Por: Daniel Dias Martins

Do início até agora
Foi uma época estranha — ao menos para a maioria de moleques de hoje em dia. Axl Rose ainda não tinha enlouquecido, as mulheres usavam permanente em suas longas madeixas, o Atari 2600 era uma realidade e a grande maioria dos jogadores da NHL exibiam estilosos "mullets" no melhor estilo Wando. Era 1988, e Michael Thomas Modano Junior foi selecionado como primeira escolha geral do recrutamento pelo então Minnesota North Stars. Apesar dos céticos dizerem não ao sucesso inegável do atacante de força, começava aí uma carreira rumo a recordes.

Atrever-me a escrever alguma coisa sobre hóquei e, especificamente, pelo primeiro jogador que vi jogando o esporte que mais gostamos, soa meio imparcial. E certamente é imparcial. Alguns jogadores de alguns esportes passam pela nossa vida e marcam, nem que com um simples comentário na TV — tenho amigos que são fãs fervorosos de Tie Domi, mas afinal, quem não é?

A importância do jogador para a cidade de Dallas é nítida em pôsteres, outdoors e materiais de merchandising do time. Mas a importância que Modano sente pelo seu time é ainda mais forte, e pode ser observada ao longo dessas 18 temporadas regulares.

Dono de uma carreira até aqui vitoriosa, porém preenchida com alguns momentos de baixo rendimento, como a temporada de 2005-06, Modano sempre jogou um hóquei veloz e intenso, com uma perícia única em seus chutes de longa distância. Nunca se envolveu em brigas sérias, é um jogador que traz um centro para o time em que joga, no caso, o Dallas Stars. Acredito que dentro do rinque seja uma referência para os mais jovens, até pelo que sempre fez e demonstrou.

Após a derradeira conquista da Copa Stanley em 1999, o então "matador" time de Dallas foi se desmontando, passando por algumas crises e chegando no atual formato da liga, onde altíssimos salários foram praticamente banidos dos times a fim de evitar que o limite do teto salarial fosse ultrapassado. Uma lenda como Brett Hull, que jogou ao lado de "Mighty Mo" no ano da conquista, deixou escapar numa entrevista: "Mike é um cara que todos querem por perto, ele sempre sabe como e quando fazer as coisas". Isso foi dito por Hull no documentário "Nothing Else Matters", que mostra um compacto da temporada culminando com o tão sonhado titulo. De lá pra cá, porém, não só os times mudaram, como o estilo de hóquei jogado na liga deu uma reviravolta imensa.

O talento inegável que Modano tinha com seu hóquei rápido e sem muito contato foi apagado por partidas truncadas, com assombrosos encontrões nas bordas e jogadores sendo travados aos montes. Alguns anos estranhos, que não deixavam o brilho de jogadas aparecerem como antes, foram aos poucos fazendo com que o hóquei mudasse, e conseqüentemente, o tipo de hóquei que os jogadores jogavam. Era preciso se adaptar, evolução (até aqui "Heroes" aparece?), e foi aí que alguns jogadores perderam protagonismo na liga.

Inegavelmente Mike continua sendo um ponto de equilíbrio no time do Dallas Stars, e certamente sua camisa nove estará exposta no ponto mais alto do American Airlines Center. Mas ainda não é hora para isso, pois o Dallas não pode perder seu garoto tão facilmente.

A vida fora do esporte

Poucos sabem, mas Mike Modano possui uma fundação para arrecadar fundos e dar apoio a crianças que sofrem todo tipo de abusos. Ocupando o cargo de vice-presidente, coordena os trabalho de apoio educacional ou qualquer outro tipo de ajuda.

Capa de varias revistas, Modano já foi citado como um dos atletas mais bem pagos e íntegros dos Estados Unidos. A fama e o dinheiro nunca o iludiram muito, segundo a maioria dos repórteres. Inclusive com a chegada da Reebok no mundo do hóquei, Modano era um dos garotos propaganda ao lado de pesos pesados como Roberto Luongo, Patrice Bergeron e outros.

Don Cherry cultiva uma certa antipatia por Mike Modano, e já fez algumas paródias sobre alguns momentos toscos de sua carreira no programa Hockey Night in Canada. Mas nada que tire o brilho que o jogador já trouxe para o time e para os fãs. Aliás, até que é engraçada a "tentativa" de Cherry. Se quiser dar uma olhada, vá ao YouTube e procure por "Modano funny".

Os recordes

Na última semana, contra os Sharks, Modano passou a ser o jogador americano que mais pontuou na liga, com o total de 1233 pontos, ultrapassando Phil Housley, jogador da velha guarda que atuava na defesa. Agora Mike Modano é o maior goleador e o maior pontuador americano na história da liga.

É claro que não podemos começar a inevitável comparação por torcedores antigos do tipo "sou mais Gretzky". Até porque, se somarmos Modano com Housley, o total de pontos ainda fica devendo 400 para Gretzky. Mas não há o porquê de subestimar o feito do jogador americano, até devido a sua idade e o desgaste devido ao esporte que pratica.

Modano já jogou pela seleção americana de hóquei diversas vezes, incluindo aí a conquista da Copa do Mundo de hóquei, em 1996, e foi presença constante nos jogos das estrelas da NHL há um tempo razoavelmente bom.

Como não tenho muitas posses — como diria um grande amigo, sou uma pessoa rústica —, nunca tive o prazer de assistir à NHL pela TV a cabo nos idos dos anos 90. Nunca vou me esquecer de um momento dos mais divertidos, e também de muito orgulho, ao poder assistir, em um hotel de São Paulo, o último jogo das estrelas narrado pelo grande André José Adler. Quando Modano entrou no gelo, a arena simplesmente veio abaixo, e então foi dito: "É, alguém tem que ser Mike Modano". Foi sublime!

Atleta olímpico, capa de revistas, dono de recordes incríveis, dono de fundação de apoio a crianças, Modano continua no Dallas — e, para nós, fãs, que dure muito tempo esse casamento — trazendo alegria e inspiração para torcedores e novos atletas.

Como dizia uma faixa na entrada da finada Reunion Arena de Dallas: "FEAR THE D — GO MIGHTY MO".

Daniel Martins também é discípulo de Lance Armstrong.

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Página publicada em 15 de novembro de 2007.