Por Brian Cazeneuve

Os minutos finais do jogo da última quarta-feira entre Capitals e Thrashers ou foi um revival de hóquei dos velhos tempos ou uma demonstração desprezível de vingança e hooliganismo, dependendo do seu ponto de vista. De qualquer forma, ao distribuir punições relativamente suaves — algumas das quais já estavam previstas nas regras — e não multar o técnico dos Caps, Glen Hanlon, além da multa automática, a NHL mostrou que tem limites na hora de tentar prevenir a selvageria no fim dos jogos.

Primeiro, uma breve recapitulação: os Caps têm sido frustrados pelos Thrashers durante toda a temporada. O Atlanta conseguira virar os três primeiros confrontos, vencendo todos por idênticos 4-3, então a da semana passada foi a quarta derrota amarga do Washington frente a um mesmo rival de divisão em um quarto de temporada.

A 1:22 do fim do jogo, o defensor Andy Sutton, dos Thrashers, recebeu uma penalidade por um tranco próximo às bordas contra Andy Green. Isso fez com que Hanlon começasse a gritar através do vidro protetor contra o técnico dos Thrashers, Bob Hartley, que conseguiu fingir que ignorava Hanlon. Só porque Hanlon foi goleiro em seus tempos de jogador, não significa que o técnico dos Caps vai fugir da briga. Hanlon nunca foi suspenso por um incidente como o de quarta passada, mas é bom lembrar de um jogo em que ele era o reserva dos Rangers nos playoffs, no começo dos anos 80. Naquela noite, o intimidador Paul Holmgren, dos Flyers, começou a ir para cima de alguns dos menores jogadores dos Rangers, conhecidos como "os Smurfs", perto do banco do time de Nova York. De dentro do banco, Hanlon agarrou Holmgren, muito maior que ele, começou a socá-lo e não parou nem quando Holmgren se recuperou e começou a devolver os murros (o gerente geral dos Caps, George McPhee, e Hanlon são quase idênticos em tamanho e em sua visão apaixonada do esporte).

A cabeça fria de Hartley rapidamente esquentou depois que Hanlon mandou seu principal intimidador, Donald Brashear, para o faceoff seguinte. Mesmo antes do apito, as intenções de Hanlon eram claras. Sem a última mudança, Hartley não pôde fazer nada a não ser assistir ao que se seguiu, porque ele já tinha mandado para o gelo o atacante Marian Hossa e os defensores Vitaly Vishnevski e Greg de Vries, nenhum deles capaz de encarar Brashear.

Depois que o disco caiu, Brashear atacou Vishnevski, que não queria brigar e de início não deixou suas luvas cair. Brashear insistiu e acabou por criar uma bela poça no gelo com o sangue de Vishnevski. Ao mesmo tempo, John Erskine — o defensor de 1,93 m e 97 kg dos Caps, cujos minutos de penalidade em sua carreira levam vantagem sobre pontos numa proporção de 61,5 para um (369-6) — partiu para cima de Hossa, que para muitos é o MVP da liga nos dois primeiros meses de temporada. Hossa se deu melhor que Vishnevski nas manobras de evasão. Os demais combatentes, Matt Bradley, do Washington, e Greg de Vries, do Atlanta, faziam uma luta mais equilibrada, se bem que de Vries saiu dela com o lábio inferior ensangüentado. Vishnevski sofreu contusões na cabeça e nos quadris quando Brashear o derrubou ao gelo.

Depois que os árbitros afastaram os jogadores na base do apito, Hartley e Hanlon começaram a trocar ameaças verbais. Câmeras no placar flagaram Hartley dizendo "na próxima vez, na próxima vez" (a próxima visita dos Capitals a Atlanta, em 15 de dezembro). Hanlon foi pego desafiando: "Quer brigar? Quer brigar agora?"

Depois do faceoff seguinte, o central Brian Sutherby, do Washington, deu início a uma briga com o ponta esquerda adversário Brad Larsen. Um faceoff depois, o capitão dos Thrashers, Scott Mellanby, tentou conseguir alguma vingança ao partir para cima de Jamie Heward.

Depois que o jogo finalmente terminou, os técnicos trocaram insultos em voz bem alta no corredor que leva aos vestiários. É verdade que cada um deles se lembra do episódio de maneira diferente. Hartley disse-nos depois que Hanlon se escondeu atrás da esquina que leva ao vestiário dos visitantes e o chamou para a briga no corredor, antes de mandar seu time continuar se dirigindo ao vestiário. Hanlon discordou e apenas disse-nos que eles latiram um para o outro por um tempinho.

O vestiário dos Thrashers estava perceptivelmente quieto, mesmo depois da vitória. Hartley pensou duas vezes antes de cada palavra, mas expressou raiva para com os Caps.

