A loteria cujo prêmio era Doug Weight teve um fim pre-maturo e com um vencedor que foi tão surpreendente quanto um apostador de Roraima ganhar a Mega Sena. Os Hurricanes, que não eram citados entre os poucos ti-mes que supostamente estavam atrás de Weight, chega-ram com o pacote certo de prospectos e escolhas de re-crutamento para fechar negócio com os Blues.
Com a troca consumada, é hora de avaliar o impacto dela para os times envolvidos.
Carolina Hurricanes
Tirando a escolha de primeira rodada no próximo recrutamento — que provavelmente será no fim da rodada —, os Canes não tiveram de abrir mão de muita coisa para ficar com Weight. Como o GG Jim Rutherford rapidamente destacou, o time não teve de envolver na troca nenhuma peça importante de seu atual elenco.
Weight, de 35 anos, tem jogado bem, apesar de algumas circunstân-cias difíceis
em St. Louis. Em 47 jogos, o jogador, que defenderá os Estados Unidos nas Olimpíadas de Inverno, marcou 44 pontos (11 gols e 33 assistências). E esses números vieram sem o ponta goleador Keith Tkachuk, que ficou de fora de boa parte da temporada com uma série de problemas.
Isto posto, é de se imaginar onde Weight irá se encaixar no elenco dos Hurricanes. Eles já têm dois bons centrais nas suas duas linhas princi-pais. O jovem Eric Staal e o veterano Rod Brind'Amour vêm tendo gran-des atuações e têm atuado, em média, 43 minutos combinados por jo-go. Isso não deixa mais que 17 minutos para ser divididos entre os ou-tros dois centrais da equipe. Será que a chegada de Weight significa que Staal irá se mudar para a ponta? Essa parece ser a hipótese mais plausível, porque não parece muito provável que Weight ou Brind'Amour sejam tirados do meio.
Pode ser que a comissão técnica esteja preocupada que Brind'Amour esteja jogando minutos
demais. Malhador assumido e sempre em exce-lente condição física, ele tem uma média de mais de 24 minutos por jo-go. Nenhum atacante tem mais minutos que ele. Esse tipo de carga costuma cansar qualquer um ao longo da temporada.
No longo prazo, Rutherford pode estar atrás simplesmente de mais pro-fundidade na posição. No curto prazo, ele precisava substituir o tercei-ro central Matt Cullen, que está de fora graças a um maxilar fraturado. Ele não deve voltar até depois do intervalo olímpico.
No papel, Weight é uma grande adição para os Canes. E, ao conseguir o jogador, também manteve-o longe das garras de outros times do Leste (principalmente dos Senators).
Mas, como os Stars descobriram alguns anos atrás, quando tinham um trio de centrais talentosos (Mike Modano, Jason Arnott e Pierre Turgeon), muitas peças boas no meio nem sempre funciona.
Vamos ver como Peter Laviolette encaixa Weight no seu elenco.
St. Louis Blues
Enquanto os Lauries continuarem à procura de um comprador para seu time de hóquei, os Blues vão se livrar de todos os salários que pude-rem, na tentativa de se preparar para uma dolorosa reconstrução sob nova direção em um futuro próximo. Ninguém tinha a menor dúvida de que eles iriam trocar Weight. Era só uma questão de para onde ele iria.
Quanto mais rápido eles trocassem Weight (ou qualquer outro jogador que suscitasse interesse por parte de outro time), mais dinheiro eles economizariam. Weight ganha US$ 29.081,63 por dia. Ao trocá-lo na segunda-feira, o clube economizou cerca de US$ 2,3 milhões, menos as adições mínimas dos salários de Mike Zigomanis e Jesse Boulerice.
Menos de 24 horas antes, os Blues mandaram o veterando central Mike Sillinger para os Predators. A troca proporcionou uma economia de cerca de US$ 413 mil, menos a proporção do salário mínimo de Timofei Shishkanov, que deve ser de aproximadamente US$ 181 mil se ele ficar na NHL. Ou seja, US$ 232 mil que ficam nos bolsos do St. Louis.
Considerando-se que
tanto Weight como Sillinger tornar-se-iam agen-tes livres irrestritos na próxima temporada, o GG Larry Pleau provavel-mente conseguiu o melhor retorno que se poderia esperar. Ele conse-guiu uma escolha de primeira rodada dos Hurricanes. Quem quer que compre o time vai gostar de ter duas escolhas na primeira rodada do próximo recrutamento — e mais uma de quarta rodada adicional tanto no recrutamento de 2006 quanto no de 2007 — para ajudar a recons-truir o time.
Mas, mesmo com as escolhas adicionais, não será uma tarefa fácil le-var o time de volta aos playoffs num futuro próximo. É só comparar a situação dos Blues com a de outros times próximos da lanterna da liga: qualquer time querendo reconstruir tem estabilidade no gol e jovens promessas para servir de pedras fundamentais. Os Capitals estão fa-zendo isso com Alexander Ovechkin. Os Penguins, com Sidney Crosby, Ryan Whitney, Marc-André Fleury e Evgeni Malkin, que está a caminho. O mesmo vale para os Blue Jackets, com Rick Nash, Nikolai Zherdev e Rostislav Klesla, e para os Blackhawks, com Tuomo Ruutu, Pavel Vorobiev, Brent Seabrook e Duncan Keith.
