Por: Thiago Leal

Pouco a pouco os traumas do San Jose Sharks parecem desaparecer e o time começa a fazer na pós-temporada uma campanha tão convincente quanto fez em temporadas regulares recentes. A linha de Dany Heatley, Patrick Marleau e Joe Thornton tem crescido de produção, principalmente graças a Heatley. E até gol-vencedor o homem-invisível Joe Thornton vem marcando. O time convenceu nas duas últimas vitórias sobre o Colorado e, em confrontos equilibrados (vencidos todos por 4-3), mostrou nas três primeiras partidas contra os Wings que é um time dominante no gelo.

Apesar da derrota por 7-1 para o Detroit Red Wings no jogo 4 da série semi-final de conferência, o que impediu uma varrida, o San Jose Sharks e seus fãs têm motivos de sobra para respirarem aliviados. E o principal deles é o bom rendimento da tal linha de Heatley, Marleau e Thornton — que, aliás, marcou o gol que impediu um shutout na derrota para os Wings. Principalmente pelo surgimento de Thornton como um atleta mais decisivo. Por isso, não se preocupem. Não vou criticá-lo. Até porque, o artigo nem é sobre ele. É sobre o Joe Pavelski!

Com o reconhecimento do próprio time, este central vem sendo o jogador mais importante da Baía de São Francisco, o que inclui quatro gols e três assistências na série atual. Pavelski lidera o time com sobras nos playoffs, principalmente em gols: já marcou nove, sendo por três vezes o gol vencedor, liderando o time também neste quesito. Também é o jogador que mais chuta a gol e o que mais marca gols em vantagem numérica, melhorando o aproveitamento do San Jose nesse fundamento. E ainda comete poucas penalidades. É exatamente o oposto do que Thornton vem sendo (um cara que chuta pouco e comete muitas penalidades), e é o homem de confiança do time, mesmo com a crescente produção da linha Marleau-Thornton-Heatley — não graças a Marleau, mas isso é um assunto para ser discutido mais para frente.

O bom rendimento de Pavelski é reforçado por dois jogadores que lhe costumam fazer companhia em linha de ataque: Ryane Clowe e Devin Setoguchi. A linha está entre as principais responsáveis pela passagem pelo Colorado Avalanche na primeira fase dos playoffs. Com os Sharks atuando de forma sofrível, que em muito lembrou a eliminação para os Ducks na temporada passada, foi a linha secundária da franquia que garantiu sua resistência e permitiu o despertar da principal linha de ataque do time. Mais ofensivo que nunca, o defensor Dan Boyle vem sendo o coração deste time e faz parte do sucesso dos Sharks, tanto na primeira rodada quanto na atual. Evgeni Nabokov tem tido atuações regulares e faz um bom número de defesas por jogo. Foi importante nas vitórias por 4-3 dos primeiros jogos da série e teve uma noite infeliz ao permitir sete gols do Detroit na quarta partida, sendo substituído por Thomas Greiss, mas nem dá para culpá-lo num jogo onde apenas Rob Blake parece ter lembrado de como se é importante ajudar seu goleiro bloqueando chutes. Boyle e Blake foram os únicos jogadores do time reconhecíveis na derrota humilhante para o Detroit Red Wings.

Independentemente do jogo 4, neste momento Pavelski é o melhor nome da tal linha número 2 e o que melhor se destaca nesta série contra os Red Wings, já que podemos considerar de Setoguchi teve mais importância contra o Avalanche. Suas atuações podem ser comparadas a de Cory Stillman, jogador importantíssimo para os títulos do Tampa Bay Lightning e do Carolina Hurricanes. Na conquista com o Carolina, Stillman foi o jogador de linha que mais se destacou e talvez fosse merecedor do Troféu Conn Smythe, não tivesse sido abafado pelo goleiro Cam Ward. Mas é um exemplo de jogador que, de forma discreta, torna-se o jogador mais importante do time, ainda que os olhares se desviem para aqueles que ganham os destaques e as manchetes com maior facilidade. Pavelski vem sendo o Stillman do San Jose, com a vantagem de jogar mais limpo.

