Por: Eduardo Costa
Enquanto todas as publicações esportivas do planeta, inclusive brasileiras, alardeiam a Copa dos Campeões de futebol da Europa, a sua TheSlot.com.br, em mais um ato de rebeldia juvenil mesclado com alto consumo de bebidas alcoólicas, zomba de tudo isso. Basicamente porque: 1) O grande PAOK Salonica, da gloriosa e única liga grega, não prioriza essa competição; 2) Uma liga onde o ignóbil Juliano Belletti faz o gol da vitória da Copa, não deve ser levada a sério; 3) como é que pode ser chamada de Copa dos Campeões se até alguns 4º e 5º lugares de suas respectivas ligas se classificam para tal torneio?

Por isso a sua revista semanal de hóquei sobre o gelo traz agora uma análise sobre a verdadeira liga dos campeões da Europa. A que reúne apenas primeiríssimos lugares. Nela, vice não entra. Nela, terceiro lugar não fica sabendo nem o endereço da arena e quartos e quintos são tão ignorados quanto avisos de "aprecie com moderação" ou "pega leve, o namorado dela é PM". Nela, jovens animadoras de torcida russas entretêm o público com arte, leveza, simpatia, coreografias... Ah, a quem eu quero enganar, elas entretêm porque são deliciosas russas com trajes curtos e generosos decotes. Aí elas ficam pulando e ... (nesse momento o colunista pára e tenta lembrar do que ele ia escrever)... Bem, tudo isso para dizer que a verdadeira Copa dos Campeões da Europa é a do hóquei sobre o gelo. E essa, caros amigos, é uma verdade imutável.

Tão imutável como o domínio russo na competição. Eles venceram todas as três edições da competição até agora. E todas elas contra equipes finlandesas.

O fator torcida deve ser levado em conta para analisarmos o sucesso dos clubes desses dois países. Desde seu inicio, em 2005, a competição é disputada numa única cidade, a histórica São Petersburgo. A segunda maior cidade russa não tem uma equipe de primeira grandeza no hóquei, então geralmente os torcedores locais torcem pelo representante de seu país, seja ele de que região for. Já os finlandeses se aproveitam da proximidade geográfica com São Petersburgo e atravessam em bom número a fronteira.

Os suecos, atuais campeões olímpicos e mundiais de seleções, apresentam um histórico pífio na competição. E a desculpa para isso está na ponta de língua dos vikings: a liga local — Elitserien — é tida como a mais forte e competitiva do continente e está sempre em pleno andamento no mesmo período em que a Copa dos Campeões é disputada, fazendo com que as suas equipes não dêem a atenção devida ao troféu continental. Mas será que isso justifica a humilhação sofrida pelo HV71 em 2005, quando perderam por 9-0 para os russos do Avangard Omsk? Ou o Frölunda Indians sendo massacrados por uma equipe suíça — HC Davos — em 2006 por 6-2? Até mesmo o forte Färjestads BK, considerado uma das melhores equipes suecas dos últimos dez anos, deu pena nessa última edição, terminando na lanterna, atrás até mesmo do inexpressivo MsHK Zilina da Eslováquia.

Por falar em Eslováquia, vale frisar que a liga desse país não possui muitos atrativos e é considerada bem fraca. Seus melhores valores vão bem cedo para ligas juniores canadenses ou para a vizinha República Tcheca, mas como o critério para participar da competição continental de clubes é baseado nos resultados obtidos pelas suas respectivas seleções, eles levam vantagem sobre países com ligas bem mais fortes, como a alemã e suíça, que geralmente brigam pela sexta colocação no ranking europeu. Os alemães conseguiram colocar um representante em 2005 — Frankfurt Lions — e os suíços em 2006 — HC Davos — e 2007 — HC Lugano.

Vamos então a um breve resumo das três primeiras edições, incluindo a última — realizada agora, nesse mês de janeiro. Lembrando que, até hoje, a fórmula é a mesma: dois grupos de três equipes. O campeão de cada grupo faz a final. Simples como passar pela defesa dos Flyers.

2005 — Jaromir Jagr e Roman Abramovich: dupla imbatível

Locaute na NHL, e com isso muitas figuras desembarcaram no Velho Continente para se manter na ativa e encher o bolso. Jaromir Jagr, sempre ávido por contratos de cifras obesas, patinou rumo ao Avangard Omsk da Rússia, equipe que pertence ao bilionário Roman Abramovich (aquele mesmo, dono do Chelsea FC da Premier League inglesa). O magnata montou a equipe dos sonhos para vencer a primeira edição da CCE. Além de Jagr, o time contava com figurinhas carimbadas, como os defensores Sergei Gusev e Oleg Tverdovsky. No ataque, novatos como a flecha cazaqui Alexander Perezhogin e veteranos já consagrados como Andrei Kovalenko, Maxim Sushinsky e Alexander Prokopiev. No gol, o ex-reserva dos Red Wings, o mediano Norm Maracle.

