Por: Marcelo Constantino

1 — Para todos que esperavam que esta coluna fosse sobre a série entre Detroit e Colorado: convenhamos, não há muito o que falar, certo? Foi das séries mais fáceis já vistas em playoffs da NHL e seguramente a mais fácil que eu já vi. O vergonhoso placar de 8-2 no jogo 4 talvez resuma. Entendo que Joel Queeneville errou ao manter José Théodore quando este já dava claros sinais de que voltara ao normal. A desculpa do jogo 1 — a tal balela da gripe — é pra ser vendida à imprensa, técnicos não são idiotas a ponto de acreditar nisso. Some-se a isso a incrível persistência dos jogadores importantes dos Avs em se contundir — ocorreu ao longo de toda a temporada — e você viu então um Colorado efetivamente sem forças para reagir. Mas isso somente porque os Red Wings finalmente passaram a jogar hóquei de playoffs, num patamar bem acima da série contra os Predators.

2 — Depois de três finais de Copa Stanley consecutivas, dessa vez não temos times canadenses nem mesmo nas finais de conferência. É bem verdade que os times canadenses perderam todas as três finais (Calgary Flames em 2004, Edmonton Oilers em 2006 e Ottawa Senators em 2007), mas eles chegaram lá. Calgary e Edmonton, dois grandes azarões em suas respectivas temporadas, chegaram muito perto, esticando suas séries até o jogo 7. E lá se vão 15 anos sem títulos para times canadenses.

Por outro lado é possível um repeteco de uma final relativamente recente, a de 1997 entre Detroit e Philadelphia.

3 — Estranho esse time do Montreal Canadiens. Eles dominaram boa parte de alguns jogos, mas, ainda assim, foram menos efetivos que os Flyers. Em playoffs é assim — e estou cansado de ver, por exemplo, os Red Wings dominando, disparando dezenas de discos no peito do goleiro adversário e perdendo jogos —, vale a eficiência. Pressionar, encurralar, disparar maciçamente a gol, tudo isso só funciona se você gerar o produto, que é o gol. Os Habs ficaram devendo nesse ponto.

Mas não somente neste. Digamos que uma ou duas derrotas podem ser debitadas de Carey Price, a aposta que se revelou um tanto ousada demais. Price é um bom e jovem goleiro, mas que por vezes parece desleixado demais debaixo das traves. Para seu azar, Martin Biron estava iluminado do lado dos Flyers. O Montreal parecia apagar num determinado momento dos jogos — e justamente ocorreu isso no decisivo jogo 5 —, o que não era perdoado pelos Flyers.

4 — O MVP dos playoffs até aqui não era Johan Franzen, na minha opinião. O grande jogador vinha sendo Jaromir Jagr, que parecia carregar os Rangers nas costas, jogando com uma raça poucas vezes vista naquele patamar. Num time que conta com bons atacantes, inclusive Chris Drury, um dos jogadores mais decisivos que já vi na NHL, era Jagr quem decidia. Mas não foi páreo para Evgeni Malkin, que realmente parece ter, digamos, "ultrapassado" Sidney Crosby. Junte esses dois a Marian Hossa e coloque Sergei Gonchar atrás e você tem um pelotão duro de agüentar. Dado o estilo mais forte fisicamente dos Flyers, seguramente seus jogadores dos Flyers alvejarão a jovem dupla dos Pens. Mas nada a que eles já não estejam acostumados.

5 — O Dallas Stars e Philadelphia Flyers são as grandes surpresas desses playoffs. Recue ao começo dos playoffs e dificilmente você encontrará alguém acreditando que algum dos dois chegasse às finais de conferência. Nenhum time enfrentou caminho tão difícil — ao menos em tese — que o Dallas Stars. Pra mim, a equipe do Texas eliminou os dois times que eu tinha como favoritos à Copa Stanley. E mais, eliminou com relativa facilidade. Entretanto, ainda que azarões, Stars e Flyers estão longe de serem os azarões que foram os Oilers de 2006 e os Flames de 2004.

6 — Por fim, a boa notícia (sim, boa, trata-se de uma saudável mudança de panorama) é que os goleiros não são os grandes destaques desses playoffs. Chris Osgood anda badalado em Detroit, mas apenas porque ele tem feito o básico, o que já vem sendo vantagem em relação ao Dominik Hasek da série contra os Predators. Marc André Fleury fez duas boas séries, mas os Penguins têm outros destaques bem à frente dele. Marty Turco, pelo segundo ano consecutivo, espanta o estigma de goleiro-que-amarela-nos-playoffs. É, sem dúvida, um dos motivos do sucesso do Dallas até aqui, mas não é o destaque do time. Martin Biron, esse sim, talvez seja o grande destaque dos Flyers.

Os playoffs mais recentes propiciaram o surgimento de muralhas no gol. Cam Ward, Dwayne Roloson, Miikka Kiprusoff, Jean Sebastien Giguere, Martin Brodeur são nomes que me vêm à mente de imediato, mas há outros. Desta vez não. No máximo Biron. Que seja assim.

Marcelo Constantino foi da glória à vergonha em quatro dias.
Julian H. Gonzalez/DFP
Johan Franzen marcando gols: cena constante na série contra os Avs.
Frank Franklin II/AP
Jaromir Jagr, talvez o melhor jogador dos playoffs até ser eliminado pelos Penguins.
Paul Chiasson/AP
O encontro de dois opostos: Martin Biron, que brilhou, e Carey Price, que ficou devendo.
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Página publicada em 8 de maio de 2008.