O mais engraçado disso tudo é que Pavelski não é exatamente o jogador com melhor rendimento em temporada regular. Na verdade, nesses dias, o "outro" Joe é completamente abafado pelo fã-clube de Thornton e sua linha imbatível, com Heatley e Marleau. Pavelski tem sua importância nos meses corridos e chega a ser jogador mais decisivo que a maioria dos atletas de linhas inferiores, assim como acontece com seus colegas Boyle e Clowe, mas suas atuações crescem consideravelmente em playoffs. Isso pode ser motivado pela pressão? Certamente.

O Vale do Silício e a Baía de São Francisco é uma região que se divide com muitos times: San Francisco Giants, San Francisco 49ers, Oakland Raiders, Oakland Athletic's, Golden State Warriors, isso para citar apenas times de grandes ligas. Mas a cidade de San Jose em si, que não é pequena (possui quase 1 milhão de habitantes), tem nos Sharks seu único grande representante. Ainda há o time de futebol San Jose Earthquakes da Major League Soccer, mas quem diabos se importa com soccer nos EUA que não as mães que levam seus filhos de escolas elementares para torneios de bairro? O San Jose Giants é um time de beisebol menor, filiado ao San Francisco, e nem vale a pena citar o Real San Jose, time menor de futebol (soccer).

Existe uma grande pressão sobre os Sharks, principalmente a Thornton desde sua chega a San Jose, afinal, esse foi um time montado para ganhar a Copa Stanley. O mesmo aconteceu com o rival Anaheim Ducks, a diferença é que lá a tentativa foi bem-sucedida. O planejamento do San Jose funcionou para ganhar o Troféu dos Presidentes, mas mesmo a presença de medalhões como Jeremy Roenick e Claude Lemieux não se mostrou funcional. Toda pressão é refletida sobre Thornton, que desde Boston demonstra dificuldades em ser protagonista. Se ele falha com essa pressão, Pavelski está livre para aparecer. Fica parecendo que Pavelski se empolga e se concentra melhor no jogo.

Supondo que os Sharks passem pelos Wings, vençam o Troféu Clarence Campbell e cheguem às finais da Copa Stanley, não é difícil imaginar Pavelski ou Blake como jogador mais valioso, até porque não existe outro até aqui (talvez Heatley ou Boyle) que mereça o posto. Ou alguém aí consegue imaginar Devin Setoguchi para MVP? Digo Setoguchi porque é um dos poucos que vêm fazendo algo positivo pelo time. Outros eu nem menciono. Um deles seria...

Marleau-Maravilha
É assim que o jogador foi chamado no site do San Jose Sharks. A recuperação de Patrick Marleau como um jogador importante para a franquia é controversa, já que de 2004 para cá seu nível vem caindo e, mesmo com a melhora recente, não chega perto do nível que atingiu na melhor pós-temporada do San Jose até aqui. E estou sendo muito benevolente com o rapaz, já que suas atuações têm sido pífias. Esse levante sobre sua imagem parece ser mais um trabalho de recuperação que um depoimento sincero a respeito de quem se esperava ser o jogador mais importante para a história recente do time californiano. Mas, mesmo com rendimento tão abaixo do que se espera, pelo menos a sua apatia parece ter acabado — Marleau vinha se mostrando um cara mais frígido que Kimi Raikkonen, Keanu Reeves e Dida juntos. Aparentemente esse quadro se atenuou.

O ex-capitão do San Jose tem aparecido (menos que Thornton e que Heatley) o suficiente para salvar sua carreira como jogador do time, uma vez que um novo fracasso significaria o fim de Marleau nos Sharks. Ou pelo menos é o que deveria significar. No geral, seu rendimento ainda é fraquíssimo e a série contra o Avalanche foi quase um nada para o atacante. Se você analisar os jogos dos Sharks, não colocaria Marleau nem entre os cinco jogadores mais importantes do time até aqui. É uma irritante coerência que o cara, assim como Thornton, consegue manter em atuar bem na temporada regular e mal nos playoffs. Isso é preocupante porque Marleau atua em boas linhas, geralmente ao lado de Thornton e Heatley.

A verdadeira linha de maravilhas nesses playoffs se constitui melhor com Pavelski presente, seja quem for os companheiros. Mas acredito que deslocar Marleau para baixo e subir Pavelski para o lado de Heatley e Thornton é facilitar o caminho para a segunda Copa da Califórnia.

Thiago Leal cansou.
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Página publicada em 8 de maio de 2010.