Um com problemas de teto salarial (Devils), outros com decisões administrativas questionáveis (Flyers e Isles), outro que ainda está em formação (Penguins). Sobram os Rangers, que podem até ser considerados os favoritos da divisão, mais pelos problemas dos outros que por mérito próprio. A briga promete ser boa no Atlântico.

New Jersey Devils
O grande problema dos Devils neste começo de temporada foi o teto salarial. Eles estavam correndo risco de perder jogadores importantes, como o goleiro-reserva-que-não-joga-nunca Scott Clemensen, os defensores David Hale e Paul Martin e, claro, o artilheiro e goleador Brian Gionta, que teve sua melhor temporada em 2005-06. Sem renovar com os três, peças-chave para qualquer aspiração, o teto salarial já tinha sido atingido. Mas conseguiram colocar o ponta direita Alexander Mogilny na lista de contundidos por toda temporada e trocar o defensor Vladimir Malakhov para o San Jose Sharks (total de US$ 7,1 milhões liberados), o que permitiu que voltem com a mesma base de 2005-06. Voltam, então, além de Gionta, o central Scott Gómez, o ponta direita Jamie Langenbrunner e a estrela Patrik Elias, recuperado da hepatite que o tirou de praticamente toda a temporada passada. A defesa ainda é formada apenas por jogadores esforçados, como Hale, Martin, Brad Lukowich, Colin White e Brian Rafalski, mas impõe respeito. A brincadeira do começo do texto, sobre Clemmensen, é porque a base mesmo dos Devils é o melhor goleiro da liga (ainda que seus números não mostrem), Martin Brodeur. Se ele não tiver uma boa temporada, os Devils também não terão. Os Devils estão novamente prontos para disputar a divisão. Têm um ataque balanceado, uma defesa muito física e um supergoleiro.

Pittsburgh Penguins
Começo adiantando que este time está ainda muito longe de grandes aspirações. Se eles conseguirem chegar aos playoffs, fantástico. Mas o objetivo dos Penguins, além de se livrar dos problemas financeiros, é desenvolver a jovem — e extremamente promissora — base da equipe. Claro que para falar dos Pens precisamos citar Sidney Crosby. Ouvi muitas críticas ao jovem calouro na temporada passada, que ele não é tudo isso, que o supervalorizam demais. Eu não consigo concordar com isso. Pode-se não gostar do seu estilo mais passador em contraste com o explosivo Alexander Ovechin, dos Capitals, mas são estilos diferentes. Crosby foi fantástico na última temporada, com 102 pontos. Tudo com pouca idade (18 anos) e pouco apoio. O segundo maior pontuador da equipe foi o defensor Sergei Gonchar, com 58 pontos. Além de Crosby, há a estréia do "refugiado" Evgeni Malkin, vindo da Rússia, que foi recrutado em 2004, logo após Ovechkin, e simplesmente desertou de seu time, reaparecendo do nada nos EUA. Ele impressionou a comissão técnica, mas, contundido, não começará a temporada. Além dos dois fenômenos, os Pens contam com o central Jordan Staal — irmão de Eric, campeão com o Carolina Hurricanes —, os defensores Ryan Whitney e Brooks Orpik e os pontas Colby Armstrong, Michell Ouellet e Ryan Malone. Veteranos, como Gonchar e os pontas John LeClair e Mark Recchi, dão suporte ofensivo para os garotos poderem se desenvolver. No gol, aquele que tem sido marcado de perto pela torcida, Marc-André Fleury, escolha de primeira rodada em 2003, deverá ser o titular, com Jocelyn Thibault como reserva e tutor. Não podemos esperar muito dos Pens nesta temporada; não há nem como. Eles não tem veteranos que possam realmente fazer diferença, mas é fato que essa equipe, em duas ou três temporadas, tem tudo para ser a grande equipe desta divisão.

