Por uma noite Detroit Red Wings e Colorado Avalanche reviveram os bons tempos daquela velha rivalidade — e tudo recomeçou graças a outro tranco sujo.

Como se sabe desde 1997, uma atitude covarde gera o troco, a vingança, que enche a noite de tensão, ao ponto de dois treinadores gritarem um com o outro no banco de reservas.

Quando Ian Laperriere acertou Nicklas Lidstrom nas bordas aos 6:10 do primeiro período, com força desproporcional e o cotovelo na altura do queixo do capitão dos Red Wings, a noite de segunda-feira no Pepsi Center ganhou um contorno dramático. Lidstrom teve sua perna direita prensada em posição incomum, causando um dano ao seu joelho. Ele imediatamente se levantou, cambaleando em direção ao banco, sem qualquer equilíbrio.

Não se atinge um defensor reconhecidamente limpo dessa maneira. Não se mostra o cotovelo ao vencedor de cinco Troféus Norris. Foi o que Aaron Downey, intimidador dos Red Wings, ensinou a Laperriere à sua maneira, menos de dez minutos mais tarde.

Downey encontrou o adversário no gelo e instigou a briga. Segundos depois, Laperriere estava encolhido no chão, após receber o troco em forma de vários socos em sua cabeça. Downey, o novo vingador do Detroit.

"Se você quer dar um tranco bom e limpo, vá e dê um tranco bom e limpo, mas quando os cotovelos estão elevados, quando você acerta o vencedor de cinco Troféus Norris, certamente um dos melhores defensores a já ter jogado este jogo, isso é uma palhaçada pra mim," declarou Downey. "Então meu recado é simples: da próxima vez que alguém atingir um de nós da maneira que não deveria, então vou fazer meu trabalho. Eu não vou perseguir e acertar os jogadores habilidosos, as estrelas. Eu vou direto ao cara que fez isso".

Laperriere se defendeu e não questionou a atitude do rival.

"Eu acho que o tranco foi limpo, assim como o juiz", disse Laperriere. "Eu jogo duro e limpo, mas eu já estive do outro lado e teria feito a mesma coisa que Aaron Downey fez. Eu respeito Aaron Downey, não tenho qualquer problema com o que ele fez. Espero que Lidstrom não tenha se machucado."

Neste momento do jogo os Wings já venciam por 1-0, com gol de Chris Chelios, e ainda no primeiro período marcariam o segundo, por Valtteri Filppula em vantagem numérica.

Antes da metade do segundo período o placar já apontava 4-0, com dois gols de Henrik Zetterberg. A perda de Lidstrom inspirou a equipe a elevar o seu jogo e encerrar a série de seis derrotas em grande estilo. Mas apenas vencer não bastava, era preciso humilhar o adversário em seu território. Nos últimos 40 minutos de jogo o Detroit chutou 29 vezes, os Avs sete.

Tamanha submissão pode ter influenciado Jeff Finger a atingir Filppula com a ponta superior de seu taco (infração conhecida como butt-ending). A arbitragem, omissa, não marcou qualquer penalidade no lance. Filppula deixou brevemente a partida, mas retornou em seguida.

O placar do jogo já estava decidido no terceiro período, mas não o placar pessoal. Com menos de um minuto Laperriere partiu de encontro a Downey e o choque mais pareceu o encontro de um homem a um muro de concreto. Laperriere caiu no gelo e o segundo round esteve prestes a acontecer, não fosse o agarrão de Cody McLeod em Downey. Neste momento o treinador do Detroit, Mike Babcock, e o assistente do Colorado, Tony Granato, iniciaram uma áspera discussão no banco de reservas.

Laperriere e Downey, então, discutiram no banco de penalidades enquanto cumpriam suas infrações por má conduta. Ao todo o jogador dos Red Wings recebeu 29 minutos de penalidades na noite, contra 26 de McLeod e 15 de Laperriere.

Chris Osgood confirmou seu shutout e assegurou a vitória do Detroit por 4-0. O confronto entre as equipes em toda a temporada regular terminou com o mesmo placar a favor dos Red Wings, incluindo três jogos consecutivos em que os Avs não conseguiram marcar sequer um gol em Dominik Hasek e Osgood.

Lidstrom não retornou ao jogo, recebendo tratamento no vestiário da equipe durante o decorrer da noite. Após a partida Babcock informou que a gravidade da contusão ainda não era conhecida e que o defensor poderia se ausentar por sete a dez dias. Notícias no decorrer da terça-feira garantiram que Lidstrom no máximo perderia duas semanas.

Foi a quarta derrota seguida do Avalanche, que também perdeu os quatro últimos jogos disputados em Denver. O resultado e a má sequência derrubaram a equipe para a 10.ª colocação na Conferência Oeste, obrigando os Avs a conquistarem 66% dos pontos ainda em disputa para alcançar a classificação. Tal aproveitamento exigirá da equipe 14 vitórias nos 22 jogos restantes. Ou então pelo segundo ano consecutivo os playoffs sentirão a falta do Colorado.

O melhor dos roteiros colocaria frente a frente Red Wings e Avalanche nos playoffs, para os rivais reviverem o ódio mútuo por mais umas noites. Mesmo que sejam outros jogadores, novos treinadores e até a liga tenha mudado muito nos últimos dez anos, sempre que houver um duelo entre Detroit e Colorado haverá a melhor das lembranças e a esperança de que tudo aconteça novamente.

• Capa
• Editorial
• Prorrogação
• Sonhando com a (possível) realidade
• A velha chama da rivalidade?
• A virada nada impossível
• Por mais uma noite
• O Dallas é o melhor
• De Darren a Downey
• Uma virada histórica