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17 de janeiro de 2003
A história completa dos mundiais de juniores

Por Eduardo Costa

1983 - Outra competição recheada de futuras lendas do hóquei. A campanha anterior envergonhou o orgulho soviético e os jovens corresponderam bem à pressão exercida pelos generais do exército e a imprensa esportiva. A tarefa foi facilitada já que a competição foi realizada em Leningrado (hoje St. Petersburg) - sede do primeiro mundial em 1974. Foram sete vitórias em sete partidas, com melhor ataque (50 gols) e melhor defesa (13 gols). O soviético Ilja Byakin repetiu o feito do ano anterior e foi votado para fazer parte da seleção do torneio. O goleiro Matti Rautianen foi eleito o melhor de sua posição, mas ninguém chamou mais atenção entre as traves que o tcheco Dominik Hasek, que levou sua seleção à medalha de prata. Além de Hasek, outro jogador que brilhou para a Tchecoslováquia foi Vladimir Ruzicka. Ele liderou a artilharia da competição com 12 gols e oito assistências em apenas sete partidas, mas não foi eleito o melhor atacante do torneio, honra que foi para o sueco Tomas Sandstrom — que venceria a Copa Stanley com os Red Wings em 1997. A Finlândia repetiu a péssima campanha de 1978 e ficou em sexto lugar. A seleção canadense, treinada por Dave King, ficou com o bronze. No elenco estavam três nomes bem conhecidos: Mario Lemieux (10 pontos na competição), Steve Yzerman (cinco pontos) e Dave Andreychuk (11 pontos).

1984 - A Suécia buscaria sua segunda conquista atuando em casa no ano de 1984. Mas a cidade de Nykoping viu mais um show de eficiência da seleção soviética, que conquistou seu segundo título consecutivo e nono no geral. A única equipe que não perdeu para a União Soviética foi o Canadá (empate em 3-3), mas que ficou apenas na quarta colocação. A Finlândia ficou apenas um ponto atrás dos soviéticos na classificação final, onde o destaque absoluto foi o central Raimo Helminen, que estabeleceu o recorde de 24 pontos (11 gols e 13 assistências) em sete jogos. Com inteira justiça foi eleito o melhor atacante e conseguiu uma vaga na seleção ideal do torneio. A linha Esa Keskinen-Raimo Helminen-Esa Tikkanen combinou 47 pontos (23 +24). Por falar na seleção do mundial, os dois defensores eleitos são figurinhas carimbadas: Alexei Gusarov, da seleção campeã e Frantisek Musil, da Tchecoslováquia. Nikolai Borchevsky e Evgeny Belosheiken, ambos russos, completaram a seleção. Ah... e não foi ainda desta vez que a Suíça conquistou seu primeiro ponto na história da competição.

1985 - Se a seleção canadense venceu o mundial de 1982 após ganhar moral ao golear os soviéticos por 7-0, o mesmo pode ser dito a respeito desse campeonato mundial júnior de 1985, realizado na capital finlandesa. A equipe treinada por Terry Simpson venceu a União Soviética por 5-0 na rota de seu segundo título na história da competição. Muitos nomes conhecidos e que jogaram — ou ainda jogam — na NHL no elenco: Jeff Beukeboom, Brian Bradley, Adam Creighton, Stephane Richer, Wendel Clark, Shayne Corson, Bob Bassen, Claude Lemieux e Bobby Dollas — que inclusive foi eleito para a seleção do torneio. Foram cinco vitórias e apenas dois empates. O goleiro Craig Billington, recentemente dispensado dos Capitals, foi eleito o melhor de sua posição no torneio.

