Kris Draper e Kirk Maltby atuaram juntos pela primeira vez na temporada
de 1996-97, quando Maltby chegou a Detroit. Desde então, já são mais
de dez anos atuando juntos pelos Red Wings, geralmente na mesma linha,
sobretudo quando é hora de matar penalidades.
Draper chegou a Detroit, vindo do Winnipeg Jets, em 1993 em troca de
nada. Maltby veio numa troca por Dan McGillis. A gerência simplesmente
não queria mais o defensor e queria qualquer escolha média em troca.
Aceitaram Maltby, no entanto. Ou seja, ambos vieram de graça.
Enquanto Draper é considerado um dos bons atacantes defensivos da liga,
chegando inclusive a conquistar um troféu Selke em 2004, Maltby era
mais conhecido por ser um jogador irritante para os adversários, conseguindo
provocar penalidades por retaliações.
Draper, 36 anos de idade, pode não ter a mesma velocidade de antes,
e Maltby, 35, pode ter perdido muito do pouco poderio ofensivo que um
dia teve, além de atualmente ser muito menos provocador e irritante
do que um dia já foi, mas a dupla ainda é a preferida quando se quer
lançar uma linha defensiva no gelo para segurar a onda adversária. Ambos
permanecem tendo papéis cativos e determinantes na equipe, especialmente
o camisa 33.
Evidentemente que, por diversas vezes, eles foram separados — e são
até hoje. A melhor temporada ofensiva de Draper foi a do Selke, em 2004,
jogando por diversas linhas. A melhor temporada de Maltby também foi
atuando por diversas linhas, em 1998.
Mas a temporada em que a dupla despontou foi justamente a de 1996-97,
especificamente nos playoffs daquele ano. Os dois formaram a "Grind
Line", com Joey Kocur atuando na ponta direita. A linha lembrava um
pouco a famosa Crash Line do New Jersey Devils de 1995 — quarta linha
que se elevava e era a principal responsável literalmente pelo combate
aos adversários.
Todos se lembram do memorável gol de Kocur no jogo 1 das finais de 97,
mas era Draper e Maltby que efetivamente faziam a linha rolar. Então
a quarta linha do time, eles chegavam a ser emparelhados com as principais
linhas ofensivas adversárias, tendo inclusive frustrado o famoso Esquadrão
da Morte (Legion of Doom) nas finais da Copa Stanley daquele ano.
Terminada a temporada, Maltby — até mesmo mais que Draper —, despontava
como uma arma surpresa ofensiva. Daqueles jogadores que podiam marcar
de 15 a 20 gols numa temporada. E, no ano seguinte, ele deu conta de
recado como nunca mais conseguiu.
Draper é um dos principais protagonistas do período memorável em que
os Red Wings conquistaram três Copas Stanley. Não exatamente por seu
jogo — sempre de grande utilidade para a equipe —, mas sobretudo por
ter sido ele a vítima do famoso tranco de Claude Lemieux nos playoffs
de 1996. Sabe-se lá o que aconteceria se não fosse aquilo tudo, mas,
por ter ocorrido, colocou Draper no centro de toda a história intimamente
ligada aos títulos de 97, 98 e, em menor escala, 2002. O tranco serviu
de válvula de escape para a eliminação dos Red Wings nos playoffs de
96, mas serviu também como inspiração para a vingança promovida no inigualável
e inesquecível clássico de 26 de março de 1997, jogo que certamente
elevou os Red Wings a um patamar antes não alcançado — patamar este
que levou o time à conquista da Copa daquele ano.
Em 1998, Draper foi o autor de um dos mais importantes gols da equipe
naquela década, ao selar a vitória na prorrogação do jogo 2 das finais
com o Washington Capitals, finalizando uma sensacional virada do time,
que chegou a estar perdendo a partida por 4-2. Ele acabara de entrar
no gelo, começando uma troca de linhas, quando marcou o gol. O sorriso
estampado na cara dele depois do gol é algo que ficou guardado na minha
memória — e você pode rever esse sorriso, tem na abertura do NHL 99
da EA Sports.
A "Grind Line" foi refeita quando Kocur se aposentou, com Darren McCarty
completando a linha. Certamente foi quem a tornou ainda mais conhecida.
Atuando ao lado da dupla, McCarty marcou um hat-trick contra seu mais
detestado time, o Colorado, e contra seu mais detestado goleiro, Patrick
Roy. E em plenos playoffs de 2002.
Naquele ano a "Grind Line"consolidou-se a perda do estigma de "quarta
linha", já que atuava contra qualquer linha adversária, especialmente
as mais ofensivas, e não se limitava a defender.
Aliás, ofensividade nos playoffs é uma característica da linha. Quantos
grandes atacantes da adorariam marcar um gol numa prorrogação de playoffs?
Vários grandes nomes nunca marcaram. Maltby já marcou duas vezes, Draper
uma.
Com a saída de McCarty, a linha ficou sem um terceiro parceiro cativo.
Dan Cleary andou jogando ao lado da dupla, embora o técnico Mike Babcock
busque dar bem mais tempo de jogo a Draper do que a Maltby. Na verdade
Babcock chegou a colocar Maltby na geladeira na temporada passada —
pudera, apesar do bom jogo defensivo, a pontuação dele foi digna de
defensor estilo plantado na defesa —, quando o jogador viu realmente
muito pouco tempo de jogo nos playoffs, mas sua utilidade para o time
permanece, tanto que teve seu contrato renovado para praticamente encerrar
sua carreira em Detroit.
De qualquer forma, quando a hora chega — playoffs — dificilmente
você não os vê juntos. Seja com Scotty Bowman, Dave Lewis ou Mik Babcock,
lá estão os dois juntos matando penalidades.
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![]() Foram três Copas Stanley nos mais de dez anos de parceria entre Draper e Maltby — aqui eles comemoram a terceira. |
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![]() A dupla já teve maior dose de ofensividade, mas o valor defensivo permanece até hoje. |