Por: Humberto Fernandes

Boa parte dos torcedores de hóquei no gelo no mundo todo — e todos os membros de TheSlot.com.br — consideram o Columbus Blue Jackets uma aberração. Acredito que em nossa redação todos seriam a favor da redução do número de franquias na NHL. E se alguém nos perguntasse qual seria a primeira vítima, não há dúvidas, o dedo seria apontado para o Columbus.

Nada contra o estado de Ohio, a cidade, o logotipo da equipe, as cores do uniforme ou o mau humor de Ken Hitchcock. Os argumentos contrários a permanência do time passam pelo aspecto financeiro da liga e pela qualidade do jogo. É mais fácil vender um jogo entre Anaheim Ducks e Detroit Red Wings do que um entre Red Wings e Blue Jackets. E com maior número de times na liga, aumenta a demanda por jogadores e o talento é diluído entre as partes.

Mas, acima de tudo, nós somos fãs de hóquei no gelo, admiradores da NHL. Então quem se importa com as finanças da liga diante do fenômeno Pascal Leclaire? Nestas páginas já lançamos a campanha pró-Dallas Drake no Jogo das Estrelas e agora eu proponho uma nova empreitada: Blue Jackets nos playoffs!

É surpresa geral o ótimo começo de temporada da equipe, o melhor em sua curta história, com oito vitórias em 13 jogos e, em certo ponto, a terceira melhor campanha da liga. Não são apenas números: os Blue Jackets estão dominando os adversários, fruto do sistema implantado pelo treinador Hitchcock, que exige dos jogadores o máximo de comprometimento todos os dias.

Comprometimento. Essa é a palavra.

Dê a Hitchcock tempo para trabalhar e ele transforma qualquer equipe em competidora. Essa é a mensagem que ele tem nos passado. E aqui há um detalhe importante: o centralizador Doug MacLean, acostumado a tomar conta de tudo, não está mais por lá. O novo gerente geral, Scott Howson, é o oposto de MacLean, o que agrada em cheio a Hitchcock, que gosta de participar das decisões gerencias de sua equipe.

Um dos méritos do treinador é resgatar Nikolai Zherdev, a maior decepção da última temporada. E tudo começou nas férias, quando Hitchcock e Howson foram até Ottawa encontrar o russo e seu empresário, demonstrando o quanto o jogador era importante para a equipe. Zherdev se apresentou em melhor forma física e mais determinado, conforme atestam seus companheiros de equipe. Talento ele sempre teve, o que lhe faltava era comprometimento e paixão pelo jogo, para atuar com mais consistência e produzir ofensivamente.

Outro fator de sucesso da equipe tem sido a eficiência em matar penalidades. Os Blue Jackets não são apenas bons, eles são os melhores no quesito. Em 67 desvantagens numéricas, sofreram apenas quatro gols, com absurdos 94% de aproveitamento. E não é só isso: mesmo com um jogador a menos no gelo a equipe já marcou três gols. Isso é comprometimento. Do outro lado, a disciplina: ninguém na NHL passou mais tempo de jogo em vantagem numérica. Enquanto os rivais passam, em média, 12,6% dos jogos com um jogador a mais, o Columbus passa 15,4%. Convertendo em minutos, a diferença é de 1:41, quase uma oportunidade inteira.

No hóquei, marcar o primeiro gol boa parte das vezes significa vencer o jogo. Estar à frente no placar, obviamente, é sempre melhor que correr atrás. Ainda mais quando o time é, por essência, defensivo. Os Blue Jackets marcaram primeiro em nove dos 13 jogos disputados, vencendo sete deles. Não que alguém em Columbus se preocupe com isso. Abrindo o placar ou não, todo jogo tem 60 minutos e a equipe se move do começo ao fim.

O Columbus sempre foi o time de Rick Nash. Em todos os sofríveis anos de existência, era Nash e o resto. Continua sendo o time dele, que tem dez dos 36 gols da equipe na temporada, mas agora ele tem suporte dos companheiros. Pasme, os Jackets rolam as quatro linhas todas as noites. E o monstro Nash, menos sobrecarregado, aparece mais vezes com os braços erguidos comemorando seus gols.

Hitchcock, times especiais, comprometimento, Nash... tudo isso estaria perdido não fosse Leclaire, o jogador mais intrigante da temporada, dono de cinco shutouts em nove jogos, com média de gol sofrido pouco acima de um (1,12) e percentual de defesas beirando a perfeição (95,7%). Quando é que nós vimos tamanha dominação de um goleiro pela última vez? Quando Brian Boucher fez cinco shutouts consecutivos.

Mantendo a média atual, embora sabidamente seja impossível, Leclaire terminaria a temporada com 31 shutouts em 56 jogos, quatro troféus, dentre eles o Vezina e o Hart, 682 dólares mais pobre e com sua mãe enfurecida. É que o goleiro envia para seu pai, pelos correios, um disco dos jogos em que não sofre gol. E o envio para Quebec não sai por menos de 22 dólares. Agora imagine a estante da sala decorada com tantos discos... qualquer mãe ficaria maluca!

Com tantos jogadores escolhidos entre os primeiros de cada recrutamento, uma hora esse time teria que decolar. De 2000 até hoje foram oito atletas de primeira rodada, o pior deles vindo na oitava posição geral. E todos estão na organização, seja no time ou em afiliados menores.

O primeiro jogador recrutado na história da franquia, Rostislav Klesla, finalmente demonstra aquilo que se esperava dele há sete anos, quando foi escolhido na quarta posição geral. Até o fim do mês de outubro, Klesla liderava a liga em média de gol sofrido no cinco-contra-cinco entre os cem defensores com maior tempo de gelo. Isso quer dizer que ele sofria menos gols que Nicklas Lidstrom, Dion Phaneuf e Zdeno Chara, por exemplo.

Quando a fase é boa, as boas notícias chegam de todos os lados. Tanto o artilheiro da AHL, Derick Brassard, quanto o goleador daquela liga, Joakim Lindstrom, têm vínculo com a equipe. Promessa de futuro ainda melhor.

Há pouco alcançamos a primeira dezena de jogos, uma vida inteira ainda está pela frente até abril, mas para um time acostumado a ser eliminado em novembro, a campanha atual é motivo de comemoração. Na temporada passada, os Jackets foram vencer o sétimo jogo, alcançando 15 pontos na classificação, no dia 2 de dezembro. Desta vez eles estão um mês adiantado.

E o ponto final deste artigo chega através de Ole-Kristian Tollefsen, defensor da equipe, após uma partida em que cometeu 17 minutos de penalidade: "O ódio corre em seu sangue, e é disso quase se trata o hóquei".

Humberto Fernandes recomenda o romance "A Sombra do Vento" (Carlos Ruiz Zafón) e o seriado "Prison Break".
Ricky Stewart/Getty Images
Rick Nash é agraciado pelos companheiros após marcar mais um gol; cena que se repete frequentemente.
(15/10/2007)
Mark J. Terrill/AP
Os adversários tentam de todas as formas marcar em Pascal Leclaire, mas o nome da temporada está imune.
(31/10/2007)
Harry How/Getty Images
Comprometimento. Agressividade. Ken Hitchcock ensinou aos seus pupilos a lutarem pelas vitórias.
(01/11/2007)
Dave Sandford/Getty Images
Ole-Kristian Tollefsen pode ter apenas um gol na temporada, mas desde já é candidato ao Troféu Eduardo Costa, concedido ao autor da mais bela frase da temporada.
(01/11/2007)
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Página publicada em 7 de novembro de 2007.