Avangard goleou os eslovacos do Dukla Trencin por 6-1 na estréia, mas assustou mesmo ao demolir o campeão sueco HV71 por 9-0, com show individual de Maxim Sushinsky — um matador, que teve passagem pouco gloriosa na NHL. Os russos encontraram na final a força emergente do norte da Finlândia, o Karpat Oulu. Basicamente o hóquei finlandês dividia suas glórias entre os grandes clubes da capital Helsinque (Jokerit e HIFK), de Tampere (Ilves e Tappara) e de Turku (TPS). Todas cidades mais ao sul. O norte marginalizado (?) parece ter ganho finalmente um representante à altura dos grandes do país.

Ao contrário do Avangard, o time de Oulu tinha como destaques crias da casa, como o atacante Jussi Jokinen (esse mesmo do Dallas Stars) e o defensor, e capitão, Lasse Kukkonen (Chicago Blackhawks). Poucos reforços de outros países, como Petr Tenkrat (hoje no Boston Bruins). Com isso o favoritismo foi todo colocado no lado do Avangard. A disparidade no papel não foi vista no gelo. Jogo equilibrado e nervoso. Tão nervoso que Jaromir Jagr foi para o banco de penalidade três vezes em um curto intervalo de tempo. Quando resolveu jogar hóquei, Jagr desequilibrou.

O defensor Ilka Mikkola ainda no primeiro período deu uma curta vantagem ao time finlandês, vantagem essa que durou até os dez minutos finais do terceiro período, quando Jagr serviu Alexei Kalyuzhny para o empate. A decisão então foi pra a prorrogação. Karpat chegou a anular uma vantagem numérica dos adversários após vacilo de Jokinen. Com o jogo amarrado, coube aos astros maiores do Avangard decidirem tudo. Em um dois contra um, Sushinsky colocou Jagr na cara do jovem goleiro Niklas Backstrom e a Copa foi para a equipe siberiana.

2006 — Dynamo: finalmente, campeão do continente

O Dynamo viveu décadas na sombra de seu maior rival, o CSKA Moscou. A equipe das forças armadas era a base da magnífica seleção soviética nas décadas de 60, 70, 80 e início da de 90. Com isso o CSKA dominou não apenas a liga russa, como também as competições européias, onde foi campeão 20 vezes, incluindo 13 títulos consecutivos — de 1978 a 1990 — da extinta Copa da Europa de clubes. Já o Dynamo chegou perto em 1994, quando perdeu a final para o TPS da Finlândia, em Dusseldorf na Alemanha. Esses dois clubes se encontraram novamente em 1997 e com o mesmo desfecho, numa final disputada em Turku, casa do TPS. No ano seguinte lá estava o Dynamo nas finais novamente. Dessa vez contra o desconhecido VEU Feldkirch da Áustria e novamente com o adversário com mando de gelo. Derrota por 5-3, que fez com que os moscovitas exigissem hospedar as finais de 1999.

Conseguiram a sede, mas, numa final inteiramente russa, foram derrotados pelo glorioso e imaculado Metallurg Magnitogorsk. Derrota no quintal de casa que demorou pra cicatrizar. Definitivamente parecia que um título europeu jamais viria a ser conquistado pelo time da capital.

Em 2006, na segunda edição da remodelada Copa dos Campeões, eles contavam com o apoio do público em São Petersburgo. Milhares de bandeiras azuis no Ice Palace de São Petersburgo. O outro finalista era novamente o Karpat Oulu. Ou seja, dois clubes com estigma de vice-campeões. Um deles abandonaria esse rótulo. Um velho carrasco do Karpat, Maxim Sushinsky, que foi fundamental para o Avangard na final do ano anterior, era o principal destaque do Dynamo. Já os finlandeses conseguiram manter a boa base de 2005. Com tudo isso a final prometia. E cumpriu com as expectativas. Jogão, só decidido na disputa de pênaltis. E finalmente com final feliz para o Dynamo Moscou. Entre lágrimas, sorrisos e vodka, jovens e antigos torcedores comemoraram, de Moscou a Vladivostok, o primeiro título europeu de uma das mais populares instituições esportivas da Rússia.

