Por: Igor Veiga

E quem disse que a Suíça só sabe fabricar relógios e contas bancárias milionárias?

Pois, na tarde desta quarta-feira, vimos uma verdadeira fábrica de gols no gelo da Diners Club Arena, em Rapperswil-Jona, Suíça, após a incrível (e histórica) lavada do time da casa, o ZSC Lions Zurich, sobre os russos do Metallurg Magnitogorsk, por um acachapante 5-0, na segunda e decisiva partida das finais da Champions Hockey League (CHL), a liga europeia de clubes.

Nesta primeira edição do torneio, que tenta trazer ao hóquei europeu um pouco do charme da Liga dos Campeões da Uefa do futebol, tivemos sim algumas surpresas, mas estou certo que poucos apostariam suas fichas no título da equipe suíça.

Mas antes de chegarmos às finais, vamos dar uma pincelada no torneio.

Fracassos e surpresas
Para começar, a fraca — e algumas vezes ridícula — campanha que algumas equipes consideradas de ponta no solo europeu fizeram na fase de grupos.

Os suecos do HV71 Jönköping e do Linköpings HC mostraram que a turma que curte Abba e Ace of Base não estava muito a fim de suar a camisa contra os seus vizinhos de continente este ano. Já na Finlândia, só mesmo o Espoo Blues conseguiu manter o respeito ao hóquei do país, uma vez que o Kärpät Oulu também fez uma campanha medíocre, ganhando apenas um mísero ponto na fase de grupos.

Ao contrário dos dois países nórdicos, os russos — mais uma vez — deixaram claro que gostam de mostrar por que são considerados por muitos o melhor hóquei do mundo. Os dois representantes do país no torneio, Metallurg Magnitogorsk e Salavat Yulayev Ufa, terminaram na primeira posição de seus respectivos grupos e confirmaram presença nas semifinais.

Mas eis que no meio de finlandeses e russos apareceu um time suíço para tentar estragar a festa dos "grandes". O ZSC, liderado pelo goleiro finlandês quarentão Ari Sulander, garantiu a vaga na última partida válida pelo grupo D, derrotando seu concorrente direto, o HC Slavia Prague. Mesmo jogando na casa do adversário, os Lions fizeram 5-1 e mostraram a muitos que a superação era o seu cartão de visitas.

A Europa é deles!
Ainda saboreando a suada classificação, o time suíço encarou nas semifinais o vice-campeão finlandês Espoo Blues. Depois de uma bela e tranquila vitória por 6-3 dentro de casa, o ZSC foi até a Finlândia para mais uma vez sapecar uma goleada sobre o adversário. Foi um 4-1 incontestável. E talvez ali a equipe realmente mostrava que, quaisquer dos times russos que viesse a enfrentar na grande final, faria de tudo para ficar com a taça.

O Metallurg, atual campeão europeu, seria a pedra no caminho.

Seria...

Primeiro jogo. Encarando o inverno russo, o ZSC entrou no rinque naquela que para muitos seria a partida que confirmaria o favoritismo da equipe de Magnitogorsk. Só que na trave suíça estava um veterano guarda-redes disposto a jogar água na vodka dos russos. Ari Sulander, que fez carreira no Jokerit da Finlândia e que desde 1998 joga pelos Lions, simplesmente fechou o gol durante os dois primeiros períodos. O cara pegava tudo! "Nem mulher gorda escapa," diria o outro...

Mas Sulander é goleiro. E quando o goleiro falha...

Faltando pouco menos de 10 minutos para o fim da partida, e com o ZSC vencendo com um surpreendente 2-0, o goleiro finlandês permitiu que Atyushov diminuísse a diferença para 2-1. Até aí tudo bem. O problema foi que o herói do jogo até então acabaria sendo o grande vilão na história, quando, falando apenas 43 segundos para o fim, deixou passar um chute totalmente defensável de Rolinek. E aquele 2-2 caiu como uma luva para elenco e torcida russos, que já davam a partida como perdida.

Para o jogo de volta, na Suíça, duas coisas já estavam mais do que evidentes: ou o time russo jogara de salto alto no jogo de ida, para desta vez mostrar que país realmente manda na hóquei da Europa; ou o ZSC era mesmo aquele time que entra na competição como mero coadjuvante, mas que na base da superação mostra que hóquei se decide dentro do gelo.

