Por: Alexandre Giesbrecht

Muita gente vai dizer que preferiria ver a Copa Stanley voltar para o Canadá. Aliás, voltar para Ottawa, que foi onde todo começou, com o Lorde Stanley, em 1893. Muita gente vai dizer que a Copa Stanley está indo para um lugar sem tradição, onde o inverno não é muito diferente do verão e onde não havia um time de hóquei até 15 anos atrás. Muita gente ainda vai se lembrar das raízes associadas à Disney e a seu famigerado filme sobre as crianças jogando hóquei.

Mas ainda mais pessoas vão dizer que o título foi absolutamente justo. E foi.

Não importa que não houvesse favoritos antes de as finais começarem. Já a partir do jogo 1, os Ducks demonstraram ser candidatos merecedores. Com a atuação no jogo 2, então, percebeu-se que só uma reviravolta de proporções homéricas salvaria os Senators. No jogo 3, uma pequena reviravolta ocorreu e deu uma pequena sobrevida ao time canadense. Essa sobrevida acabou sendo de apenas um jogo, já que as atuações no jogo 4 e, especialmente, no jogo 5 selaram o destino das finais de 2007 e mandaram a Copa Stanley para a Costa Oeste pela primeira vez desde que o Victoria Cougars a levou para aquelas bandas, em 1925.

Não que o duelo não tivesse tudo para ser dos mais equilibrados de todos os tempos. O problema é que os Senators decidiram aparecer só com seus corpos para jogar — a alma ficou em outro lugar. Curiosamente, nas duas finais anteriores, havia um claro favorito e uma clara zebra. O favorito ganhou em ambas as vezes, mas só depois de sete emocionantes jogos.

Desta vez, nem sequer tivemos uma prorrogação (apesar de os jogos 1 e 2 terem chegado razoavelmente perto dos tempos extras). Foi a primeira vez que isso aconteceu desde 2001 e apenas a segunda vez desde 1997. Outra "tendência" que foi quebrada foi a dos sete jogos. Por três finais seguidas (2003, 2004 e 2006; em 2005 não houve finais por conta do locaute), chegou-se aos sete jogos para decidir o campeão — e, infelizmente nenhum desses jogos 7 foi para a prorrogação. Mas desta vez a superioridade dos Ducks foi tão clara que não foram necessários mais que cinco jogos para eles ficarem com o direito de levantar o mais famoso troféu do esporte norte-americano.

O jogo decisivo não foi dos melhores, e o número de chutes a gol (13 dos Sens, 18 dos Ducks, para um total de 31, o menor total em um jogo decisivo desde 1978) foi prova disso. Não que esse total tenha sido por falta de tentativas. Os Senators, por exemplo, dispararam 45 vezes com a intenção de marcar. Mas 16 desses chutes foram bloqueados por jogadores do Anaheim e outros 16 não foram a gol, incluído aí o pênalti perdido por Antoine Vermette.

O Troféu Conn Smythe ficou merecidamente com Scott Niedermayer, que, assim, se tornou o primeiro jogador de linha a ganhar o troféu sem ter marcado um só gol nas finais. Ele não precisava, é claro. Sua atuação lá atrás foi mais que suficiente para elegê-lo o jogador mais importante dos Ducks nesta conquista. Para ele, talvez esta tenha sido justamente a mais saborosa de suas quatro, já que ele pôde, depois de receber a Copa Stanley das mãos do comissário Gary Bettman, passá-la a seu irmão Rob, que ainda não tinha tido o prazer de levantar 16 quilos de prata sobre sua cabeça.

Do lado dos Senators, ficou um gosto amargo na boca, porque o time tinha jogado tão bem até as finais que davam quase a impressão de que varreriam até os Canadiens do final dos anos 70. Se o sucesso anterior subiu à cabeça dos jogadores antes das finais não há como saber, mas o técnico Bryan Murray ficou decepcionado com seus jogadores e não fez questão de esconder nas entrevistas que deu após o título dos Ducks.

Isso não deixa de ser irônico, já que, como o próprio gerente geral dos Ducks, Brian Burke, lembrou, foi Murray quem deu início à construção do campeão, como antecessor de Burke. Ou seja, Murray está decepcionado com seus jogadores atuais, mas certamente está orgulhoso de seus ex-jogadores. Hóquei é assim mesmo. Do mesmo jeito que os Senators, que foram por anos saco de pancadas da liga, já há um bom tempo são considerados um time forte e desta vez conseguiram até superar o trauma das eliminações precoces nos playoffs — hum, será que o fato de os Leafs, seus eternos carrascos, não terem se classificado foi determinante para isso?

Questões como essa última farão parte das férias de uma enorme parte dos jogadores da NHL. Os únicos que certamente estarão livres disso são aqueles que jogaram as luvas para o alto ao apito final na quarta-feira. Esses não têm nada a questionar.

Só a comemorar.

Alexandre Giesbrecht, 31 anos, já encomendou o novo CD de Chris Cornell, lançado na terça-feira.
Mark J. Terrill/AP
Essa festa foi mais que merecida.
(06/06/2007)
06/06/2007 00 00 00  
Ottawa 0 2 0 2
Anaheim 2 2 2 6
PRIMEIRO PERÍODO — Gols: 1. Anaheim, Andy McDonald 10 (Ryan Getzlaf, Chris Pronger), 3:41. 2. Anaheim, Rob Niedermayer 5 (Corey Perry), 17:41. Penalidades: T. Preissing, Otw (interference), 1:40; A. Volchenkov, Otw (hooking), 3:25; J. Spezza, Otw (holding the stick), 5:39; S. Pahlsson, Anh (elbowing), 10:14; C. Perry, Anh (roughing), 15:31; T. Selanne, Anh (holding), 18:10.
SEGUNDO PERÍODO — Gols: 3. Ottawa, Daniel Alfredsson 13 (Peter Schaefer, Mike Fisher), 11:27. 4. Anaheim, Travis Moen 6 (sem assistência), 15:44. 5. Ottawa, Daniel Alfredsson 14 (desvantagem numérica) (sem assistência), 17:38. 6. Anaheim, François Beauchemin 4 (vantagem numérica) (Andy McDonald), 18:28. Penalidades: C. Schubert, Otw (elbowing), 16:46.
TERCEIRO PERÍODO — Gols: 7. Anaheim, Travis Moen 7 (Scott Niedermayer, Samuel Pahlsson), 4:01. 8. Anaheim, Corey Perry 6 (sem assistência), 17:00 . Penalidades: C. Schubert, Otw (slashing), 5:48; A. Volchenkov, Otw (slashing), 12:27.
CHUTES A GOL
Ottawa 3 5 5 13
Anaheim 5 7 6 18
Vantagem numérica: OTW – 0 de 3; ANH – 2 de 6. Goleiros: Ottawa – Ray Emery (18 chutes, 12 defesas). Anaheim – Jean-Sébastien Giguere (13, 11). Público: 17.372. Árbitros: Paul Devorski, Dan O'Halloran.
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Página publicada em 8 de junho de 2007.