2007 — Ak Bars: passeio tártaro

Basta vermos o time ideal da competição, eleito pela imprensa que cobriu a competição — encerrada há menos de duas semanas —, para constatarmos o poder bélico do time da região do Tartaristão. Do goleiro Mika Noronen, passando pelos defensores Vitali Proshkin e Ilya Nikulin, até chegarmos ao trio do mal Danis Zaripov, Sergei Zinoviev e Alexei Morozov, todos pertencem ao esquadrão do Ak Bars Kazan.

Com esses destaques individuais, foi um passeio tártaro até as finais, onde encontrariam os finlandeses do HPK Hämeenlinna.

Equipe historicamente média da SM-Liiga, o HPK ganhou o direito de estar na CCE ao vencer pela primeura vez a liga local em 2006. A equipe se reforçou antes da competição continental. David Moravec, um jogador de muita estrela no hóquei europeu, e o americano Billy Tibbetts foram os maiores investimentos. Como resultado, o time da cidade de Hämeenlinna conseguiu manter seqüência de presenças finlandesas em finais, mas, ao contrário do Karpat, que vendeu caro suas derrotas, o HPK não foi páreo para o Ak Bars. Na verdade eles não foram páreos pra o super-trio Zaripov, Zinoviev e Morozov.

E como não bastasse ter um elenco inferior, o HPK sofreu com um erro de julgamento terrível por parte da arbitragem, que validou, mesmo após consultar a repetição, um gol de canhota (?) de Zinoviev. Quando se enfrenta o líder da liga russa, com os jogadores mais produtivos da Copa dos Campeões e com um árbitro tendencioso, a coisa fica difícil.

Apesar do destaque de Morozov, o duo Z (Zinoviev e Zaripov) não ficou muito atrás em protagonismo. Entrosamento perfeito em fórmula de tabela, concluída por Zaripov para o 2-0. O goleiro Miika Wiikman sabia que seria uma tarde complicada, mas não que começaria tão indigesta. Ainda no período inicial Morozov fazia o terceiro aproveitando uma desastrada troca de linha dos adversários, praticamente liquidando o jogo. O segundo período foi do goleiro finlandês do time russo. Noronen mostrou segurança e frieza, dispensando defesas acrobáticas.

Quem não mostrou simplicidade foi Enver Lisin. O nobre e culto leitor deve se lembrar dessa figuraça, que em 14 jogos com os Phoenix Coyotes nesta temporada, somou dois pontos e bizarros -17. Lisin mostrou desconhecer a expressão colaboração defensiva quando esteve na NHL. Já na CCE mostrou não saber o que é jogar em equipe. Egoísta e fominha — perto dele Pavel Bure seria candidato ao Troféu Selke.

O terceiro período veria mais três gols do Ak Bars. Ilya Nikulin, sóbrio defensor, dono de um chute certeiro e brutal, teria ganho meu voto de melhor jogador da competição. Ele mostrou o porquê marcando o quarto gol como se fosse um atacante nato. Organizador da equipe de vantagem numérica do time, Nikulin foi perfeito em ambos as extremidades do gelo. Mas, pensando bem, após a assistência de Morozov para o gol de Andrei Pervyshin — o do 5-0 —, fica difícil discordar do status de jogador mais valioso da competição, obtido por Morozov. Igor Shchadilov ainda marcou mais um, expondo o abismo técnico entre o Ak Bars e o HPK. Na verdade, expondo o abismo entre o Ak Bars e todos os outros clubes europeus no momento.

Pensamento inútil final

Da próxima vez que você encontrar alguém se referindo à Copa da Europa de futebol, como Copa dos Campeões, saiba que isso é uma fraude. E esta coluna foi mais para alertar nossos nobres leitores dessa injustiça descomunal. Se existe uma Copa dos Campeões da Europa digna de se chamar assim, é a de hóquei.
Eduardo Costa teve que apertar o pause várias vezes durante a transmissão de Ak Bars-HPK Hämeenlinna, para conferir os atributos das jovens e sapecas animadoras russas!
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Morozov comemora seu gol contra o HPK na final: capitão, líder em pontos da competição e jogador mais valioso do campeão europeu de 2007.
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Pavel Rosa beija a Copa dos Campeões: primeiro título após unúmeras finais perdidas pelo Dynamo de Moscou.
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Roman Abramovich não gasta só com o Chelsea, ele é dono do Avangard Omsk, e pagou bem para Jaromir Jagr brilhar na CCE de 2005.
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Você já viu belezuras como essas em jogos da Copa dos Campeões de futebol da Europa? Claro que não! Mais um motivo para atestar a supremacia do hóquei!
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Página publicada em 24 de janeiro de 2007.