New York Islanders
Eu achava que o problema dos Islanders era o ex-GG Mike Milbury, aquele das trocas sensacionais (vou dedicar um artigo sobre isso), ou do contrato de dez anos (dez anos!) para o supervalorizado e instável Alexei Yashin. Achei que, depois disso, eles não seriam capazes de mais nada. Trouxeram o GG Neil Smith, aquele que montou a equipe dos Rangers campeã em 1994. Trouxeram Ted Nolan, que não treinava uma equipe desde 1997, mas mostrou grande potencial. Então, as coisas desandaram. Um mês se passou, e Smith estava fora. Apesar de ter trazido jogadores expressivos, como os atacantes Chris Simon, Mike Sillinger e Andy Hilbert e os defensores Brendan Witt e Tom Poti, Smith acabou se chocando com o dono da equipe, Charlie Wang. Smith sempre foi conhecido por ter opiniões fortes e gerenciar a equipe à sua maneira. E é notória a influência de Wang nos negócios em Long Island. Para o lugar de Smith, foi chamado o ex-goleiro reserva Garth Snow, cuja experiência se resume a 0 (zero) jogos comandando uma equipe. E, como uma de suas mais impressionantes decisões, ele concedeu um contrato de 15 (quinze!) anos para o goleiro Rick DiPietro. Não que ele seja um mau goleiro. Pelo contrário: é muito promissor e jogou muito bem pela seleção norte-americana na última Copa do Mundo. Mas ele tem 25 anos. Se precisar ser trocado, quem vai querê-lo? Sinceramente, é difícil entender. Enfim, os Islanders têm time para disputar playoffs? No papel, sim. Mexeram-se muito, trouxeram bons jogadores, como os já citados, além do defensor Sean Hill e o ponta direito Richard Park. Mas não adianta ter um time com jogadores reconhecidos como Miroslav Satan e Jason Blake, se por trás de tudo reina a desorganização.

New York Rangers
Duas "coisas" levaram os Rangers aos últimos playoffs: Jaromir Jagr e Henrik Lundqvist. Jagr liderou a tabela de goleadores e artilheiros por diversas rodadas, até ser desbancado por Jonathan Cheechoo e Joe Thornton, respectivamente. O estreante Lundqvist foi a grande sensação nova-iorquina, com mais de 30 vitórias e 92,2% de defesas. Assim, uma equipe limitada, tanto ofensiva quanto defensivamente, quase terminou em primeiro no Atlântico. Claro que a equipe foi varrida na primeira rodada pelos Devils, mas, após sete temporadas de seca, era mais do que a torcida imaginava. Para esta temporada, os Rangers reforçaram-se. Trouxeram os pontas Brendan Shanahan e Adam Hall, o central Matt Cullen e os defensores Karel Rachunek, que estava na Rússia, e Aaron Ward. E ainda mantiveram a forte base da temporada passada, como Martin Straka, Michael Nylander e Petr Prucha, além dos sólidos Darius Kasparaitis, Marek Malik e Michal Rozsival. Mas talvez o grande trunfo dos Rangers esteja na juventude. Além de Fedor Tyutin, que fez uma grande temporada, há o promissor Jarkko Immonen, o raçudo Nigel Dawes e o esforçado Ryan Hollweg. Novamente, os Rangers entram com uma defesa limitada, mas competente, e um ataque reforçado de jogadores de melhor calibre, o que deve tirar a pressão de Jagr. Mas o grande nome será novamente Lundqvist, que vem de uma medalha de ouro na Copa do Mundo, carregando a Suécia. Não seria demais dizer que o time a ser batido no Atlântico é este.

Philadelphia Flyers
Clichê: a sorte dos Flyers reside na saúde de Peter Forsberg. Este clichê era válido quando Foppa ainda jogava no Avalanche. Mas vale a pena apostar tanto nele? Vale, e muito! Forsberg tem uma impressionante média de 1,275 pontos por jogo. Em 2005-06, fez 75 em 60 jogos. Mas e se algo der errado com ele, novamente? Para evitar isso, os Flyers fizeram o possível para renovar com o ponta Simon Gagne, e também trouxeram os velozes Kyle Calder e Geoff Sanderson e o sempre instável Randy Robitaille. Contando ainda com Petr Nedved e com os promissores R.J. Umberger, Mike Richards e Jeff Carter, os Flyers vão aos poucos ganhando sua forma de sempre. Mas algo em que os Flyers erraram, e muito, foi deixar o defensor Kim Johnsson sair para o Wild com passe livre. Os Flyers têm uma das defesas mais lentas da liga, e um pouquinho de ajuda faria bem. A defesa conta com o poste Derian Hatcher, que nesta nova era de velocidade na NHL só tende a piorar, o também não muito veloz Mike Rathje e jogadores inexperientes, como Joni Pitkanen e a surpresa Nolan Baumgartner, que marcou 34 pontos pelos Canucks. É pouco, ainda se pensarmos que os goleiros, apesar de promissores, têm falhado justamente na pós-temporada. Tanto Robert Esche como Antero Niitymaki são goleiros de suas respectivas seleções (EUA e Finlândia), mas ambos já falharam em momentos cruciais. Os Flyers irão para os playoffs, isso é fato. Mas terão time para ir longe? Ouviremos no meio da temporada que a equipe precisa de um defensor com mobilidade, para fazer a transição para o ataque, tenho certeza. Ao menos uma coisa boa é que, com a aposentadoria de Keith Primeau, o time tem espaço em sua folha salarial para trazer alguém de grande impacto.


Fabiano Pereira é colunista da TheSlot.com.br.
 
 
 
 
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Página publicada em 7 de outubro de 2006.