Num período de meros 1.384 dias, o Buffalo Sabres foi do Capítulo 11 à possibilidade de conseguir a vitória número 11, que teria sido o recorde de vitórias seguidas em um início de temporada (Capítulo 11 é como a concordata é conhecida nos EUA). Mas o travessão ironicamente se colocou no caminho dos Sabres: o chute de Thomas Vanek na disputa de pênaltis desviou na luva do goleiro dos Thrashers, Kari Lehtonen, e chocou-se, caprichoso, contra o poste de cima, selando a vitória do Atlanta por 5-4.

Até agora, o time de Buffalo ganhou 21 dos 22 pontos que disputou, graças em parte a vitórias nos pênaltis. Três vitórias vieram dessa maneira, provando que quem com ferro fere com ferro será ferido. Aliás, essas três vitórias nos pênaltis é que me deixam com a pulga atrás da orelha, justamente por causa do recorde que elas ajudaram a igualar. Os Leafs de 1993-94 não tiveram o benefício de disputas por pênaltis. Esses três jogos que os Sabres levaram depois da prorrogação teriam sido meros empates 13 anos atrás, e ninguém estaria falando de recorde algum. Mas a decisão tomada pela NHL de acabar com os empates causa esse tipo de "problema".

Independentemente disso, os Sabres de 2006-07 parecem ser o modelo a ser seguido nesta nova era da liga, que não se resume às disputas de pênaltis. O time não é particularmente grande ou mesmo físico, mas é surpreendentemente agressivo no ataque e mais rápido que o Mirandinha quando não está pensando ao mesmo tempo. Essas duas últimas características, por sinal, não teriam grande valor na "velha" NHL, onde o agarra-agarra era mais importante e fazia com que times velozes não tivessem vantagem alguma e time algum pudesse arriscar uma postura mais agressiva a não ser se fosse para se defender.

"Se eles continuarem jogando assim, vão acabar ganhando 80 jogos", previu o ponta direita Jaromir Jagr, dos Rangers, na semana passada. "Do mesmo jeito que o New Jersey introduziu a armadilha há dez anos, o Buffalo introduziu algo diferente. Eles mudaram a liga. Eles jogam de uma maneira totalmente diferente."

Os pululantes Sabres confiam em três linhas pacientes o bastante para segurar o disco por um segundo a mais, a fim de fazer uma jogada. Quer dizer, são três linhas, mas a estrela emergente do time é o ponta direita Maxim Afinogenov. Aos 27 anos, ele dividia o segundo lugar na artilharia da liga com 17 pontos (seis gols e 11 assistências), apesar de ser apenas o quinto colocado entre os atacantes do Buffalo em tempo de gelo.

Em 17 de outubro, Afinogenov, que já não perde a paciência e o disco no fim de disparadas, passou voando pelo inerte defensor Derian Hatcher, dos Flyers, e marcou o sexto gol da humilhação por 9-1 que foi possivelmente a gota d'água para o pedido de demissão do GG do Philadelphia, Bob Clarke. E, na quinta-feira passada, Afinogenov abusou numa jogada para cima do veterano Brendan Witt, dos Islanders, em uma audaciosa disparada que culminou em outro gol.

"Max não era conhecido como um finalizador", lembra o técnico dos Sabres, Lindy Ruff. "Hoje ele é mais imprevisível, ele chuta quando as pessoas acham que ele vai tentar o drible."

A derrota de sábado foi a primeira dos Sabres desde que eles caíram por 4-2 frente aos Hurricanes no jogo 7 das finais da Conferência Leste. Os Sabres, com seu novo logotipo — que, não muito de longe, lembra demais o do San Diego Chargers, da NFL, liga de futebol americano —, tiveram um aumento espetacular de 67% na venda de carnês de ingressos neste ano, passando para 14.815. Para os 35 jogos em casa que faltam, há menos de 30 mil ingressos disponíveis.

Para uma liga que depende tanto da bilheteria dos jogos e tem sido atormentada por pequenos públicos em certos jogos (a seqüência de 487 jogos com casa cheia do Avalanche foi encerrada em 16 de outubro, e o público divulgado para a vitória número 10 dos Sabres em Long Island foi de apenas 8.861 pagantes), o renascimento do Buffalo representa um grande avanço.

Desde que perderam a Copa Stanley de 1999 para o Dallas com o infame gol de Brett Hull com o pé na área, os Sabres já sofreram bastante, desde uma concordata a times pouco ou nada competitivos que afugentaram a torcida de seu estádio por algumas temporadas. Mas agora a confiança é tamanha que o goleiro Ryan Miller já sugeriu que o time pode estar prestes a começar uma nova seqüência.

"Por que não?", perguntou ele, depois de o time ficar um pouco a mais no gelo para saudar a torcida depois da derrota. "Eu não tenho nada melhor para fazer nos próximos [11] jogos."

O recorde dos Leafs já foi igualado, mas agora, para ser superado, só esperando pela próxima temporada. Por isso, o próximo objetivo terá de ser um mais difícil: o recorde de 17 vitórias seguidas em uma mesma temporada, que pertence aos Penguins desde 1992-93.


Alexandre Giesbrecht, 30 anos, está com um olho roxo desde a semana passada, cortesia de uma bolada. Na lateral do rosto. De raspão. (?)
TROPA Paul Gaustad, Nathan Paetsch e Jiri Novotny marcham para o gelo, onde seriam derrotados pela primeira vez na temporada.
(Rick Stewart/Getty Images - 28/10/2006)

(foto de abertura: Rick Stewart/Getty Images - 14/10/2006)
Edição atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Contato
© 2002-06 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a republicação do conteúdo escrito, desde que citada a fonte.
Página publicada em 1.º de novembro de 2006.