Por: Alexandre Giesbrecht

Neste último fim de semana, uma notícia fez a torcida dos Canucks tremer. Não de medo. De raiva provavelmente. Lágrimas correram pelas sarjetas de Vancouver por causa dessa notícia.

Teemu Selänne assinou com os Ducks.

A rima dos apelidos dos dois times à parte, o que uma coisa tem a ver com a outra? Afinal, os dois times nem ficam na mesma divisão e, embora estejam razoavelmente próximos na tabela de classificação (o time canadense tem três pontos e dois jogos a menos que o californiano, na sétima posição, duas atrás dos Ducks), é difícil imaginar que um deles seja o culpado direto pela eventual eliminação do outro na corrida aos playoffs.

O que passou pela cabeça do povo do noroeste canadense é que o gerente geral do Anaheim, Brian Burke, foi um dia o responsável pelas decisões dos Canucks. Não que a contratação de Selänne tenha sido algo bombástico. Além de ser previsível que ele voltaria, apesar do charme que fez desde junho, aos 37 anos ele já não é o jogador de impacto que um dia foi.

Mas está longe de ser um Alek Stojanov. Selänne vem para ser um dos nove, talvez seis principais atacantes. Apesar de estar possivelmente enferrujado, ele também vem descansado, algo importante para alguém da sua idade. E ainda deve vir com uma grande vontade de jogar. E não nos esqueçamos de que ele marcou 48 gols na temporada passada, nada mau para alguém próximo de completar sua quarta década no planeta. Isso sem falar no impacto psicológico que sua chegada trará ao time, algo que já pôde ser comprovado com a ascensão (campanha de 12-2-2, antes das três derrotas seguidas que antecederam o Jogo das Estrelas) depois da volta de Scott Niedermayer, outro que estava fazendo charme.

O atacante Chris Kunitz é o primeiro a perceber isso. "A gerência colocou todas as peças no lugar", avisa. "Todo mundo está aqui. Não sei se haverá outras mudanças no elenco. Mas acho que temos uma combinação vitoriosa aqui."


A manutenção de boa parte do elenco que conquistou o título na temporada passada — e, mais que isso, dos principais jogadores da conquista — prova isso. Mas há um outro fator que assusta todos os outros 29 times da liga: o novo contrato de Selanne permite que Burke ainda traga mais alguém para reforçar o time antes do dia-limite de trocas. Selänne mais a possibilidade de trazer outro jogador importante? Como é que eu não estou ouvindo daqui os fogos que a torcida deve estar soltando na Califónia?

Quer dizer, o bicampeonato ainda está bem longe de ser uma garantia, mas certamente hoje ele é mais provável que uma semana atrás, e muito mais provável do que logo antes de Niedermayer anunciar sua volta. Ainda há um Detroit, para ficar em apenas um time, por superar, tarefa que ainda parece complicada. Mas nenhum time melhorou tanto sua situação nos últimos dois meses do que os Ducks.

O contrato de Selänne foi uma daquelas jogadas típicas de Burke, que a esta altura já deve conhecer todas as brechas do acordo coletivo de trabalho aprovado em 2005. O salário já é uma barganha, a US$ 1,5 milhão, mas fica ainda mais palatável quando se calcula o proporcional que os Ducks vão pagar: US$ 570 mil. Não pense que o jogador fez um desconto de pai para filho, não. No contrato, consta um bônus de US$ 1,2 milhão, que vale se ele jogar dez partidas na temporada regular ou se o time for aos playoffs. Esse dinheiro ele já pode contar como seu, a não ser que um desastre ocorra — o que não seria uma surpresa tão grande, considerando-se que ele está na capa desta edição e que uma terrível maldição assombra nossos destaques.

Com o bônus, a primeira impressão que fica é de que o negócio não foi tão barato assim, mas é justamente aí que entrou o brilhantismo de Burke: como Selänne tem mais de 35 anos, o bônus não conta para o teto salarial! Eu não duvido que muitos GGs por aí não tenham conhecimento dessa cláusula do acordo coletivo.

Essa, claro, não foi a única jogada de mestre de Burke. Muitos vão se lembrar que há não muito tempo os Ducks estavam com a cabeça batendo no teto salarial. A troca de Andy McDonald por Doug Weight e a saída de Ilya Bryzgalov via desistência deram um belo alívio no teto e ainda proporcionaram flexibilidade para novos contratos nas próximas temporadas. Se a eventual contratação antes do dia-limite for algum jogador "de aluguel", com contrato expirando em 1.º de julho, a flexibilidade ainda será mantida.

O único problema para Selänne ao voltar é que ele perde a oportunidade de sair no topo. Sair no topo, aliás, tem sido raríssimo. Ray Bourque conseguiu, em 2001. Outros, como Dominik Hasek, Steve Yzerman e Luc Robitaille, em 2002, Scott Stevens, em 2003, Dave Andreychuk, em 2004, e o próprio Niedermayer no ano passado, aparentemente não agüentaram ficar só vendo seus antigos colegas jogar enquanto eles jogavam golfe.

Pelo menos, cinco dos ex-aposentados listados no parágrafo acima ainda conseguiram voltar e jogar bem. Já Andreychuk voltou ao Lightning, disputou 42 jogos, foi colocado na desistência a fim de ser mandado para o time de baixo e acabou por anunciar sua aposentadoria. Com exatos 42 jogos de atraso. "Eu ainda quero ser um jogador", confessou Andreychuk à época. "Ouvir que você não vai jogar mais é duro de engolir."

Não parece que esse será o caso de Selänne, e certamente não foi o caso de Niedermayer, esse já comprovado pela torcida de Anaheim. Quando acabar a temporada, os dois estarão entre as contratações mais importantes do ano. Mas o jogador mais importante do time certamente vai ser outro, não importa o resultado dos Ducks.

Brian Burke.

À torcida dos Canucks, resta apenas sonhar com o que poderia ter sido.
Quando consigo compilar o Disco Riscado, uma das minhas seções preferidas é "Imprensa", em que compartilho os melhores momentos dos jornais que cobrem o hóquei. Nesta última semana, apareceu uma pérola que, se nesta edição houvesse o DR, certamente estaria lá na seção. Foi publicada no site SI.com, da revista Sports Illustrated, na coluna de Michael Farber.

"A NHL anunciou recentemente uma iniciativa "verde", o que é certamente o mais socialmente responsável a se fazer. É claro, se houvesse um comprometimento sério com o meio-ambiente, a liga não teria mudado a tabela para a próxima temporada, aumentando as viagens. Uma sugestão ecológica para o hóquei, feita anualmente neste espaço: mudar todas as séries de playoffs para o formato de 2-3-2 (os dois primeiros e os dois últimos jogos na casa do time de melhor campanha; os três "do meio" na casa do adversário). Outra sugestão ecológica, menos séria: deixar o Boston Bruins jogar por correspondência contra o Montreal Canadiens. O Boston tem campanha de 0-6 contra os Habs nesta temporada."
Alexandre Giesbrecht, 31 anos, tem um monitor novo.
The Press-Enterprise
A cena de Selänne levantando a Copa Stanley não é tão provável assim, mas ao menos agora é possível.
(06/06/2007)
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Página publicada em 30 de janeiro de 2008.