Por: Thiago Leal

Nos Estados Unidos da América, o simbolismo é uma coisa muito forte. Você percebe isso em referências de cultura popular, que sempre mostram o quanto o povo daquele país respeita sua bandeira, seu hino e seus traços culturais de uma maneira até cega. Mas a coisa vai mais longe. Se você partir para os estados federados, perceberá que cada um deles possui seus próprios símbolos oficiais: mamífero, réptil, inseto, fóssil, flor, prato, bebida, música... tudo isso reconhecido pelos respectivos governos. Os estados também possuem seus apelidos oficiais. E Minnesota é conhecido como O Estado da Estrela do Norte, A Terra dos10.000 Lagos ou O Estado do Hóquei.

De fato, não há estado mais propício ao hóquei que Minnesota — calma, torcedores dos Red Wings, o estado de Michigan vem logo atrás. Situado na região dos Grandes Lagos, Minnesota têm as mesmas características geográficas da província de Ontário que tornaram o hóquei no gelo possível e o ajudaram a se desenvolver como esporte. A grande quantidade de lagos, lagoas e olhos d'água espalhado pelo território de ambas as regiões, o frio intenso... e o esporte virou um símbolo tanto do Canadá quanto de Minnesota. Não fazia sentido nenhum, então, ter hóquei no gelo nos Estados Unidos e não ter em Minnesota, principalmente com um time ali do lado, em Michigan.

E a segunda parte da série Eu Não Existo Mais contará sobre a resolução desse problema, com a criação do Minnesota North Stars, primeira franquia da NHL no estado. Por 26 anos, os North Stars jogaram pelo estado de Minnesota, sendo uma equipe competitiva na maior parte do tempo e chegando a disputar a Copa Stanley duas vezes.

Da expansão, nasce uma estrela
Conforme comentamos na semana passada, na primeira parte desta série, a expansão de 1967 agregou seis novos times à NHL. Um deles foi justamente o Minnesota North Stars. O clube surgiu dos esforços de Walter Bush Jr. e John Driscoll, que, sabendo da abertura de seis vagas na principal liga de hóquei da América do Norte, resolveram presentear as cidades gêmeas de Minnesota e St. Paul com a criação de um clube de hóquei. Bush era advogado e um dos donos do Minneapolis Bruins, uma franquia de uma pequena liga de hóquei local. No total, sete investidores divididos entre as duas cidades juntaram-se a Bush e Driscoll para fortalecer a candidatura de Minnesota, que concorria com mais 12 cidades pelo direito de ter um time na NHL — Minnesota ainda tinha uma candidatura extra, feita por outros investidores.

Embora o mercado de Minnesota não fosse dos mais desenvolvidos, a NHL considerou as tradições do hóquei no gelo no estado, considerado o berço deste esporte nos Estados Unidos, e concedeu a Bush e seus sócios uma franquia. Nem mesmo o fato de que as cidades de Minneapolis e St. Paul não tinham uma arena que comportasse as exigências da liga impediram a criação do clube. O anúncio oficial foi feito em 9 de fevereiro de 1966. Com o time garantido, agora sim, era hora de se pensar na estrutura física. A solução era a construção de uma nova arena, e não havia lugar melhor para isso que Bloomington. Cidade situada entre Minneapolis e St. Paul, Bloomington já abrigava o Minnesota Twins da MLB e Minnesota Vikings da NFL, justamente por atender a um pré-requisito importantíssimo: numa cidade pequena e neutra você agradaria os moradores tanto de Minneapolis quanto de St. Paul. E lá foi erguido o Metropolitan Sports Center, abreviado para Met Center. Tal iniciativa, no entanto, não agradou tanto assim ao povo de St. Paul: uma vez que fica do outro lado do Rio Mississipi, que divide as cidades gêmeas, parte do povo de St. Paul via os North Stars mais como uma franquia de Minneapolis.

O nome Minnesota North Stars foi escolhido em concurso público. Razões para este nome não faltam. Minnesota é conhecido como O Estado da Estrela do Norte (The North Star State), justamente por causa de um monumento no estado conhecido como Estrela do Norte. E o lema oficial do estado é L'Étoile du Nord, ou, A Estrela do Norte em francês — sim, o lema oficial é em francês, mesma língua da província de Quebec. As cores seriam o branco, o verde e o amarelo, cor reconhecida como ouro em heráldica.

Minnesota North Stars
Com tudo pronto, os North Stars estrearam oficialmente na NHL em 11 de outubro de 1967, na temporada 1967-68, a primeira da expansão e a primeira após o último título do Toronto Maple Leafs. Sua estreia aconteceu fora de casa contra o St. Louis Blues, um empate em 2-2. O primeiro jogo em casa foi disputado no dia 21 do mesmo mês, contra o então California Seals, com vitória por 3-1.