A medalha de prata foi para a Tchecoslováquia do central Michal Pivonka que, em seu segundo mundial júnior, foi eleito o melhor atacante. Pivonka teve uma longa carreira na NHL defendendo o Washington Capitals e jogaria ainda o mundial júnior seguinte. A medalha de bronze foi para a União Soviética. Os Estados Unidos mantiveram a sexta posição conquistada em 1984 e a Polônia foi a lanterna. A Finlândia ficou fora do pódio, mas teve inúmeros destaques individuais. A começar pelo artilheiro da competição, Esa Keskinen, com 20 pontos. Assim como em 1984, a linha mais efetiva da competição foi novamente finlandesa: Esa Keskinen, Mikko Makela e Esa Tikkanen somados obtiveram 52 pontos, cinco a mais que no ano anterior. A única mudança na linha foi a saída de Raimo Helminen e a adição de Mikko Makela. E o nosso já conhecido Tikkanen, já em seu terceiro e último mundial júnior (1983, 1984 e 1985), somou 19 pontos. O defensor Vesa Salo foi eleito o melhor de sua posição na competição apesar do sueco Peter Andersson ter estabelecido um novo recorde de pontos para um defensor na competição, com 14.

1986 - Shayne Corson, Joe Murphy, Jim Sandlak, Joe Nieuwendyk e seus companheiros na seleção canadense fizeram história ao marcar 54 gols nessa edição do mundial júnior. Mas a melhor defesa venceu o campeonato. A União Soviética calou a torcida canadense e reconquistou a medalha de ouro com uma campanha impecável de sete vitórias em sete jogos, incluindo a última e decisiva partida contra os próprios canadenses (4-1). Os destaques soviéticos foram o goleiro Evgeny Belosheiken e o defensor Mikhail Tatarinov, que pela segunda vez consecutiva foi eleito para a seleção do campeonato. O outro defensor eleito para o time ideal foi o canadense Sylvain Cote. Jim Sandlak foi eleito o melhor atacante e a dupla Corson e Murphy liderou a artilharia com 14 gols cada. A maior surpresa do campeonato foi a Suíça que, finalmente, conquistou seus primeiros pontos na história da competição ao vencer a lanterna Alemanha Ocidental.

1987 - A derrota em casa para os soviéticos em 1986 doeu fundo nos canadenses, nada menos que vingança era aceitável. No mundial disputado em Piestany, na extinta Tchecoslováquia, canadenses e soviéticos se encontraram na última partida da competição, no dia 04 de janeiro. A URSS estava sem chance de título e os canadenses precisavam da vitória para conquistá-lo. O jogo começou, mas nunca terminou. Uma briga digna de WHA, que envolveu até mesmo os jogadores que estavam nos bancos, paralisou a partida. Nem o policiamento local pôde separar os brigões. A "batalha" só terminou depois dos dirigentes da IIHF ordenarem que fossem apagadas todas as luzes da arena. As duas equipes foram suspensas, o que não prejudicou os soviéticos em nada, já que estavam eliminados. O Canadá foi o grande prejudicado e com a suspensão perdeu a chance de conquistar o título.

Quem se deu bem mesmo foi a Finlândia. Com essa confusão toda ficou com a medalha de ouro em um mundial de hóquei pela primeira vez em sua história. O goleiro Markus Ketterer foi o maior destaque da equipe. O sueco Ulf Dahlen, hoje no Dallas Stars, foi o artilheiro da competição com sete gols e oito assistências, mas o tcheco Robert Kron foi eleito o melhor atacante do torneio. O mesmo acontecendo com o defensor sueco Calle Johansson. Scott Young foi o melhor jogador canadense. Outro beneficiado foram os Estados Unidos, que conquistaram sua primeira medalha em mundiais de juniores. Na defesa estava o texano Brian Leetch, na época do Boston College e que hoje atua pelos Rangers na NHL. Leetch marcou apenas três pontos em sete partidas, mas foi eleito para a seleção do torneio. A Suíça voltou ao seu normal e perdeu todas as sete partidas que disputou. Jiri Latal e Juraj Jurik foram os destaques da seleção anfitriã que ficou com o bronze.

1988 - Teppo Numminen, Theo Fleury, Alexander Mogilny e Sergei Fedorov, todos com vitoriosas e longas carreiras no hóquei internacional e na NHL, participaram deste mundial. Mas o maior destaque foi um jogador de quem pouco se ouviu falar após esse mundial júnior: Jimmy Waite, goleiro do Canadá. Sua carreira na NHL resume-se a 106 partidas com Blackhawks e Coyotes de 1988 a 1999. Porém, ele conseguiu uma das maiores vitórias do hóquei canadense na categoria júnior em sua história.

