Por: Marcelo Constantino

Um dos três times de maior sucesso na NHL da era Gary Bettman, vencedor da Divisão Noroeste/do Pacífico por oito vezes consecutivas, sempre classificado antecipada e facilmente para os playoffs, sempre um dos favoritos à Copa Stanley e uma vez tido por muita gente como a próxima dinastia da liga. Eis o Colorado Avalanche.

Quem começou a acompanhar a NHL há dez anos tem o Colorado como um dos grandes da liga. Entra ano, sai ano, entra jogador, sai jogador, lá estavam eles, sempre no alto. Ao longo dos anos dourados do time, o antigo gerente Pierre Lacroix realizou grandes feitos ao trazer nomes de peso como Patrick Roy, Ray Bourque e Rob Blake, dentre outros, por preços relativamente baixos. Por outro lado, acabou negociando bons e jovens jogadores da franquia, como Chris Drury e Adam Deadmarsh. Isso talvez tenha contribuído para o momento de incerteza atual do time.

Nesta temporada vários dos grandes nomes da franquia já tinham partido. A rigor, daquele time que conquistou a Copa de 2001, apenas Joe Sakic e Milan Hejduk permanecem por lá, cercados de jovens promissores — especialmente o ótimo Paul Stastny, uma real ameaça à supremacia de Evgeni Malkin na corrida pelo Troféu Calder — e alguns jogadores "de meio" que já são realidade. Na defesa, uma equipe que já teve Ray Bourque, Rob Blake e Adam Foote de uma só vez, atualmente conta com uma mescla de bons veteranos e jovens talentos. A verdade é que o elenco do time atual não mete medo em ninguém — e essa é a grande vantagem da equipe: jogar como franco-atiradora, sem o peso da responsabilidade de ter figurões no elenco.

No gol, por exemplo, a vaga é de Peter Budaj. Ninguém sabe se ele é, ou se será, efetivamente o cara, o goleiro número 1 do time, que traz aquela segurança necessária aos jogadores de linha. Mas isso pouco importa no momento, o fato é que ele tem sido o cara para a atual arrancada final (e, a bem da verdade, para a temporada inteira) e que José Théodore apenas confirmou o temor que muitos tinham em Denver (e que era certeza em Montreal) quando da contratação dele: foi apenas mais goleiro um que teve uma grande fase na vida e nada mais.

Com esse "novo" time, ao longo da temporada o desfecho que foi se desenhando era do time pela primeira vez fora dos playoffs. De certa forma boa parte dos torcedores até se acostumaram à idéia, entendendo que esse é um time de bons jovens talentos que ainda iriam se desenvolver e possivelmente levar os Avs de volta ao topo. No começo deste mês, quando doze pontos separavam o time de uma vaga nos playoffs, a desclassificação era tida como certa. Mas não agora.

O panorama até pouco tempo atrás era basicamente esse. Porém, um belo esforço de reta final fez renascer as esperanças em Denver: de remotas as chances de estar nos playoffs passaram a ser visíveis, alcançáveis à mão. O conformismo com o que deveria ser o cruel destino desta temporada já foi demolido pelo vento de esperança que a própria equipe trouxe de volta. Não há um ranking que não coloque os Avs em ascensão e na lista dos times mais quentes do momento.

Pudera, no mês de março, até o fechamento desta edição (ou seja, antes da rodada de quarta-feira), os Avs estavam imbatíveis no tempo normal de jogo. A única derrota do time no mês, na prorrogação, veio contra o Minnesota Wild. São quinze pontos obtidos em oito jogos. E o melhor, o adversário mais próximo, aquele que eles precisam ultrapassar, está num mau momento: o Calgary Flames, com 5 derrotas nos últimos 6 jogos. A distância entre eles, que já esteve na casa dos dez pontos até há pouco, agora é de quatro.

O jogo do último domingo é um belo retrato dessa arrancada. O adversário era o San Jose Sharks, que vinha embalado por quatro vitórias consecutivas (ok, contra quatro times eliminados da corrida pelos playoffs, mas foram quatro vitórias mais do que convincentes). Os Sharks, um time reanimado com a chegada de Bill Guerin, abriram 3-1 ainda no começo do segundo período. Mas lá foi o Avalanche empatar o jogo (com o eficiente Andrew Brunette, na que talvez seja a melhor temporada de sua carreira) no terceiro e forçar uma prorrogação, onde Milan Hejduk meteu o gol da vitória logo na abertura, aproveitando uma penalidade-presente de Jonathan Cheechoo cometida nos últimos segundos do tempo normal.

Se a chama já estava acesa e crescente até este jogo, imaginem agora com uma virada sensacional decidida na prorrogação. O clima é de empolgação em Denver. O time já está jogando em ritmo de playoffs, onde cada jogo é decisivo. No caso, cada ponto é decisivo.

O caminho até a vaga de playoffs está recheado de confrontos contra adversários mais fortes na tabela: três vezes contra o Vancouver e uma vez contra Nashville e Minessota. Mas há refrescos, onde a vitória é imperativa: os próximos dois jogos contra os Oilers e um contra os Coyotes na próxima semana. E ainda duas vezes contra o Calgary Flames, inclusive no último jogo da temporada. Ou seja, são quatro pontos em disputa entre eles. Atualmente a classificação para os playoffs só depende do próprio Colorado Avalanche.

Marcelo Constantino recomenda a leitura de Blood Feud, uma delícia para qualquer torcedor de hóquei, especialmente os dos Red Wings e do Avalanche. E agradece a Humberto Fernandes a indicação (e operacionalização).
Doug Pensinger/Getty Images
A equipe comemora e muito o gol na prorrogação de Milan Hejduk contra os Sharks, no último domingo.
Paul Connors/AP
O capitão Joe Sakic, uma lenda viva no gelo e agora também homem de 600 gols, marcando mais um contra os Coyotes. Na partida de domingo contra os Sharks ele participou de todos os quatro gols do time.
Don Heupel/AP
O ótimo novato Paul Stastny pontuou em vinte jogos consecutivos, até que os Sharks o impediram de seguir com a saga. É a segunda mais longa seqüência da história da liga — a primeira é de Mats Sundin, que pontuou em trinta jogos consecutivos na temporada de 1992-93.
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Página publicada em 21 de março de 2007.