Por: Alexandre Giesbrecht

Toda a empolgação de quem não estava uniformizado pôde ser resumida ao locutor da emissora norte-americana Versus quando do primeiro gol do último Jogo das Estrelas. Ele narrou como se fosse um passe no campo de defesa. A própria sirene demorou para soar. Ou que tal o segundo gol do Oeste, que o locutor nem percebeu que foi marcado até a sirene soar?

Isso é o Jogo das Estrelas: um evento divertidíssimo para quem está no gelo e um pouco menos divertido para quem está presente ao estádio. Para quem assiste pela televisão (ou pela Internet), uma simples compilação de melhores momentos já basta. Como nenhum dos times coloca em prática algo parecido com um esquema defensivo, os atacantes divertem-se tentando mirabolantes lances, e os goleiros, abandonados à própria sorte, convenhamos que nem dão tudo de si — ou você acha que os 71,4% de defesas de Henrik Lundqvist, para ficar em um exemplo, retratam o que tem sido sua temporada até aqui?

Talvez eu é que espere demais de um jogo que não é tratado pelos próprios jogadores como um jogo de verdade. Para eles é pura brincadeira, como fica provado pelas duas tentativas de Evgeni Malkin de chutar a gol com o taco entre as pernas. Deu certo na segunda tentativa e proporcionou um momento tão interessante que o lance é o único repetido em vários ângulos na seleção de melhores momentos apresentada no site da liga. Sem dúvida quem estava no banco — mesmo no banco adversário — divertiu-se com a cena. A torcida presente ao estádio aplaudiu. E quem assistiu pela televisão... bem, talvez tenha dado um sorriso com o canto na boca, mas é difícil imaginar até alguém que torce pelos Penguins comemorando tal gol.

Se o jogo tivesse alguma chance de receber algum tipo de exposição nos Estados Unidos, ao menos o script teria funcionado, porque ele teria sido sob medida se tivesse acontecido em um jogo de verdade: avalanche de gols, empate depois da prorrogação e pênaltis. Aliás, curioso que não tenha saído nenhum gol durante a prorrogação, depois de nada menos que 22 nos 60 minutos anteriores. Ainda mais curioso é o fato de que no tempo extra o Oeste chegou a ter uma vantagem numérica, algo tão raro quanto um elogio de Lula a Fernando Henrique, e não aproveitou a oportunidade.

Como os jogadores adoram cobranças de pênalti, devem ter imaginado que era melhor mesmo sair com um empate tanto do tempo normal como da prorrogação. Estenderiam sua própria diversão e a de quem pagou uma nota preta para presenciar a diversão alheia. Esse pessoal foi para casa depois de ser testemunha de um curioso placar de 12-11. Devem ter dormido tanquilos.

Essa tranquilidade quem não teve foram Niklas Lidström e Pavel Datsyuk, do Detroit, que foram suspensos pelo comissário Gary Bettman por ter cabulado o Jogo das Estrelas. Dois dos jogadores que mereciam muito mais o voto do público de que vários dos que acabaram ganhando, eles demonstraram para com o jogo o mesmo respeito que as regras tiveram com eles: quase zero.

Nada contra o desrespeito ao jogo, até porque esta coluna pode muito bem ser qualificada como tal. Até acho que eles poderiam ter ido, mesmo que estivessem realmente contundidos a ponto de não poder jogar. Mas essa suspensão está mais com cara de pai proibindo o filho de assitir a televisão do que de uma punição de verdade. Ou seja, é mais para tentar livrar a cara de Bettman do que evitar um precedente que no futuro pode até vir a acabar com a ideia de um jogo reunindo os principais jogadores, algo que eu apoiaria desde já. A NHL não precisaria se preocupar com tal precedente, porque boa parte dos jogadores gosta do fim de semana divertido e gratuito. É o caso de Sidney Crosby, dos Penguins, que não jogou, apesar de eleito, mas não desfalcará seu time nenhuma vez simplesmente porque foi até Montreal e participou das festividades.

Quero crer que Datsyuk tinham bons motivos para sequer darem o ar da graça em Montreal. Não me parece que eles ficaram em Detroit só para passar mais tempo com suas respectivas famílias — o que, vá lá, não seria um mau motivo —, mas, sim, porque preferiram se poupar para ficar o mais próximo de 100% que for possível, a fim de justificarem o alto salário do time que os paga.

Sim, ambos desfalcaram os Wings contra os Blue Jackets, e provavelmente fizeram falta na derrota por 3-2 na prorrogação. Mas a torcida de Detroit pode tirar uma grande vantagem desse episódio. Ele demonstrou o quanto dois de seus principais jogadores querem vencer, não importa que sejam os atuais campeões.

Alexandre Giesbrecht, 32 anos, recebeu uma encomenda com o programa e uma toalha do Clássico de Inverno.
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Página publicada em 28 de janeiro de 2009.