"Não entendo o que aconteceu no fim do jogo", disse. "Qual foi o propósito daquilo? Com as novas regras, não há lugar para esses jogadores. Por que Brashear estava no gelo?" Depois, ele disse, a respeit de Hanlon: "Em toda a minha carreira, nunca vi um técnico se descontrolar daquele jeito."

Hanlon não quis saber de desculpas: "Estou orgulhoso de meus jogadores", disse. "Jogamos fisicamente e todos defenderam todos. Temos um time físico. Demos a resposta apropriada. Não vou me desculpar por isso."

"Nos anos 70", acrescentou Hanlon, "esse tipo de coisa acontecia em todos os jogos."

Talvez acontecesse mesmo. Muitos torcedores daquela época amavam a mentalidade de "Valentões da Rua Broad" e acham que o esporte se tornou mole demais. Eles dizem que qualquer um consegue marcar gols e fazer jogadas hoje em dia, porque os jogadores de talento de hoje não têm de pagar o mesmo preço que os Jean Ratelles e Borje Salmings costumavam ter de pagar. Mesmo assim, muitos hoje amam ver os Marian Hossas do mundo fazer sua mágica sem medo de ser atacados. O fato é que ambos os mundos não podem coexistir, e é difícil de achar um meio-termo que seja ao mesmo tempo feliz e comercialmente viável. A liga estabeleceu uma regra pós-locaute para impedir que times perdendo no fim do jogo acabem com os minutos finais ao colocar intimidadores no gelo para mandar mensagens que possam beneficiar seu time na próxima vez que enfrentar o que os está vencendo naquele instante.

A regra 47.22, que é aplicada neste caso, estabelece o seguinte: "o jogador que for considerado o instigador de uma altercação nos últimos cinco minutos do tempo regulamentar ou a qualquer momento da prorrogação será automaticamente suspenso por um jogo. (...) Além disso, o técnico desse jogador será multado em US$ 10 mil — multa essa que será dobrada em cada incidente subseqüente."

Tomando isso como base, a liga distribuiu suspensões de um jogo automáticas para Brashear, Sutherby e Mellanby, multou Hanlon em US$ 30 mil, incluindo US$ 10 mil por chamar Hartley para a briga no corredor. O "disciplinador-chefe" Colin Campbell então acrescentou mais dois jogos à punição de Brashear, tirando-o de três jogs no total.

Meu veredito é que, se a regra 47.22 foi criada para desencorajar "justiceiros", só ela não será suficiente. Defensores das atitudes da liga vão discordar e apontar que a recente adaptação da regra foi um passo à frente, mas isso não vai impedir um técnico que dê valor à intimidação de mandar seus jogadores fazer a mesma coisa de novo.

• Com os Caps à frente, 2-0, no segundo período, os Thrashers ganharam um empurrãozinho de quem menos esperavam. O defensor Shane Hnidy encerrou um jejum de 202 jogos sem marcar gols (desde 2002, quando jogava pelo Ottawa) ao disparar uma bomba a 12 metros do gol, vencendo o goleiro do Washington, Olaf Kolzig. Hnidy esteve no gelo por menos de seis minutos no jogo.

• A vitória dos Sabres por 7-4 sobre o Toronto, também na quarta-feira, marcou a sétima vez que o time virou um jogo que chegou a estar perdendo por dois gols de diferença (ninguém na liga conseguiu mais vezes tal feito). E é bom o pessoal prestar mais atenção em seus tacos. O jogo também teve sete penalidades por enganchamento, cometidas por sete jogadores ddiferentes... só no primeiro período!

• Ironia das ironias em Columbus: Ken Hitchcock assumiu o comando dos Blue Jackets na Filadélfia. O Columbus visita os Flyers uma vez a cada três temporadas, então é uma chance em 246.

• A ficha técnica do jogo da terça-feira passada entre Islanders e Hurricanes não tinha nenhum erro. Durante a vitória, o time de Nova York realmente teve vantagem sobre o atual campeão de 20-1 em chutes no primeiro período, 37-7 nos dois primeiros períodos e 48-15 no jogo inteiro. Alexei Yashin, que recentemente acordou [N. do T.: e já se contundiu, depois do fechamento da matéria], liderou os Isles com sete chutes a gol, seguido por Jason Blake e Andy Hilbert, com seis cada. Ao todo, 16 Islanders chutaram a gol no jogo. As exceções foram os defensores Sean Hill e Brendan Witt.


Brian Cazeneuve é jornalista do site SI.com. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
SAIU NO LUCRO Hanlon foi multado em US$ 30 mil por conta das atitudes de seu time.
(Mitchell Layton/Getty Images - 22/11/2006)
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Página publicada em 29 de novembro de 2006.