Deveríamos ter  abordado essa hecatombe há uma edição, mas não é fácil escrever sobre a  contusão de Anže Kopitar estando em estado de choque. Assim que vimos a imagem  do esloveno se contorcendo de dores no gelo do Staples Center, todo nosso  complexo editorial foi coberto por uma manta para evitar a perda de calor e os  alicerces foram elevados para facilitar o regresso do sangue ao coração.
          
          Não é difícil  imaginar o porquê dessa consternação. Anže Kopitar é ídolo de uma nação onde  essa revista é tão popular quanto um suculento pedaço de Prekmurska gibanica desde que nos tornamos a primeira publicação das Américas a dedicar uma capa ao  ícone da Eslôvenia.
          
          A calamidade  aconteceu durante o prélio contra o Colorado Avalanche no último dia 26. A  vitória por 4-1 deixou os Los Angeles Kings ainda mais pertos de uma vaga à  pós-temporada, porém o sucesso no placar teve um sabor amargo devido ao lance  em que Kopitar levou a pior em uma disputa aparentemente pueril (?) com Ryan  O’Byrne nas bordas.
          
          Kopitar caiu ao  tentar desvencilhar-se do defensor e, durante essa queda, os ligamentos do  tornozelo foram para o brejo. O vídeo está disponível no bom amigo YT, mas não  aconselhamos o link para pessoas de cabeça fraca. Naquele momento a terceira  vitória consecutiva dos Kings estava bem encaminhada com um 2-0.
          
          Por diversos fatores  a contusão é devastadora.
          
          Os Kings estão com  ótimas chances de disputarem os playoffs de forma consecutiva — o que não  acontece desde 2002. Venceram os Stars nesse último sábado e dependem apenas de  uma vitória nos quatro jogos restantes para garantir uma vaga na grande dança.  Porém encarar o que vem pela frente sem a presença de seu principal jogador não  será uma tarefa fácil. Caso a temporada regular acabasse hoje o rival seria o  Phoenix Coyotes, com quem briga ferozmente pelo mando de gelo na primeira fase  dos playoffs.
          
          Os Kings já haviam  perdido, há menos de uma semana, seu segundo artilheiro na temporada. O asa  direita Justin Williams, também membro da linha principal do time, que teve o  ombro deslocado após absorver um tranco do pernambucano Binho(?) Regehr no embate  contra o Calgary Flames.
          
          Quando parecia  finalmente vencer o fantasma da enfermaria que tanto o atormenta, Williams foi  abatido na reta final, após ter disputados todos os 73 primeiros jogos dos  Kings na temporada. A previsão de recuperação indica pelo menos três semanas de  molho. O atleta tem chances de retornar nos playoffs, mas certamente não em  condições ideais.
          
          Já Kopitar estava na  lista dos dez maiores pontuadores da temporada, com média próxima a um ponto  por partida (73 unidades em 75 jogos, sendo 25 tentos), e finalmente  apresentava um +/- condizente com sua classe (+25). 
          
          A ruptura nos  ligamentos aconteceu poucos dias após atuar pela 325º partida consecutiva com o  uniforme real, ultrapassando um dos baluartes da história dos Kings, Marcel  Dionne.
          
          A ausência dos dois  maiores pontuadores de uma equipe que não possui muitas variantes ofensivas e  que não estava em seu momento mais prolífero no quesito disco na rede mereceu  comentários de companheiros de vestiário.
  “Perder dois de seus  melhores jogadores ofensivos em um time que ultimamente está tendo problemas em  marcar [gols] não vai ajudar mesmo”,   disse, por telefone, o defensor Jack Johnson aos escribas de TheSlot.com.br
  
  Falamos também com o  treinador Terry Murray, que respondeu justamente sobre a falta que Kopitar  fará. “ Existe um vazio imenso agora, sem ele,  durante esse período de tempo na equipe,”   em seguida ele diz que essa é uma oportunidade para outros jogadores  mostraram serviço. “ Já estive nessa situação antes, perder um atleta valioso  devido à contusão. Mas é também uma oportunidade para que outros jogadores dêem  um passo adiante.”
  
  Perguntamos também  sobre as críticas que constantemente recebe por parte dos fãs brasileiros na  comunidade do time no Orkut, mas Murray preferiu não polemizar, apenas dizendo  não ser possível agradar a todos.
          
          Com uma vantagem  numérica que não assustava ninguém nem mesmo quando ainda contava com Kopitar,  os Kings devem apostar ainda mais no poder de seu jogo defensivo, responsável  pela segunda melhor defesa em toda a conferência oeste com apenas 185 gols  sofridos — apenas os Canucks os superam com 177.
          
          Muito foi comentando  sobre a possibilidade de o excelente prospecto Brayden Schenn preencher parte  desse vazio, porém um acordo entre as ligas do seu Gary e as de base canadenses  diz que o resgate (?) de um atleta só poderá ocorrer caso o time do mesmo não  mais tenha compromissos em sua respectiva liga — no caso de Schenn, a WHL. Como  o Saskatoon Blades é um time faceiro e audaz que deve ir longe em seu objetivo,  essa possibilidade já foi descartada pela organização.
          
          Nas três partidas  seguintes à contusão do esloveno, os Kings não fizeram feio. Venceram, como já  mencionado, os Stars, e também fizeram o dever de casa contra os Oilers.  Derrota apenas para o melhor time da  temporada regular, Vancouver Canucks. Porém todos sabem que paradas bem mais  indigestas que jogos de TR contra Oilers e Stars estão no horizonte.
          
          Para que a missão se  torne menos inglória quando os playoffs chegarem, a torcida reza para que  Dustin Penner, uma aposta que até agora pouco rendeu aos súditos do rei,  prospere. Desde que foi contratado junto aos Oilers o sacana anotou apenas duas  vezes em 15 jogos.
          
        Ou então que a sapiência infindável de Anže  Kopitar seja transmitida aos companheiros durante essas seis semanas em que o  astro ficará no estaleiro.  Só com essa  benção os Kings poderão enfrentar e vencer as árduas batalhas que terão pela  frente nos playoffs.
Eduardo Costa tem orgulho dos amigos que tem e lamenta o fim de uma era.