Por: Brian Cazeneuve

Teemu Selanne estava sobre a linha vermelha, tentando falar palavras que não saíam. Ele abraçou sua esposa, Sirpa, lutou contra uma leva de lágrimas, virou-se para Pierre Maguire, repórter de campo da NBC, e lá veio… nada. Foi necessário um segundo esforço, aquele que deu a Selanne uma segunda vida em Anaheim, que transformou emoções em palavras. "Às vezes, eu pensava que isso nunca iria acontecer", disse. Selanne levou 15 temporadas, muitas delas jogadas em um nível estelar, para levantar a Copa Stanley pela primeira vez, depois que seu Anaheim Ducks passou a régua no Ottawa Senators com a vitória por 6-2 na quarta-feira. Maguire quis saber se o troféu de 16 kg pareceu pesado ou leve. "Bem pesado, na verdade", respondeu Selanne. "Que sentimento inacreditável. Eu esperei tanto por isso."

Selanne começou no Winnipeg Jets, em 1992, e marcou 76 gols, recorde da NHL para um novato, em sua primeira campanha. Apesar de ter sido estrela instantânea, alguns dos colegas de Selanne não foram com a sua cara no começo. Um deles, um veterano defensor chamado Randy Carlyle, foi um crítico em particular dos hábitos de Selanne nos treinos. Ao invés de colocar Selanne na capa do anuário do time, os Jets deram a honra ao intimidador Tie Domi. "Eu ainda pego no pé do Teemu de vez em quando", confessou Carlyle nesta semana. "Ele tinha tanto talento e tanta habilidade, que eu queria vê-lo tirando o máximo disso."

Como técnico de Selanne, Carlyle tem visto ele fazer exatamente isso. Em 1.041 jogos em sua carreira, Selanne marcou 540 gols, 595 assistências, um total de 1.135 pontos. Ele, que fará 37 anos no mês que vem, tem falado com freqüência de querer sair no auge, e ganhar o título exigiu dele um segundo esforço.

Selanne teve algumas temporadas recentes que indicaram que sua técnica está em declínio. Em 2003, ele e Paul Kariya assinaram contratos a preço de banana com o Colorado Avalanche, pela chance de ganhar um título. Ainda assim, a química não funcionou. Selanne marcou apenas 32 pontos em 78 jogos, e os Avs não conquistaram o título. Quando Selanne voltou ao Anaheim em 2005, parecia quase um gesto de pena para um veterano encerrar sua carreira onde ela começou. Ao invés disso, Selanne marcou 40 e 48 gols respectivamente em suas duas últimas temporadas e foi a única ameaça constante dos Ducks no ataque.

Enquanto ele ia se aproximando do momento máximo de sua carreira, Selanne estava se deleitando com os momentos. Ele recordou as 59 mensagens de texto que recebeu depois que os Ducks eliminaram os Red Wings nas finais da Conferência Oeste. Muitas delas foram de seus amigos finlandeses que tinham prometido ir aos EUA assistir-lhe ganhar a Copa Stanley se ele algum dia chegasse às finais. Selanne pagou as passagens de 16 deles para a América do Norte, incluindo seu irmão gêmeo, Paavo, para partilhar com eles o momento. Ele precisou até da ajuda do eBay para garantir a última passagem. O grupo usou camisetas onde se lia "Teemu the Flash". Ele deu a entender, mas não chegou a confirmar, que este seria seu último jogo na NHL.

Mas, sejamos justos, o jogo 5 propriamente dito não foi exatamente um dos melhores na carreira de Selanne, que teve mais/menos de -1, não pontuou em pouco mais de 20 minutos no gelo e perdeu seis dos sete faceoffs que disputou. Ainda assim, deve ser o jogo de que ele nunca vai se esquecer. "Estes foram, de longe, os dois melhores anos da minha vida", comemorou. "Eu sempre sonhei em me aposentar no auge."

Em quase todas as séries perdidas há um momento de frustração extrema, de decepção debilitante. Chame-o de Momento Steve Smith. A última vítima de Smithite (não confundir com Kasparaitis) desta temporada foi Chris Phillips, do Ottawa, um defensor sólido, cujo destino foi jogado ao gelo com um erro no segundo período que personificou a agonizante esperança de seu time.

Na derrota de seus Senators para os Ducks na quarta-feira, Phillips cometeu um azarado erro que lembrou bastante um parecido cometido pelo defensor do Edmonton em 1986. A série determinou a única falha no que poderia ter sido um reinado de cinco Copas Stanley para os Oilers de Wayne.

Os Oilers disputavam um acirrado jogo 7 contra seus arqui-rivais de Calgary. Apesar de jogarem em casa, os Oilers saíram perdendo por 2-0 e com muito esforço tinham empatado a partida. Smith dominou o disco ao lado de seu gol e tentou fazer um passe para o meio do gelo. Mas o disco acertou a parte de trás do patim de seu goleiro, Grant Fuhr, e rolou para dentro do gol, no que acabou sendo o tento decisivo da série. De pouco importava que Smith tenha jogado admiravelmente nos jogos anteriores da série; ele foi lembrado por aquela jogada. Pergunte a Bill Buckner ou a Scott Norwood se aquele momento de infâmia não pode sobrepujar um currículo de grandes feitos.

Na quarta-feira, os Senators de Phillips estavam finalmente dando sinais de vida depois de um horrível primeiro período. Quatro minutos depois de Daniel Alfredsson ter diminuído o placar para 2-1, Phillips tentou fazer uma jogada na direção do meio do gelo, quando acertou o disco no patim direito de Ray Emery, desviando-o para dentro do gol do Ottawa. Os Senators nunca mais se recuperaram no jogo.

O Momento Smith não foi exatamente a mesma coisa para Phillips, porque seu time perdia a série por 3-1, jogando como um time derrotado mesmo antes de seu erro. Foi um dos muitos erros de Phillips na noite: ele ainda desviou para dentro o gol de Andy McDonald que abriu o placar e perdeu o disco antes do terceiro gol. Se há algum consolo para ele, pode ser a imagem de Gretzky recebendo a Copa Stanley para os Oilers em 1987 e cedendo-a a um aliviado e merecedor Steve Smith.

Brian Cazeneuve é colunista do site SI.com. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
Edição Atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Contato
© 2002-07 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução do conteúdo escrito, desde que citados autor e fonte.
Página publicada em 8 de junho de 2007.