Por BRUNO CARNEIRO PINHEIRO

No sábado retrasado, 14 de outubro, com nada menos que um shorthanded overtime game winning goal (um gol da vitória na prorrogação e em desvantagem numérica) que selou uma magnífica vitória para os Maple Leafs em cima dos Flames de Calgary, Mats Sundin foi congratulado por seus companheiros de equipe e o público o aplaudiu de pé. Mas não apenas por aquele ser seu terceiro gol em um dos seus melhores jogos na carreira. Aquele era também seu gol número 500 na maior liga de hóquei do mundo, que o colocou no seleto grupo de jogadores que atingiram o feito.

Como não poderia ser diferente, o grande capitão abriu seu largo sorriso e, tirando as luvas, aplaudiu a torcida que o saudava. Esse tipo de atitude define a pessoa que é Mats Sundin.

Adicione ao feito o fato dele agora ter 15 gols em tempo extra na liga, o líder na história da NHL. Isso tudo marcando num dos maiores goleiros da liga, Mikka Kiprusoff, da Finlândia, que é grande rival dos suecos. Mas nem sempre foi fácil para Sundin em Toronto.

O primeiro europeu a ser selecionado em primeiro lugar geral no recrutamento de 89, pelos Quebec Nordiques (atual Colorado Avalanche), Sundin teve bons resultados em quatro temporadas por lá. Marcou 59 pontos em sua temporada de estréia e 334 pontos em 324 partidas disputadas num time jovem e apenas mediano, mas com estrelas emergentes como Joe Sakic e Owen Nolan. A diretoria dos Nordiques, no entanto, foi em busca de um líder para um time tão jovem, um jogador físico, de raça, mas que pudesse também marcar gols.

Acharam-no em Wendel Clark, o veterano dos Maple Leafs que, para os fãs de Toronto, é o mais perto que já tiveram de um Gordie Howe. O tipo de jogador "das antigas", que marca gols com seu chute fortíssimo mas também é aquele que se joga na frente de um chute para bloqueá-lo ou derruba qualquer peso pesado que olhar torto para ele ou para algum companheiro de equipe. Para tirá-lo de lá, no entanto, precisaram abrir mão do jovem Sundin, com apenas 23 anos na época. Para controvérsia e até mesmo hostilidade da torcida de Toronto, a troca foi feita.

Vale lembrar que apenas no início da década de 90 os europeus, principalmente suecos, realmente explodiram na NHL, liderados por Sundin, Lidstrom e, mais tarde, Peter Forsberg. Muitas vezes, portanto, Sundin foi hostilizado pela própria torcida, chamado de "chicken swede" (sueco frangote, pela fama dos europeus de não praticarem um jogo físico, e por puro preconceito também). Mats, no entanto, foi um dos líderes mais produtivos do time, com 47 pontos em apenas 47 jogos em sua primeira temporada nos azuis e brancos, saltando para 83 e depois 94 pontos nas duas temporadas seguintes.

Mas foi principalmente na temporada de 1997-98, quando ele liderou o time à final da Conferência Leste — ultima vez que os Maple Leafs chegaram tão longe nos playoffs —, que ele caiu nas graças da torcida. Ele liderou também sua seleção sueca à medalha de ouro nas últimas Olimpíadas de Inverno, em Turim, sobre os rivais finlandeses. Hoje é o líder e capitão inquestionável de uma das franquias mais tradicionais da NHL, e lida com as pressões de uma das torcidas e imprensas mais exigentes do Canadá, num time que não leva a Copa Stanley para casa desde 1967. Time que este ano que aposta em jogadores jovens como Kyle Wellwood, Matt Stajan e Alex Steen, que seguem a liderança de um dos maiores jogadores europeus de todos os tempos a jogar na América do Norte, e um dos maiores a vestir a pesada camisa dos Leafs.

E em sua noite mais memorável, a noite dos 500 gols, num dos melhores jogos de sua carreira, ele tira as luvas aplaude os fãs. Esse é Mats Sundin.


Bruno Carneiro Pinheiro é leitor da TheSlot.com.br desde a temporada de 2003-04.


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Página publicada em 25 de outubro de 2006.