No primeiro dia de 1988, em Moscou, Canadá e União Soviética mais uma vez jogaram tudo o que podiam. Os soviéticos mostraram mais e deram 40 chutes contra o gol canadense, que "retribuiu" apenas 16. Mas Waite segurou um dramático 3-2, que futuramente seria o diferencial que daria o título aos canadenses. Os donos da casa venceram todas as partidas, menos a citada acima. Os canadenses só perderam um ponto dos 14 possíveis e acabaram conquistando o título dentro da casa inimiga.

Alexander Mogilny foi o artilheiro da competição com 18 pontos (oito gols e dez assistências). O finlandês Teppo Numminen foi eleito o melhor defensor e ajudou sua seleção a obter a medalha de bronze. Jimmy Waite foi o melhor goleiro e Greg Hawgood, melhor pontuador canadense na competição, fez parte da seleção do mundial. Theo Fleury contribuiu com seis gols e duas assistências em sete jogos.

1989 - Anchorage, no Alasca, foi o palco para mais um capítulo da rivalidade entres russos e canadenses. Os suecos eram os únicos com chance de tirar o ouro dos soviéticos, mas era preciso que o Canadá vencesse na última rodada os tradicionais rivais. Então uma das linhas mais poderosas já vistas em um mundial júnior esmagou os canadenses e aumentou ainda mais a distância entre União Soviética e seus adversários no quadro de medalhas. Pavel Bure, Sergei Fedorov e Alexander Mogilny comandaram o massacre de 7-2, com direito a hat trick do atual jogador do Toronto Maple Leafs.

Os Estados Unidos terminaram na quinta posição, mesmo tendo os dois maiores artilheiros da competição. Jeremy Roenick foi o maior pontuador do torneio com 16, um a mais que Mike Modano. John Leclair completava o mortal trio que juntos somaram 41 pontos na competição. O campeão Pavel Bure foi o terceiro com oito gols e seis assistências e também foi eleito o melhor atacante da competição. A União Soviética também teve o goleiro Alexei Ivashkin como melhor em sua posição e o defensor Aleksey Godynyuk entre os mais regulares jogadores do torneio. A Suécia, medalha de prata, teve o melhor defensor, Richard Persson. A Tchecoslováquia ficou com o bronze e a Finlândia terminou na pobre sexta colocação.

1990 - Mais uma vez Helsinki foi a sede da competição. A União Soviética deixou o título escapar ao empatar com a Suécia na última rodada. Com o resultado, os soviéticos ficaram com 11 pontos, mesmo número alcançado pelos canadenses. O título foi para o Canadá, treinado por Guy Charron, pois no confronto direto entre as duas seleções, deu Canadá por 6-4.

Alexander Godynyuk mais uma vez foi o destaque defensivo dos soviéticos. No Canadá, Stephane Fiset foi eleito o melhor de sua posição na competição e Dave Chyzowski o terceiro artilheiro do torneio e membro do time ideal. A medalha de bronze foi para a Tchecoslováquia, que teve em quatro futuros jogadores da NHL seus maiores destaques: Jiri Slegr, Bobby Holik, Jaromir Jagr e Robert Reichel. Esse último liderou o mundial em pontos com 21 pontos (11 gols e 10 assistências). Jagr foi o segundo com 18 pontos.


Na próxima edição, o resumo das competições realizadas de 1991 a 1996, com destaque para quatro dos cinco títulos consecutivos do Canadá, o quarteto mágico da seleção sueca em 1992 (Michael Nylander, Markus Naslund, Peter Forsberg e Mikael Renberg), as participações de Eric Lindros, Manny Legace, Paul Kariya, Sergei Samsonov, entre outros.

Colaboraram para essa matéria: Humberto Fernandes e Heiko Lundvall.

Eduardo Costa é o gerente geral do Macaé Oilers, a Suíça da Liga Brasileira de Hóquei.
 
A HISTÓRIA DOS MUNDIAIS DE JUNIORES
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Página publicada em 15 de janeiro de 2003.