Por: Sarah Baicker

Michael Leighton deixou o gelo na quarta-feira com lágrimas nos olhos. A esta altura, o estranho final do jogo 6 já pôde ser digerido pelos Flyers e por sua torcida. Mas será lembrado como um dos finais mais abruptos de uma campanha de playoffs da Copa Stanley em todos os tempos. E talvez uma das menos climáticas também. Mas que não pesará no coração de ninguém mais do que no do goleiro dos Flyers.

Foi um lapso defensivo na própria zona dos Flyers que fez com que Patrick Kane dominasse o disco à direita de Leighton, aparentemente sem ângulo. Mas o carismático atacante dos Blackhawks marcou depois de um chute que, para ser franca, Leighton não deveria ter tido dificuldades para defender. Não, a derrota dos Flyers no jogo 6 não pode — e não deve — ser jogada apenas sobre os ombros de Leighton. Ele parou 37 dos 41 chutes do Chicago e foi muito bem em alguns deles, defendendo chutes que poucos na torcida sequer viram.

A verdade é que Leighton jogou o que podia. Ele fez tudo de que foi capaz para ajudar a levar a Copa para a Filadélfia. Mas rebotes estranhos e uma dificuldade com os ângulos atormentaram o goleiro o ano todo. Nas finais da Copa Stanley não houve nada diferente disso. Leighton terminou os playoffs com uma bela média de 2,46 gols sofridos e 91,6% de defesas. Mas seus números nas finais — média de 3,96 gols sofridos e 87,6% de defesas — foram ruins. Muito ruins.

É aí que está o problema: Leighton não tinha de ser Patrick Roy.

Quando os Flyers o pegaram na desistência, foi porque estavam em uma situação precária. Ele era meio que uma última tentativa, atraente para o time porque ele já tinha jogado lá antes e porque servira ao técnico Peter Laviolette na Carolina do Norte. Leighton era apenas uma solução temporária. A torcida só começou a vê-lo como algo mais que um goleiro de segunda classe nos playoffs, quando ele de repene foi de agradável surpresa para estrela colecionadora de shutouts, depois de assumir o gol com a contusão de Brian Boucher logo no primeiro jogo em que ele, Leighton, voltara ao banco de reservas, o jogo 5 contra os Bruins.

Quando o goleiro de 29 anos finalmente pôde ser o reserva de Boucher naquela noite em Boston, ele só estava feliz por reunir-se a seus colegas de time, ao invés de apenas assistir das tribunas. Ele nunca imaginou que seria chamado para jogar — e nem ele nem ninguém cogitava a possibilidade de que ele entraria no jogo parecendo um super-herói, terminando a partida com um shutout.

E então ele seguiu causando boa impressão, contendo o ataque dos Canadiens em três dos cinco jogos da série seguinte, parecendo mortal apenas uma vez nas finais de conferência. Mas os Canadiens nunca testaram Leighton da maneira que os Blackhawks o fariam. Qualquer um que pensasse que Leighton poderia ser uma reencarnação de desenvolvimento tardio de Bernie Parent estava errado. Ele pareceu bom quando a defesa dos Flyers foi capaz de varrer para longe seus rebotes. Ele foi um desastre quando ela não conseguiu.

Os goleiros nestas finais da Copa Stanley não foram estelares. Com a possível exceção do jogo 2, em que o goleiro dos Blackhawks, Antti Niemi, segurou uma avalanche de chutes dos Flyers no fim do jogo para espremer uma vitória por 2-1 para seu time, nenhum jogo foi roubado pelos goleiros.

Pense nisto: e se Leighton não tivesse sofrido aquele gol de qualidade duvidosa de Patrick Sharp na quarta-feira? E se ele tivesse jogado bem o bastante para evitar ser substituído naquele movimentado jogo 1? Nesse caso, é bem possível que tivesse havido um jogo 7 na sexta-feira.

Este time dos Flyers precisou que seu goleiro se destacasse e fosse seu jogador mais valioso no gelo em ao menos um jogo para conseguir a vitória. E ele não se destacou nem foi o jogador mais valioso. E esse fato irá ecoar pelos corredores vazios da sede do clube neste próximo verão setentrional. Os Flyers terem uma "controvérsia no gol" se formando é uma clássica piada, não importa quanto sucesso eles tenham. Boucher tem contrato por mais um ano, mas Leighton não tem. O destino do goleiro que por duas vezes salvou a temporada dos Flyers está em dúvida.

Os Flyers têm de pensar se Leighton jogou bem o bastante para merecer voltar como número 1 na próxima temporada. Será a pergunta que assombrará o verão abreviado do time, que começou oficialmente quanto a equipe limpou seus armários. Será que os Flyers vão contratar um goleiro nas férias? Carey Price, o goleiro dos Canadiens que perdeu um pouco de seu brilho nesta temporada, teve seu nome ventilado em alguns círculos. Será que eles farão uma troca? Se eles oferecerem, por exemplo, Jeff Carter, será que conseguem trazer uma jovem promessa de outro lugar?

Ou será que 2010-11 será o ano em que Leighton conquista a legítima titularidade na NHL? Mesmo tendo jogado bem e sido resiliente quando foi chamado nos playoffs, Leighton não melhorou sua reputação nos seis jogos finais. Ele não será lembrado com carinho por esse último lance memorável, ao permitir um gol fácil que deu a Copa Stanley ao adversário. As férias dos Flyers neste ano serão as mais curtas do time desde 1997, a última vez que eles alcançaram as finais. Mas para o goleiro que ficou a duas vitórias do principal prêmio do hóquei, há uma boa chance de que essas férias serão as mais longas de sua vida.

Sarah Baicker é jornalista do site Comcast Sports Net. O artigo original foi traduzido por Alexandre Giesbrecht..

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Página publicada em 12 de junho de 2010.