Prólogo
"Eventualmente ele vai se machucar ou vai machucar um adversário porque é imprudente, afoito, porque exagera na força, mas isso faz parte do seu estilo peculiar. O hóquei no gelo é um esporte de contato, afinal."
(Extraído do texto "O homem-bomba", publicado na edição n.º 249 de TheSlot.com.br em 2 de dezembro de 2009)
A última de Ovechkin
Domingo, 14 de março de 2010. Em Chicago, os Blackhawks recebem o Washington Capitals, no jogo transmitido pela televisão para todo o país. É o confronto entre os dois melhores times da temporada, um jogo que poderia perfeitamente decidir a Copa Stanley em junho.
Os Blackhawks já venciam por 1-0, gol de Jonathan Toews, quando, faltando menos de oito minutos para o fim do primeiro período, Alexander Ovechkin partiu como um touro perseguindo o vermelho no uniforme do Chicago. Na altura da linha vermelha, Ovechkin empurrou Brian Campbell pelas costas, fazendo com que o defensor se chocasse violentamente contra as bordas.
Não foi um tranco, pela concepção do que é um tranco. Ovechkin usou as mãos, não o ombro, para empurrar Campbell. Até aí, embora imprudente, não era uma jogada que chamasse a atenção pela violência. Todos os dias, dezenas de trancos mais assustadores do que esse compõem o clipe dos melhores momentos da NHL.
O problema veio no instante imediatamente seguinte, na conclusão do ato, quando Campbell se estatelou nas bordas. O impacto o deixou no chão, com a clavícula e uma costela quebradas.
O russo foi expulso do jogo em rede nacional.
Mais tarde, a NHL suspendeu Ovechkin por dois jogos, o que muitos consideraram um exagero, principalmente diante de outras jogadas violentas que aconteceram recentemente liga afora. Matt Cooke não foi punido por quase ter arrancado a cabeça de Marc Savard.
Percebe-se claramente que, no caso de Ovechkin, a decisão da liga foi pautada em três premissas:
a) Campbell se contundiu gravemente;
b)
Ovechkin é reincidente;
c) O "crime" de Ovechkin está definido nas regras.
Se Campbell não tivesse se machucado, Ovechkin não seria suspenso.
Savard também se contundiu, de uma forma ainda mais grave (concussão), mas nas regras não há pena prevista para o "crime" cometido por Cooke.
O outro ponto é o histórico. Esqueça que Cooke, de fato, é um jogador muito mais sujo que Ovechkin, e responda:
Qual é o único jogador da liga, na atual temporada, com mais de uma expulsão (game misconduct)? Ovechkin. E foram três. Com a recente punição, ele também se tornou o único jogador suspenso por duas vezes nesta temporada.
Neste sentido, Colton Orr, Cam Janssen, Daniel Carcillo e Sean Avery são anjinhos quando comparados ao russo.
No ano passado, Ovechkin prometeu alcançar a marca de 90 gols nesta temporada, mas o único recorde que ele vai quebrar é o seu próprio de minutos de penalidades. Passando em branco tantas vezes seguidas (nenhum gol nos últimos seis jogos), ainda não será desta vez.
Na verdade, com dez jogos a menos disputados (quatro por suspensão, seis por contusão), Ovechkin corre o risco de sequer vencer o Troféu Maurice Richard, concedido ao goleador da temporada. E com um agravante: o atual líder desta disputa particular é Sidney Crosby. Segundo Ovechkin, a única chance de Crosby ser o goleador era jogando videogame.
Epílogo
Mais um dia, mais um tranco. Agora foi a vez de James Wisniewski, defensor do Anaheim Ducks, aniquilar Brent Seabrook, outro defensor do Chicago.
Foi um ato de retaliação. Seabrook havia acertado Corey Perry com um tranco maldoso, na altura da cabeça, segundos antes. Na sequência da jogada, Wisniewski acelerou e voou para cima do adversário, chegando a tirar os pés do chão antes de atingi-lo nas bordas.
Por acertar deliberadamente um jogador que sequer tinha a posse do disco, Wisniewski recebeu oito jogos de suspensão, a maior punição imposta pela NHL nesta temporada. E foi pouco.
Isto precisa acabar mesmo.
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