seu jogador possuir uma estrela como marcador, e não o semi-círculo padrão. Portanto, nem tente fazer firula na frente de Dominik Hasek com um jogador meia-boca, pois pode ser o bastante para um contra-ataque mortal. E é aqui que entra a inteligência artificial aplicada pela EA na série. Os adversários controlados pela máquina não saem correndo feito loucos, mas esperam o time se organizar, mudam de estratégia e, aí sim, correm para o gol. E quase nunca erram, diga-se de passagem.

Os novos comandos de off-ice action estão presentes, ou seja, você pode estar controlando um jogador que não está no lance, correr para onde quer receber o passe e aplicar um violento disparo contra um goleiro infeliz. Mas não tente fazer isso se ainda não possui a malícia do jogo, pois é bem difícil se acostumar com as viradas de passe e interceptações.

Os goleiros são uma atração à parte, podendo ser manualmente controlados — e devidamente ultrapassados — pelos jogadores. Mas não se empolgue muito. Estrelas como Roberto Luongo ou Miikka Kiprusoff são apenas nomes no jogo, nada mais. Ainda mais se você gasta algumas horas do dia se dedicando a aprimorar as habilidades para marcar gols. Porém, mesmo assim as defesas estão espetaculares (quando acontecem, claro) e diferentes. E um fator que vale ser ressaltado é a veracidade dos discos indo em direção ao gol. Não existem mais os "discos magnéticos" das outras versões, que seguiam como discos uniformes e belos pelo ar, sem sequer sofrer uma oscilação na trajetória. Agora eles viram, desviram, pegam efeito. Ou seja, cuidado para não mandar um torcedor para casa mais cedo.

Os trancos desta versão estão realistas ao extremo. Aperte uma vez o botão de body check, e seu jogador tentará parar o adversário. Aperte e segure, e encha o Zé Mané do outro time de hematomas! Só não tente fazer isso com um jogador pequeno em um grande (derrubar Hatcher usando um Steve Ott não é nada real, certo?). E, para completar, dependendo da intensidade da pancada, você manda o taco do adversário para longe, obrigando-o a correr atrás do prejuízo. Hat trick para a EA: os trancos estão perfeitos! Isso sem contar as inúmeras trombadas sem a necessidade do botão de body check.

Ah, claro, as brigas! Aperte o botão, espere a CPU aceitar e pronto: encha a cara do seu adversário de porrada! E isso inclui os goleiros mais insanos do mundo! Mas nada de "bloodbath", apenas um jogador por vez entra na pancadaria.

Som

Jim Hughson e Craig Simpson estão lá, e com todo o gás! Toda a informação possível sobre a partida está na narração espetacular do jogo, que não está mais com a voz com "som de rádio AM". Até cidades natais, prêmios, medalhas, gols na temporada e mais/menos na partida são comentados durante o decorrer do jogo. A torcida está presente, sem muita mudança das outras edições, apenas com novos gritos. Bem que alguém poderia me dizer o que eles gritam na arena do Dallas Stars!

Na versão testada, do Playstation 2, existe uma opção que pode ser ligada, chamada on-ice sound. Aqui você pode escutar toda a ação dentro do gelo, mas sem narração. Na versão PC pode ser tudo simultâneo, então estão garantidos gritos dos jogadores, trancos nas laterais e uma narração empolgante a cada gol ou drible. Experimente um breakaway com um jogador de estrela no marcador. É inesquecível!

Gráficos

Excepcionais! Até expressões faciais foram incluídas no jogo, isso sem falar no fato de os jogadores não apresentarem mais os cabelos achatados. Agora até Mike Modano tem seu famoso e polemico corte próximo da realidade!

Reflexos, sombras, efeitos de luz e a torcida estão muito bem desenhados, mas as arenas mereciam uma melhor dedicação dos produtores. Não espere jogar num Madison Square Garden bonito, ou no enorme American Airlines Center, pois mais parecem ginásios de vôlei do SESI aqui do Brasil.

Os uniformes estão mais reais e vêm numa quantidade impressionante. Até uniformes da década de 20 estão presentes nesta versão do jogo. Portanto, jogadores mais antigos ou da velha guarda do hóquei poderão realizar o sonho de jogar com Hartford Whalers, Winnipeg Jets e Minnesota North Stars.

Os replays constantes no jogo estão no verdadeiro estilo ESPN de ser. Bem feitos, com comentários e passados em vários ângulos, assim como as penalidades. É interessante ver as jogadas quando acaba a partida que se disputou.

Mas legal mesmo é ver a interação entre os juizes e técnicos juntamente com a torcida. Nesse ponto, nada a reclamar; muito pelo contrario! É divertido ver jogadores discutindo com os árbitros e estes apenas sinalizando para o banco de penalidades!

Nota para os designers da EA: aquela garrafinha em cima dos gols já está ficando passada. Que tal alguma novidade?

Ah, repare no telão dos jumbotrons! É tudo em tempo real!

