Por: Marcelo Constantino

Será a maldição do Troféu dos Presidentes?

Não, definitivamente não. Ainda que vencer aquele troféu não queira dizer muita coisa — desde que foi criado, dos vinte vencedores do troféu seis foram campeões —, os Sabres foram sim o melhor time da NHL na temporada.

Hoje em dia, com as mudanças de calendário, cada time joga uma penca de vezes contra os times da própria divisão. Isso gera economia de recursos com viagens, mas gera também a vulgarização de vários confrontos e sobretudo uma séria distorção: alguns times são beneficiados e outros acabam prejudicados, dependendo dos demais times em suas divisões. Por exemplo, Nashville e Detroit jogam várias vezes contra sparrings como Chicago, St. Louis e Columbus. Nem precisam se esforçar muito para conquistar um caminhão de pontos. Por outro lado, times das Divisões do Atlântico e Noroeste têm mais jogos contra adversários mais difíceis ao longo da temporada. Os finalistas Buffalo e Ottawa enfrentaram-se oito vezes antes dos playoffs.

De qualquer forma, independentemente do que aconteceu na temporada regular, os Sabres vinham fazendo seu papel corretamente até essas finais de conferência. Despacharam o New York Islanders em cinco jogos e depois o surpreendente New York Rangers em seis. E chegaram à final de conferência contra o Ottawa Senators talvez não como favorito absoluto, mas como tendo chegado exatamente aonde todos esperavam.

O time batalhou no jogo 1, conseguiu empatar depois de estar perdendo por 2-0, mas não resistiu ao poderio ofensivo dos Senators no terceiro período. Veio o jogo 2 e Daniel Briere marcou um sensacional gol de empate faltando seis segundos para o fim do jogo. Parecia um déjà-vu do jogo 5 contra os Rangers, quando Chris Drury empatou o jogo faltando mais ou menos o mesmo tempo e Maxim Afinogenov virou na prorrogação. Mas não, dessa vez os Sabres não viraram, o gol, no segundo tempo da prorrogação saiu do taco de Joe Corvo e os Sens iriam para casa com duas vitórias na casa do adversário.

Em Ottawa, no jogo mais atravancado da série, Daniel Alfredsson marcou o que seria o único gol da partida. O técnico Lindy Ruff, que havia criticado alguns de seus jogadores depois do segundo jogo, foi o primeiro a afirmar que o time viraria a série. E o primeiro passo foi dado, com uma vitória no jogo 4, graças em grande parte ao time ter suportado a pressão dos Sens no terceiro período. Algumas deficiências, no entanto, permaneceram à mostra: o time abriu 3-0 no placar, inclusive com um importantíssimo gol de Derek Roy logo aos nove segundos de jogo, e viu a vantagem ser encurtada para 3-2 ainda no segundo período. O goleiro Ryan Miller sofreu, mas garantiu a vitória no período final.

Mas o fator central que eu entendo que responde à pergunta sobre "o que há com os Sabres?" é que eles encontraram um adversário que é, no momento, superior. Eu apostei no Ottawa Senators, mas acreditava que a vitória na série seria por pouco, que seria uma longa e ardorosa batalha. Até agora, ledo engano, mas ainda tem série pela frente. Porém, sigo enxergando os Sens como predestinados este ano, sendo inclusive superiores aos dois finalistas do Oeste.

A inversão de papéis no Detroit Red Wings

Desde que foi campeão pela última vez, em 2002, o Detroit Red Wings ficou caracterizado como um time que faz uma temporada espetacular apenas para ser detonado nos playoffs por um time mais batalhador, com mais vontade. Isso aconteceu três vezes seguidas, nas três temporadas seguintes ao título. Geralmente os Wings dominavam os jogos, em termos de pressão e disparos a gol, mas perdiam em termos de eficiência e, sobretudo, perdiam no aspecto físico — seja via intimidação, seja via briga pelo disco nas bordas.

