Por: Alexandre Giesbrecht

O estádio vazio em abril era estranho. Desde 1979 os grilos não cantavam tão cedo dentro da casa dos Blues. Ao menos, naquela primavera setentrional de 2005 os grilos cantavam por todos os estádios da NHL, graças ao locaute que tirou dos livros de história aquela temporada. O que não se esperava é que o estádio estivesse às moscas em abril de 2006. Pela primeira vez em 27 anos os Blues não estavam na disputa pela Copa Stanley.

Como toda escrita é para ser quebrada, uma hora aconteceria, então até aí, tudo bem. O problema é que o estádio voltaria a ficar às moscas em abril do ano seguinte. Pior: o estádio esteve às moscas durante boa parte da temporada. Às vezes, o público anunciado dava a impressão de que era uma contagem de braços e pernas, em vez de cabeças, tantos eram os assentos vazios.

Não era para menos. Os Blues foram os lanternas da liga em 2005-06, e os novos donos do time resolveram logo em seguida aumentar em 8% os preços dos ingressos. Isso é que é marketing! Ao menos alguém mais esperto foi cochichar no ouvido de Dave Checketts, principal acionista do time, que reverteu o aumento em fevereiro.

Essa decisão sozinha não teria tido um grande efeito, não fosse uma outra decisão, tomada dois meses antes: a demissão do técnico Mike Kitchen. Quem assumiu o comando do time foi o obcecado Andy Murray, que tirou o time da lanterna da liga (tinha começado 2006-07 com apenas 7-17-4) e levou-o a uma razoavelmente honrosa décima colocação no Oeste (sob a batuta de Murray, a campanha do time foi de respeitáveis 27-18-9).

Foi um renascimento impressionante, que deu maiores esperanças para esta temporada. É muito fácil provar isso: a receita de ingressos vendidos em 2007-08 já ultrapassou a receita total de ingressos vendidos na temporada passada. Não, você não leu errado.

Não que o time esteja colocando gente pelo ladrão no Scottrade Center. Mesmo com o bom começo (sétima colocação no Oeste, com 7-6 até o fechamento desta edição), o estádio só tem lotado nos fins de semana. Contra os Blackhawks, no último sábado, 19.150 torcedores encheram a arena; em compensação, na terça-feira anterior, 14.222 pessoas pagaram ingresso para ver a derrota por 2-1 para os Coyotes.

O presidente do time, John Davidson, não chega a lamentar. "No ano passado", elabora, "em uma terça de outubro contra o Phoenix provavelmente teríamos um público de 6 [mil pessoas]." Um time vitorioso — ou algo próximo o bastante disso — faz esse tipo de milagre.

E como o time evoluiu tanto em um espaço tão curto de tempo? Dois fatores destacam-se: Keith Tkachuk e Paul Kariya. O primeiro assumiu a posição de central depois de mais de uma década na ponta esquerda. Com 1,88 metro e 105 kg, ele deu ao time uma presença de peso no meio, algo que os rivais do Oeste já tinham aos montes. O segundo chegou nas últimas férias, depois de fracassar em sua tentativa de dar alguma relevância aos Predators.

Tão obcecado quanto Murray, ele tinha se dado muito bem com o técnico na conquista da medalha de ouro no campeonato mundial deste ano. Sua atitude desde que chegou, comportando-se como se espera de um veterano, tem sido tão ou mais importante que sua produtividade no gelo. "[Kariya] tem sido muito profissional tanto no gelo como fora dele", elogia Davidson. "Alguns dos nossos funcionários dizem que este é o melhor vestiário que eles já viram por aqui, e o Paul é uma grande parte disso."

Ele também tem se dado muito bem com seus parceiros de linha, Tkachuk e Brad Boyes. Juntos, os três têm um total de 41 pontos. Ainda há que se arrumar outras forças ofensivas no time, porque, excluídos esses três, ninguém em St. Louis tem mais de sete pontos em 13 jogos, a fórmula perfeita para os outros times anularem qualquer poderio ofensivo dos Blues. Na derrota de domingo para os Blue Jackets, bastou ao Columbus anular a primeira linha adversária para sair com a vitória por 3-0.

A solução para esse problema pode estar... na defesa! Com Barret Jackman, Jay McKee, Eric Brewer, Bryce Salvador, Erik Johnson, Christian Backman, Steve Wagner e Matt Walker, os Blues têm um excedente de defensores, e algum deles pode servir para trazer um atacante. Davidson garante que nenhum deles foi oferecido ao mercado. Por enquanto.

"Tivemos três zagueiros contundidos no começo da temporada", conta. "Ainda bem que nós tínhamos quem nós tínhamos. Walker jogou muito bem. Wagner veio do nada." Para ele, Wagner é a maior surpresa do time até aqui.

Ainda é cedo para saber se os grilos voltarão a cantar já no começo de abril no Scottrade Center, mas ao menos a esperança volta a St. Louis.

Alexandre Giesbrecht, 31 anos, é cinco vezes campeão brasileiro. Penta, só se seu time vencer os três próximos campeonatos.
Kyle Ericson/AP
Steve Wagner (à direita na foto, ao lado de Alex Ovechkin, dos Capitals) é uma das surpresas dos Blues nesta temporada.
(27/10/2007)
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Página publicada em 7 de novembro de 2007.