Por: Humberto Fernandes

Jeremy Roenick foi aquele tipo de jogador desejado por todas as equipes. E se você vir todos os links do YouTube presentes neste artigo, possivelmente reconhecerá que o hóquei desejava JR.

Central grande e forte, caracterizado pela intensidade desmedida com que atuava, o talento incomum e a entrega total quando calçava seus patins e empunhava seu taco de hóquei.

Ele foi ídolo no Chicago Blackhawks na primeira metade dos anos 90, fez parte da melhor equipe da história do Phoenix Coyotes e destacou-se em proporções mais modestas no Philadelphia Flyers, até o locaute. Desde então sua carreira tomou rumos acentuadamente descendentes. Foi taxado como inútil no Los Angeles Kings e piada em sua segunda passagem pelos Coyotes, o que lhe garantiu o temido título de ex-jogador em atividade.

Ele foi recruta de primeira rodada, capitão de equipe, agente livre, moeda de troca. Já marcou mais de 50 gols e cem pontos por temporada, participou de nove Jogos das Estrelas — certa vez, no desafio de pontaria, acertou os quatro alvos com quatro chutes, arrancando berros e elogios do inigualável narrador Gary Thorne. Nunca ganhou a Copa Stanley, nunca ganhou qualquer troféu individual, mas tem uma medalha de prata nas Olimpíadas.

Destemido, deu muita porrada, mas também apanhou bastante, como o inesquecível tranco de Derian Hatcher que esmagou sua mandíbula. Qualquer um de nós ficaria chateado, desmotivado, abatido, mas não este homem, que em outros momentos de sua carreira sofreu com contusões, brigou com treinadores e envolveu-se nas mais diversas polêmicas.

À beira da aposentadoria, foi resgatado pelo gerente geral do San Jose Sharks, Doug Wilson, que enxergou em Roenick um ótimo tutor para o jovem elenco e complemento ideal — e barato, com salário mínimo — para impulsionar os Sharks rumo ao tão sonhado título.

É o mundo do hóquei finalmente conspirando a favor deste tremendo jogador, para que se aposente com dignidade, após ser injustiçado em diversos momentos de sua carreira. Ele pode não ter a velocidade e a eficiência de outrora, tampouco a força física e a agressividade, mas em San Jose ninguém apresentou queixas contra Roenick nesta temporada. Seus cinco gols (quatro deram a vitória) e dez pontos deixam-no atrás apenas de Joe Thornton na artilharia da equipe.

Na última semana, JR tornou-se o 40.º jogador a marcar 500 gols na NHL. Veja aqui o momento histórico. Como bom caráter que é, Roenick presenteou Wilson com o disco. Talvez você tenha pensado que ele poderia presentar Alex Auld, o goleiro dos Coyotes que proporcionou a lambança e efetivamente marcou o gol, ou que ele tenha lamentado o desfecho da jogada. É claro que perto dos gols número 500 de Mats Sundin, Teemu Selanne e Mike Modano, o dele foi o mais feio, mas lembre-se, estamos falando de Jeremy Roenick, o jogador mais debochado da história. Naquele momento o hóquei dava o troco.

Quando chegou aos Kings, em 2005, já em sua primeira partida de pré-temporada ele dançou, literalmente, naquele que é um dos meus vídeos favoritos. Esta passagem desencadeou um plano ousado dentro da redação de TheSlot.com.br, jamais revelado ao público e boicotado por nosso editor-ditador-chefe. Eduardo Costa e eu planejávamos a histórica edição 100 desta revista com 100% Roenick. Todos os colunistas seriam obrigados a testemunhar como JR mudou suas vidas e esmiuçar a vida e obra deste magnífico jogador, ator, cantor, dançarino e ídolo. Veja o "Top Ten" do Sportscenter para aplaudir esse atleta de múltiplos talentos.

Embora seus números sejam expressivos o suficiente, foi o que ele fez ou disse em frente às câmeras que promoveram Roenick ao status de estrela absoluta da NHL durante parte de sua carreira. Felizmente está tudo registrado no YouTube e o acesso (ainda) é gratuito. Eu ainda não sabia, mas existiu uma segunda parte da famosa dança, no último jogo dos Kings na temporada 2005-06, agora até com um parceiro!

Se eu ganhasse um concurso no qual pudesse escolher com que jogador em atividade eu gostaria de almoçar, escolheria ele sem dúvida alguma. O único porém é que Roenick não bebe mais, parte de seu esforço para voltar a desempenhar bem o seu papel dentro do gelo. Em outros tempos ele foi um alcóolatra de fazer inveja nos membros de TheSlot.com.br. No jantar, vinho; jogando golfe, vodka; em comemorações, champagne.

JR significou tanto para o hóquei nos últimos 19 anos que dificilmente existirá outro como ele. Talvez ao se aposentar ele decida trocar o gelo pelos escritórios administrativos, quem sabe assumindo o cargo de comissário da NHL. É uma boa pedida, desde 2003. E assim Roenick finalmente receberá o devido destaque na capa desta publicação.

Humberto Fernandes tem um livro autografado por Juca Kfouri.
Ronald Martinez/Getty Images
O San Jose Sharks acreditou em Jeremy Roenick e colhe os frutos de sua acertada aposta.
(14/11/2007)
Eric Risberg/AP
Sharkie, o mascote dos Sharks, celebra o 500.º gol da carreira de Roenick, que passeia com seu filho pelo gelo após ser escolhido como estrela da partida.
(10/11/2007)
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Página publicada em 15 de novembro de 2007.