Muita coisa mudou neste time para esta temporada. Não em termos de elenco, mas em termos de atitude — que, no fim das contas, talvez seja a base fundamental para se chegar à conquista da Copa Stanley, de todo time capacitado para isso (evidentemente que times efetivamente ruins com toda a vontade do mundo não terão sucesso). Os Wings tornaram-se um time que desfere trancos — mesmo de jogadores que não são exatamente disso, como Pavel Datsyuk e Henrik Zetterberg —, que bloqueia discos, que reage frente a adversidades, que vira jogos, um time raçudo e batalhador. Eles podem perder todos os jogos daqui por diante, mas já demonstraram que são outro time em relação àqueles últimos.

Este é um time que, mesmo sem dois de seus principais defensores, mantém um comprometimento com a defesa poucas vezes visto antes, e em grande parte isso se deve a Dominik Hasek. Não que os vexames passados fossem culpa direta dos goleiros — Curtis Joseph e Manny Legace —, mas a segurança que Hasek transmite (à defesa, ao time, aos torcedores) é absolutamente outra coisa. Ele pode não ser o mesmo do auge da carreira, ou nem mesmo aquele de 2002, mas é certo que os Wings não conseguiriam goleiro melhor no mercado do que esse senhor de 42 anos de idade.

A série está 2-1 para os Wings e, jogo 3 à parte, está bem disputada. Em linhas gerais podemos dizer que o Anaheim Ducks dominou os dois primeiros jogos, mas que o Detroit foi mais eficiente. Vejam só a inversão de papéis, geralmente eram os Wings que dominavam os jogos, mas sem a eficiência necessária. A vitória do Detroit no jogo 1 deveu-se a dois gols daqueles de sorte de playoffs, além da eficiência em tomar apenas um gol do adversário. Já a eletrizante vitória dos Ducks no jogo 2 veio na prorrogação, que só foi possível graças a um gol de empate ilegal — em que Hasek, com o disco sobre o corpo, foi empurrado para o gol pelo taco de Scott Niedermayer. Os quatro gols que os Ducks marcaram no jogo foi o máximo que os Wings já sofreram numa partida nesses playoffs. Os Flames conseguiram marcar três por duas vezes. Os Sharks só conseguiram marcar dois, nos quatro primeiros jogos.

A resposta a essa "quebra de recorde" veio no jogo 3, com uma inesperada goleada de 5-0 sobre os donos da casa. Lá estavam os Wings sendo mais eficientes, a despeito de uma maior pressão dos Ducks no primeiro período: 2-0 ao final. Começou o segundo período e mais dois gols dos Wings, com direito a substituição de Jean Sebastien Giguere e boas vindas (o quarto gol) logo num dos primeiros lances de Ilya Bryzgalov.

E aí, naquele período, tivemos o lance mais sinistro da série até aqui, o já famoso lance em que Chris Pronger e Rob Niedermayer avançaram sobre a cabeça de Tomas Holmstrom, por trás, e a esmagaram sobre a borda. O pênalti e a expulsão no jogo foram para Niedermayer, a suspensão, posterior, foi para Pronger.

Por ambos os motivos — a goleada e a suspensão depois do tranco — é que o jogo 4 de hoje à noite é imperdível. A chave é ver como o time do Anaheim reagirá a isso.

Marcelo Constantino odeia ressaca.

Tom Hanson/AP
Daniel Alfredsson, o MVP do Ottawa Senators nesses playoffs, marca o único gol do jogo 3 contra o Buffalo Sabres.

David Duprey/AP
Está vendo o disco ali embaixo, se aproximando de Ryan Miller? Pois então, ele entrou. Mas este não foi qualquer gol, foi o gol da vitória na prorrogação do jogo 2, marcado por Joe Corvo, num disparo após face-off.
(captura de imagem)
Eis o momento em que Tomas Holmstrom está prestes a ser esmagado nas bordas. Chris Pronger vem por trás e alveja diretamente a cabeça de Holmstrom, enquanto Rob Niedermayer vai completar o sanduíche. Niedermayer foi expulso, mas Pronger sequer foi penalizado.
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Página publicada em 17 de maio de 2007.