E diante de uma apaixonada torcida presente na Diners Club Arena, o que se viu na grande final foi um passeio do time da casa. Teve bolo, guaraná, confete, serpentina, mulatas, gols... e Sulander, é claro. O time russo parecia chocado com a atuação do goleiro.

E tome disco na rede do Metallurg. No primeiro período, o canadense Daine Blown fez 1-0. No segundo, o eslovaco Peter Sejna aumentou para 2-0. No terceiro, gols do suíço Mathias Seger e dos canadenses Jan Alston e Jean-Guy Trudel. E 5-0 no placar. Um verdadeiro chocolate em plena final.

Na cerimônia de premiação, Ari Sulander foi nomeado o Jogador Mais Valioso dos Playoffs da CHL. Sua atuação na primeira partida e principalmente o shutout no jogo decisivo das finais não deixaram muitas dúvidas de que seria ele o escolhido. Como prêmio, o goleiro recebeu uma garrafa de champanhe (Jacy Borreaux com certeza teria adorado...).

Mas, naquele que seria o momento mais elegante da noite, o capitão Mathias Seger — uma espécie de versão Rondinelli do ZSC — concedeu a Sulander a honra de ser o primeiro a levantar a taça de campeão europeu. O belo Troféu Silver Stone, que desde 1997 é entregue ao clube campeão europeu, caiu muito bem nas mãos do veterano goleiro, que, aos 40 anos e possivelmente em fim de carreira, conquista um dos títulos mais importantes de sua vida como jogador profissional.

Destaques
Além de Sulander, outros jogadores também tiveram a sua importância na trajetória do ZSC Lions rumo ao título europeu.

Na linha de frente, o suíço Ryan Gardner foi o artilheiro da liga com seis gols, um a mais do que os seus companheiros Peter Sejna e Jan Alston. Além disso, entre os quatro maiores pontuadores da competição, temos quatro jogadores dos Lions: Sejna (10), os canadenses Domenico Pittis (11) e Jean-Guy Trudel (13), e o suíço Adrian Wichser (13).

Na defesa, destaque para o trio formado pelos suíços Mathias Seger e Severin Blindenbacher, e pelo eslovaco Radoslav Suchy. Os três, somados, marcaram 14 pontos nas oito partidas do clube na liga.

E destaque, é claro, para a incrível festa da torcida suíça nas dependências da arena durante toda a partida final. Os apaixonados pela NHL deveriam ao menos uma vez assistir a uma partida decisiva em solo europeu. É fantástico! Parece que você está dentro de um estádio de futebol, diante de uma daquelas torcidas organizadas que não param de cantar. "A atmosfera é contagiante..."

Enfim, parabéns ao ZSC Lions, campeão da Champions Hockey League 08-09! Pela primeira vez na história, a Suíça tem um clube campeão europeu de clubes.

A campanha do campeão europeu
Fase de Grupos:

7-2 Linköpings HC (F)

4-5 (PS) HC Slavia Prague (C)

4-3 Linköpings HC (C)

5-1 HC Slavia Prague (F)

Semifinais:

6-3 Espoo Blues (C)

4-1 Espoo Blues (F)

Finais:

2-2 Metallurg Magnitogorsk (F)

5-0 Metallurg Magnitogorsk (C)

Igor Veiga finalmente adquiriu duas camisas oficiais do Everton FC.
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Sulander ergue o Troféu Silver Stone no meio de seus companheiros, entre eles o capitão Mathias Seger (à dir.). O título do ZSC Lions foi mais do que merecido.
(28/01/2009)
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Ari Sulander em ação. O veterano fechou o gol contra o Metallurg e foi escolhido o Jogador Mais Valioso dos Playoffs.
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Mathias Seger, capitão e "Deus da Raça" dos campeões europeus. Liderança fundamental para o sucesso do time.
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Cena comum no campeonato: Jean-Guy Trudel participando de um gol. Ele e Adrian Wichser foram os líderes da CHL em pontos, com 13 cada.
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Jan Alston comemora com seus colegas de equipe. Apesar da maioria suíça no elenco, os "gringos" também tiveram o seu valor no título dos Leões de Zurique.
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Página publicada em 28 de janeiro de 2009.