Já os
Blues... De todos os jogadores que eles recrutaram desde 2000, apenas dois continuam no elenco. O defensor Barrett Jackman é o úni-co recruta de primeira rodada escolhido pelo St. Louis, e nem na AHL encontra-se uma profusão de prospectos. Ao invés disso, o time é uma coleção de refugos e jogadores cujo auge já passou. Isso, pelo menos, eles começaram a corrigir nas duas trocas citadas aí em cima.
Jackman e Eric Brewer — adquirido na troca que mandou Chris Pronger para Edmonton —
são jogadores sólidos que ainda não chegaram aos 30 e podem ancorar uma defesa. Mas quem vai marcar os gols? Deveria ser Keith Tkachuk, mas ele disputou apenas dez jogos na temporada e não deve durar muito tempo no time. Mesmo que de alguma forma Weight tivesse ficado, ele é um grande armador de jogadas, mas não tinha ninguém para finalizar.
No gol, Patrick Lalime foi um fiasco tão grande que os Blues o coloca-ram na desistência e acabaram por mandá-lo para a AHL. Com isso, o gol sobrou para o novato Jason Bacashihua, ainda crú, e Curtis Sandford, que também é calouro. Sandfors, aliás, tem uma história ins-piradora de perserverança, emergindo das ligas menores sem ser recru-tado, mas uma grande história não significa grandes atuações no gol.
É de se esperar que Pleau continue fazendo trocas até a data-limite, em 9 de março. Alguns times estão bastante interessados em Tkachuk, que, como Weight, tem uma cláusula em seu contrato que impede tro-cas. Ao contrário de Weight, Tkachuk, diz que não vai desistir dessa cláusula, porque ele e sua família gostam de St. Louis e gostariam de ficar.
A opção de renovação para a próxima temporada, por US$ 3,8 milhões, é do clube. Se o contrato não for renovado, Tkachuk irá se tornar um agente livre irrestrito. Ou seja, não é escolha dele ficar em St. Louis por muito mais tempo ou não. Se a diretoria informá-lo que não preten-de renovar seu contrato, ele pode mudar de idéia e aceitar uma even-tual troca. Neste caso, temos de esperar para ver.
Acredite se quiser, mas há provas fotográficas do gerente geral dos Devils, Lou Lamoriello, sorrindo em público, o que pode ser conside-rado tão impressionante quanto um pôster da National Geographic com uma foto do monstro do Lago Ness brincando de pega-pega com o Pé-Grande. O raro sorriso deu-se depois de uma vitória nos pênaltis sobre o New York Islanders.
"Falaram que eu estava arruinando com a minha imagem", brinca Lamoriello. "Mas eu fiquei tão feliz por [Zach Parise, que marcou o gol da vitória], um jovem que se esforça bastante e que teve tanta pressão nas costas."
Nos seus 19 anos como GG dos Devils, Lamoriello construiu três campeões, assim como uma reputação de conservadorismo. Depois do péssimo começo do time (no Ano-Novo, eles tinham 16-18-5 e estavam em décimo lugar no Leste) e da demissão, por motivos de saúde, do técnico Larry Robinson, Lamoriello assumiu a responsabili-dade como técnico.
Apesar de dizer que ainda está procurando por um substituto, a procura parece estar se dando com o mesmo esforço de um depu-tado
numa segunda-feira. Lamoriello odeia mexer em time que está ganhando, e, a despeito de dois shutouts sofridos na Flórida na semana passada, os Devils ganharam pontos em 11 de seus últimos 13 jogos, ganhando 10 deles.
Em seu atual papel, Lamoriello, um técnico respeitado na Universidade de Providence entre 1968 e 1983, é técnico e CEO. Mesmo quando os Devils perderam cinco dos sete primeiros jogos com o técnico interino no banco, os jogadores dizem que ele permanecia cruelmente positivista. "Ele faz os jogadores prestar contas", avisa o goleiro Martin Brodeur, que renovou contrato na semana passada, por seis anos, a US$ 31,2 milhões.
O problema parecia ser a ausência de Patrik Elias, que, depois de voltar, em 3 de janeiro, de uma complicada hepatite A, ajudou os Devils a conquistar uma seqüência de nove vitórias. O New Jersey, agora em sétimo na conferência, tem uma primeira linha perigos, com o ponta Brian Gionta, o central Scott Gomez e Elias. Enquanto isso, Brodeur, ainda se ajustando à menor luva, tem tido ajuda da conservadora defesa dos Devils, que parecia estar dormente nas dez primeiras semanas da temporada. Até domingo, ele tinha quatro shutouts em seus últimos 13 jogos, diminuindo sua média de gols sofridos para 2,58. (A.G.)
Alexandre Giesbrecht, 29 anos, está empolgado com o Super Bowl de domingo.
DOUG WEIGHT Do pior para o melhor time da liga (James A. Finley/AP - 26/09/2001)
"QUERO SER RON FRANCIS" A matéria não é sobre ele, mas a foto é boa: na Noite Ron Francis, os jogadores dos Canes prestam sua homenagem (Karl DeBlaker/AP - 28/01/2006)