Modos de jogo

Os tradicionais play now e exhibition estão lá, para as partidas sem compromisso. Mas, se você quiser renunciar à sua vida social e passar horas regadas a salgadinhos e cerveja na frente da TV, basta selecionar o modo dinastia ("Dinasty Mode"). Cada time tem um objetivo a ser conquistado, e é bom que você os leia atentamente para não fazer besteira. Dentro da central de GG desse modo, inúmeras opções estão presentes, desde simular uma partida (podendo intervir a qualquer momento para o jogo real — uau!) até mudar linhas, executar as mais diversas trocas, e, claro, utilizar a grana que você ganha a cada vitória para efetuar melhorias ("upgrades").

Fique sempre atento aqui às estatísticas da temporada. É sempre bom dar destaque a algum jogador e garantir alguns trocados a mais ganhando troféus como o Calder, o Maurice Richard ou a tão sonhada Copa Stanley. Mesmo para quem não entende muito de hóquei, não é difícil arrumar o time para começar a jogar no modo dinastia. Garanta algum resultado nas montagens de linha e, caso não saiba a diferença entre Wayne Gretzky e Mario Lemieux, apenas clique ou aperte o botão "Best Lines". Pronto: tudo o que há de melhor no seu elenco estará lá, pronto para quebrar o outro time em pedaços ou tomar uma sacolada de gols... Só não esqueça de olhar sempre a parte de finanças, onde se pode conferir a assiduidade dos torcedores e os Team Reports. Você pode estar jogando com um Nikholai Khabibulin cansado no gol e não saber.

Nada de Copa do Mundo de Hóquei. O máximo que você pode aproveitar envolvendo os times nacionais ou seleções é um torneio com duas chaves, sendo disputado ao estilo Copa do Mundo e sem uniformes oficiais. Quer um conselho? Fuja desta modalidade. É totalmente sem graça jogar com as estrelas de cada país, e suas partidas não terminarão com menos de oito gols para cada lado.

Mas o melhor ainda está por vir! Jogue NHL 94, com todas as opções originais, incluindo o já famoso slogan "EA SPORTS, IT'S IN THE GAME!". Claro, quem não falou isso por horas a fio quando era mais novo? Está tudo lá, assim como no Super Nintendo ou Mega Drive.

Ou então, para terminar, que tal comprar um adaptador de quatro controles e chamar uns amigos para dar porrada ou fazer gols? É o EA Sports Free For All. Um modo divertido, disputado numa arena ao ar livre, onde você pode mudar as opções de quem ganha ou quem perde. E isso tudo contando com a opção "Big Head". Isso mesmo, prepare-se para colocar Daniel Alfredsson e Jaromir Jagr para disputar uma pelada em modo Mini-Craque e garanta muitos risos para esta partida!

Concluindo...

Nem pense em jogar NHL 06 sem antes "fabricar" Crosby e Ovechkin, ou então ter em mãos (no caso do Playstation 2) pelo menos um controle Dual Shock 2 — o famoso controle preto. É um jogão, onde a diversão fica acima de qualquer outro fator. Não espere ser o rei da área com o seu goleiro, porque shutouts são quase impossíveis! Ainda por cima, com as novas regras, é muito legal utilizar a "trapaça" da 2-line-offside pass. Isso mesmo! Mande o disco para quem está na banheira e carimbe-o para dentro do gol!

De preferência, leia um pouco umas edições da TheSlot.com.br para saber pelo menos o básico sobre o esporte. Assim como em qualquer outra coisa, é bom sabermos o que estamos fazendo. E, se você escalar um defensor para uma linha de ataque, tudo bem. Realmente, na nova NHL ou no novo (jogo) NHL, ainda é complicado se acostumar com os novos elencos!

Bom jogo!

Prós
1) Uniformes — Mais reais e em várias opções.
2) Som — Perfeito! Soberbo! Jim Hughson é o cara!
3) Gráficos — Em geral, fantásticos. Ah, como é bom viver na atualida-de!
4) Free For All — É hilário ver seus jogadores favoritos com o cabeção jogando em uma arena ao ar livre.

Contras

1) World Tournament — Se os rumores estiverem certos, o NHL '07 trará um modo Olimpíada de Turim. Só assim mesmo, hein, EA? Fique fora deste mico no '06
2) Crosby e Ovechkin — Por quê? O que fizemos de errado?
3) RAS — Fazer gol de letra nunca foi tão rápido e divertido! Mas é ridículo de fácil, e garante pelo menos três gols no jogo pro seu jogador "estrela".
4) Goleiros — Defesas reais? Deslocamentos fantásticos ou sobre-hu-manos? Sim, o jogo tem tudo isso, mas na hora de parar os chutes... Que saudades do Gilmar Bigode!


Daniel Martins é fã de hockey, torcedor do Dallas Stars, e vibrou com o novo jogo! Tentou, tentou e finalmente conseguiu fazer três shutouts. Vem jogando uma média de quatro horas por dia, em busca da partida perfeita e continua tendo esperanças de que Mike Modano vá ganhar algum troféu no fim da temporada. Aconselha a todos a rede TSN.ca para cobertura em tempo real dos jogos, e escreveu esta matéria ouvindo o diretório d:\backup\Daniel\mp3 Daniel\Hard Rock Playlist.mp3.
 
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Página publicada em 4 de janeiro de 2006.