Por: Alexandre Giesbrecht

"Posso assegurar que o problema não foi relacionado nem a drogas nem a álcool."

A frase é de Chris Botta, vice-presidente do New York Islanders, e refere-se ao incidente de sábado em que Chris Simon se envolveu. Eu não sei se fico aliviado ou preocupado ao ouvir essa declaração, feita após Colin Campbell, vice-presidente da NHL, ter dado a entender que o problema era justamente esse. Se for verdade, eu fico aliviado ao saber que Simon não está envolvido com substâncias tão perigosas. Da mesma maneira, eu fico preocupado ao perceber que tal ato violento e covarde foi praticado sem o auxílio de qualquer "encorajador".

Ainda outro dia, eu li uma matéria de quatro páginas na Sports Illustrated sobre Simon, que falava como ele tinha encarado sua suspensão de 25 jogos em março, por ter acertado o taco no rosto de Ryan Hollweg, dos Rangers. Na matéria, ele era descrito como um sujeito calmo, que teve seus problemas na juventude e que tem como se fosse uma segunda personalidade no gelo. Mas o tom da matéria dava a entender que, aos 35 anos, ele tinha adquirido maturidade o bastante para aprender com o que até a semana passada era o erro mais grave de sua carreira.

Não aprendeu. Isso já estava óbvio desde sábado, mas ficou ainda mais quando a NHL determinou que a nova suspensão de Simon seria a mais longa da história da liga. Foi a oitava suspensão na carreira do jogador — antes de março, sua suspensão mais longa tinha sido de cinco partidas, 13 anos atrás.

Os atos de violência na NHL, tão freqüentes e graves nos últimos tempos, têm sido uma grande mancha no currículo da liga. Depois de um locaute que acabou com a temporada de 2004-05, a liga até que está se reerguendo. E cada incidente desses é um fardo a mais para carregar nessa recuperação, principalmente porque esses incidentes geram uma cobertura muito mais extensa do que os melhores momentos dos jogos. Não é exatamente uma fórmula de sucesso.

A suspensão de 30 jogos foi dura, mas não dura o bastante, se levarmos em conta que o atleta é reincidente. E reincidente em ocorrências graves. No calor de uma briga pelo disco, dificilmente esses 30 jogos ficarão incomodando os pensamentos de um outro idiota que queira se vingar desproporcionalmente por algum acontecimento quase irrelevante. Fosse uma suspensão de uma temporada ou mais, e é possível que a coisa mudasse.

Mas essa é a atitude da liga, ainda com relações estremecidas com sua associação de jogadores. Suspensões mais duras, só em decorrência de uma freqüência ainda maior desses incidentes. O público norte-americano também parece concordar com isso: em pesquisa (não-científica) no site SI.com, a opção "Ele merecia mais que 30 jogos" tinha 63% de aprovação quando do fechamento desta coluna.

Não que todos concordem, é claro. "É excessiva", reclama Ted Nolan, técnico dos Islanders. "A liga suspendeu-o. Agora temos de apoiar o Chris enquanto ele passa por esse processo."

O mais irônico é que não é nada difícil que o afastamento de Simon seja ainda maior que os 30 jogos impostos pela liga. Antes mesmo do anúncio do período de suspensão, ele já tinha pedido uma licença (não se sabe se remunerada ou não) do time, a fim de buscar "tempo e assistência". Ele volta? Impossível saber, por enquanto.

Por mais que a conseqüência imediata do ato tenha sido muito menor que a que Steve Moore sofreu, por exemplo, ao ser covardemente agredido por Todd Bertuzzi, o histórico de Simon vai pesar em uma decisão a respeito de sua volta. Mesmo que ele limpe sua consciência e resolva voltar, ainda sobra a pendência com seu time, que talvez ache que não vale a pena ter uma galo de briga descontrolado em seu elenco.

Jarkko Ruutu, o agredido da vez, já voltou a jogar, aparentemente sem seqüela alguma. Seu pé quase foi fatiado, é bem verdade, e a intenção não era a de usá-lo em uma feijoada, mas ele preferiu não comentar a suspensão recebida por Simon: "O que aconteceu no passado já passou. Prefiro olhar para a frente."

Simon não sabe para onde olhar neste instante. Nossa recomendação: olhe para dentro. De si.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, fica espantado em perceber que há pouquíssimas pessoas em São Paulo a fim de jogar futebol só porque estamos às vésperas do Natal.
Reprodução/TV
Em um frame só é meio difícil perceber, mas aí está a pisada que Simon deu em Ruutu. Nunca é demais lembrar que há uma lâmina na sola do "sapato de profissão" do jogador.
15/12/2007
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Página publicada em 20 de dezembro de 2007.