Por: Humberto Fernandes

Desde que Brian Burke decidiu não renovar o seu contrato com o Anaheim Ducks especula-se que ele será o próximo homem do Toronto Maple Leafs. Tudo ficou mais claro quando, duas semanas atrás, Burke se afastou do cargo de gerente geral da equipe californiana, embora tenha permanecido como funcionário da organização.

É questão de tempo até que ele apareça no programa Hockey Night in Canada como novo presidente e gerente geral dos Leafs. As partes precisam acertar os poucos detalhes finais do contrato de seis anos e US$ 3 milhões anuais que fará de Burke um dos mais bem pagos gerentes da NHL, ao lado de Glen Sather (NY Rangers) e Lou Lamoriello (New Jersey Devils).

"Está tudo caminhando na direção certa," declarou Burke. "Mas não está fechado ainda. Eu antecipei que vamos fechar mas ainda não está fechado."

A postura de Burke e dos representantes legais da Maple Leaf Sports and Entertainment é conservadora, na linha do "não está acabado enquanto não acabar", mas não há qualquer razão para acreditar que o destino de ambos não esteja traçado.

Enquanto aguarda a chegada do novo gerente a torcida dos Leafs se distrai com a última negociação realizada pela equipe, que enviou o defensor Carlo Colaiacovo e o atacante Alexander Steen para o St. Louis Blues em troca do ponta-direita Lee Stempniak. Imediatamente a imprensa vinculou a troca ao futuro gerente, mas Burke negou qualquer participação no evento.

"Esta é a quarta ligação que eu recebo e todos vocês fizeram a mesma pergunta," ele protestou do outro lado da linha, diretamente de Boston, onde aguardava o Dia de Ação de Graças ao lado de sua família. "Ninguém dos Leafs conversou comigo sobre essa troca, nem seria apropriado que eu participasse disso. Eu ainda sou oficialmente um funcionário do Anaheim Ducks."

A troca, na verdade, tem as impressões digitais do treinador Ron Wilson. Colaiacovo e Steen nunca confirmaram no gelo as expectativas depositadas em dois jogadores que foram escolhidos na primeira rodada do recrutamento e estavam na organização há tanto tempo. Wilson andava às turras com Colaiacovo, a quem acusou de não manter a melhor forma física, e relegou Steen a papéis inferiores como matar penalidades e atuar em linha de combate. Trocá-los por um atacante com potencial de segunda linha, capaz de jogar em vantagem numérica e ainda por cima destro — carência do elenco — foi um grande negócio para o Toronto.

Isso não quer dizer que tenha sido um roubo ou que os Blues vão se arrepender da negociação. Nas mãos de Andy Murray, o treinador da equipe, pode ser que Colaiacovo e Steen percam um pouco da vaidade característica de garotos mimados pelos Leafs e finalmente cresçam como bons jogadores. Caso contrário, a torcida do St. Louis não vai perdoar a gerência, que assumiu a postura de apostar no futuro e, de repente, negociou uma arma ofensiva recrutada e desenvolvida na organização.

Stempniak não fez uma boa temporada em 2007-08, produzindo apenas 13 gols e 38 pontos, decepcionando aqueles que esperavam mais do atacante que na campanha anterior havia marcado 27 gols. Para retomar o seu melhor hóquei, o norte-americano trabalhou duro nas férias e aperfeiçoou sua forma física. Uma contusão no joelho o atrapalhou no começo da temporada, mas em 14 jogos ele marcou 13 pontos. E justamente quando demonstrava estar de volta Stempniak foi negociado.

Se o recém-contratado atacante conquistar Toronto os méritos não poderão ser atribuídos a Burke.

Sob o comando de Wilson os Leafs melhoraram consideravelmente em relação ao ano passado, embora a campanha projetada para o fim da temporada indique declínio no número de pontos. A equipe tem a terceira maior média de chutes a gol, com 34,3 por jogo, e a terceira menor média de chutes sofridos, com 27,1. Marcar muitos gols e chutar mais vezes que o adversário é uma característica marcante dos times de Wilson.

O treinador promoveu a continuidade da mudança de cultura no vestiário dos Leafs. Esse movimento envolveu as saídas de Tie Domi, Darcy Tucker, Brian McCabe e Mats Sundin, entre outros, e agora a mudança prossegue com a saída de quem estava ao redor e há muito tempo na casa. É neste cenário que Burke será inserido nos próximos dias.

Alguns jornalistas afirmam que Burke não gosta de jogadores europeus. Ele é culpado por seu pragmatismo. Burke gosta, de verdade, de jogadores grandes e que jogam hóquei com vigor. Essa era a cara do Anaheim campeão da Copa Stanley em 2007. Mas os especialistas se esquecem que foi ele quem recrutou os gêmeos suecos Daniel e Henrik Sedin para o Vancouver Canucks e trouxe de volta Teemu Selanne para os Ducks. Nenhum dos três se encaixa no padrão de jogador idealizado pelo gerente.

O maior desafio de Burke será reverter o grande problema que está decidindo jogos em favor dos adversários: os goleiros. Vesa Toskala e Curtis Joseph formam a segunda pior dupla de goleiros da liga em percentual de defesas, com apenas 86,9%. Toskala venceu dois de seus últimos oito jogos e nesse período sofreu 4,06 gols por jogo enquanto defendeu míseros 85,1% dos chutes. Depois da péssima atuação de Joseph na derrota para o Atlanta Thrashers, certamente o veterano não voltará a ver as traves por um bom tempo.

Se Burke quiser causar algum impacto na atual temporada dos Leafs, ele deverá começar pelo gol. Não será fácil empurrar Toskala e seu salário de US$ 4 milhões para outra equipe, nem se livrar de CuJo, atleta identificado com a torcida. Mas está claro que se os Leafs não se classificarem para os playoffs, a principal razão é a dupla de goleiros.

Quando Burke assumir seu cargo em Toronto todas as atenções estarão voltadas para si. Não serão poucos os conflitos com membros da imprensa local, mas Burke tem experiência (e tamanho) de sobra para se virar bem.

Humberto Fernandes sofreu uma apendicectomia na terça-feira, 18.
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É questão de tempo para Brian Burke ser anunciado como o novo presidente e gerente geral do Toronto Maple Leafs.
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Dizem as más línguas que Burke sempre quis trabalhar em Toronto...
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Página publicada em 26 de novembro de 2008.