Por Thiago Leal

Esporte é coisa de homem. Pelo menos, até hoje, muita gente ainda vê assim.

Ora... quem liga para a Copa do Mundo de Futebol Feminino? A Seleção Brasileira foi eliminada nas quartas-de-final na edição passada, em 2003. Quantos brasileiros sabem disso? E até mesmo esportes tecnicamente mais aceitáveis para com as mulheres, como vôlei ou basquete... será que os quase 200 milhões de cidadãos sabem que as meninas do Brasil são tricampeãs consecutivas do Grand Prix da Ásia, sendo as únicas hexacampeãs da competição? Mesmo fora do Brasil, será que os russos comemoraram tanto o título de seu país no Campeonato Mundial Feminino de Vôlei quanto comemoram simples vitórias no futebol? E os italianos? Deram mais valor ao título da Seleção Feminina de 2002 ou à Copa do Mundo de futebol (dos machos) deste ano?

Pois é, se com os esportes mais populares as mulheres ainda são vistas com algum preconceito, o que esperar do hóquei no gelo? Aliás, você sabe que existe uma versão feminina da NHL? Não? Foi o que imaginei.

Desde 1999 o hóquei para meninas não se resume a Jogos Olímpicos, Campeonatos Mundiais e torneios amistosos como a Copa Esso, a fim de manter a equipe em atividade. A NWHL, National Women Hockey League, fundada naquele ano pela prefeita de Brampton, Ontário, Susan Fennel, foi o espaço que as meninas precisavam para patinar livres de preconceitos. Em disputa, a gloriosa NWHL Championship Cup. Nove equipes disputaram a primeira temporada da Liga, vencida pelo Beatrice Aeros.

Na temporada seguinte a franquia de Scarborough, o Sting, mudou para Toronto, virando Toronto Sting e o ClearNET Lightning aderiu à Liga, em mais uma temporada vencida pelas Aeros. No entanto, a equipe Montreal Jofa-Titan abandonou o torneio, deixando-o ainda com nove times. Em 2001, o Vancouver Griffins entrou, mas Laval Le Mistral, uma das equipes fundadoras, e o Toronto Sting abandonaram a NWHL, restando apenas oito times na Liga. No final desta terceira temporada, em 2002, o Beatrice Aeros voltou a comemorar o Campeonato.

As Aeros compareceram às finais na temporada seguinte, perdendo para o Calgary Oval X-Treme. Foi a última temporada das Aeros em Beatrice. Em 2003-04, as meninas se mudaram para Toronto. A temporada foi conquistada novamente pelo Calgary Oval X-Treme, desta vez sobre a equipe fundadora da liga, Brampton Thunder, pela primeira vez na final. As Aeros voltaram a levantar a Copa ao vencer suas rivais, Montreal Axion, e em seguida mudaram-se para Mississauga.

Com poucos patrocinadores e nenhum apoio da mídia, a NWHL capengou em sua última temporada, disputada por sete equipes e vencidas pelo Montreal Axion, com mais um vice-campeonato de Brampton.

Para a temporada atual houve uma expansão. A Western Women's Hockey League, WWHL, fundada em 2004, foi extinta em 2006, com suas duas temporadas vencidas pelo Calgary Oval X-Treme (que também jogava a NWHL). Seus times se juntaram à NWHL, fazendo com que a liga agora seja dividida em duas conferências, Central/Leste e Oeste. São 12 times sendo 11 canadenses e um estadunidense — sediado em Minnesota, as bravas Minnesota Whitecaps.

O próximo passo da Liga é uma expansão rumo aonde está o dinheiro: os Estados Unidos da América.

No gelo, a Liga tem números positivos. O Etobicoke Dolphins, por exemplo, marcou 76 gols em 17 jogos disputados, numa combinação de ataques medianos com defesas fracas. Este mesmo Etobicoke, segunda melhor defesa da Liga, sofreu 46 gols. A defesa mais vazada, o Québec Avalanche — seria uma homenagem ao Québec Nordiques e ao Colorado Avalanche? — levou 87 gols em 11 jogos disputados e, digamos, seja uma espécie de Philadelphia Flyers na atual NWHL. O ataque mais fraco é das Ottawa Raiders, com 23 gols marcados. Em compensação, as Aeros, baseadas em Mississauga, têm nos seus 88 gols em 19 jogos o ataque mais prolífero da competição.

Por outro lado, apesar de um alto número de gols, a Liga perde pontos em desequilíbrio. A temporada atual ainda não viu a disputa das equipes vindas da extinta WWHL, que formam a Conferência Oeste. Mas a Conferência Central/Leste vê duas equipes liderarem isoladas — Etobicoke com 31 pontos e Mississauga com 30 — enquanto Québec e Ottawa, respectivamente, com seis e quatro pontos, amargam o duro fracasso e o adeus às chances de disputar o Campeonato.

Esses dados datam de 11 de dezembro, última vez que partidas foram realizadas. No momento em que esta matéria está sendo fechada, Brampton tenta se recuperar em cima das líderes Etobicoke para sonhar com chances de título. Na sexta, Brampton vai a Oakville e Québec faz o clássico do biquinho contra o Montreal.

Firme e forte, a NWHL segue em sua oitava temporada, mesmo sem apoio da mídia. A Liga acaba servindo como uma forma das Seleções Norte-Americanas manterem suas jogadoras em atividade, e um incentivo à prática feminina do esporte. A possível expansão para os EUA abre a oportunidade de novos e maiores patrocinadores. Mas é bom que as meninas fiquem cientes: não sigam o exemplo dos homens. Reponham os dentes perdidos! Uma boca com batom e um sorriso sem dentes deve ser mais tosco que o Jacy Borreaux!

Carente de informação, o site não explica a fórmula de disputa da temporada. Haverá playoffs? E a Conferência Oeste? Ainda assim, você pode consultá-lo.

E para quem quiser ver a jogadora de hóquei mais bonita de todos os tempos, clique aqui.


Thiago Leal, na falta do que fazer numa agência de publicidade sem clientes, escreveu este artigo.
NÃO É SÓ UM ROSTINHO BONITO Levar um tranco de Kathleen Kauth (Brampton Thunder e Seleção dos EUA) com certeza deve ser melhor que apanhar dos marmanjos da NHL.
(BramptonThunder.com)
Edição atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Contato
© 2002-06 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a republicação do conteúdo escrito, desde que citada a fonte.
Página publicada em 13 de dezembro de 2006.