Como era de se esperar, as coisas vinham muito bem em Minnesota e a empolgação vivida pelos fãs das cidades gêmeas só poderia ser quebrada com uma fatalidade. Em 13 de janeiro os North Stars recebiam novamente os Seals, agora denominados Oakland Seals, no Met Center, quando Bill Masterton caiu em decorrência de um tranco de Larry Cahan e Ron Harris, batendo sua cabeça no gelo e vindo a falecer dois dias depois, aos 29 anos de idade, devido a uma lesão na ponte do sistema nervoso causada pelo impacto. Como legado, ficou o forte lobby para que o uso de capacetes fosse obrigatório na NHL. Sua camisa #19 foi aposentada pelo North Stars e a NHL o homenageou através do Troféu Bill Masterton, laureado ao jogador que melhor incorpore dedicação, perserverança e espírito esportivo.

Os North Stars seguiram em frente, tendo sucesso em sua temporada inaugural: com 27 vitórias em 35 jogos, o time ficou em quarto no Oeste. Eliminou os Seals na primeira rodada dos playoffs e foi eliminado na fase seguinte pelo St. Louis Blues.

Embora na temporada seguinte, 1968-69, os Stars tenham ficado de fora dos playoffs, o time tornou a classificar-se à pós-temporada pelas quatro temporadas consecutivas.

A década de 80
Apesar dos anos 70 terem começado bem, com os Stars nos playoffs de 1970 a 73, a década acabou sendo mais improdutiva do que se imagina. Das seis temporadas seguintes, a classificação à pós-temporada não veio em cinco.

O jogo virou na década de 80 quando os North Stars viveram os melhores anos de sua história. Na temporada 1979-80, a equipe de Bloomington classificou-se à pós-temporada e passou pelo Toronto Maple Leafs e pelo Montreal Canadiens, até ser eliminada pelo Philadelphia Flyers na final de conferência. Na temporada seguinte, 1980-81, os North Stars terminaram em terceiro na Divisão Adams e, após deixar para trás Boston Bruins, Buffalo Sabres e o novíssimo Calgary Flames, que tinha acabado de se mudar de Atlanta, o Minnesota venceu pela primeira vez a Conferência Príncipe de Gales (ou Prince of Wales) e alcançou a decisão da Copa Stanley. O único problema é que pela frente estava o fortíssimo New York Islanders de Bryan Trottier, Mike Bossy e Denis Potvin, que ficou com o campeonato. Foi nessa temporada que estreou na NHL o jovem Dino Ciccarelli. A temporada começou com Paul Shmyr como capitão, embora Tim Young tenha assumido o posto nas finais. Bobby Smith liderou o time em pontos, seguido por Tim Young. O maior goleador do período foi Steve Payne.

Os North Stars foram campeões da Divisão Norris em 1982 e 1984, confirmando o sucesso do time na década de 80. Não tornaram a alcançar a Copa Stanley no período, mas, com exceção das temporadas 1986-87 e 1987-88, sempre se mantiveram na pós-temporada. Em 1988 o clube teve a primeira escolha geral e selecionou um jovem central de Michigan chamado Michael Thomas Modano Jr., que num futuro não muito distante mudaria a cara da franquia, que já não estaria mais sediada em Minnesota. Mas isso já é uma outra história...

Os últimos anos
No final da década de 80 e início dos anos 90 o Minnesota retomou o rumo de suas participações regulares nos playoffs. Em 1989 e 1990 o time foi eliminado pelo St. Louis Blues e Boston Bruins, respectivamente, na semifinal de divisão. Em 1991 veio mais uma grande campanha: os North Stars eliminaram em seis jogos o Chicago Blackhawks e o St. Louis Blues. E em cinco jogos os defensores do título Edmonton Oilers, na final da Divisão Campbell. Na final da Copa Stanley, no entanto, os North Stars bateram de frente com mais um time sensacional: o Pittsburgh Penguins, de Mario Lemieux. Perderam o troféu novamente.

Brian Bellows e Dave Gagner foram os destaques dos North Stars em sua última temporada de brilho. O time foi capitaneado por Curt Giles.

Na temporada seguinte, perderam as finais de Divisão para o Detroit Red Wings. Em 1992-93, ficaram de fora dos playoffs. Em 1993 a franquia passava por problemas. A frequência do público na arena não vinha boa devido aos resultados insatisfatórios recentes. O desejo de ter uma arena em Minneapolis ou em St. Paul não se concretizou. E um curioso processo por assédio sexual contra Norman Green, dono do time, fez com que sua esposa ameaçasse divórcio, a não ser que eles mudassem de cidade. E no final das contas, mudaram. Dallas tinha a Reunion Arena, onde o North Stars passou a jogar, mudando seu nome para Dallas Stars e construindo uma nova história na NHL.

O maior pontuador da história da franquia foi também o que mais jogou: Neal Broten, 876 jogos e 796 pontos. Além da camisa #19, de Masterton, os North Stars também aposentaram o número #8, de Bill Goldsworthy, primeiro craque do time que vestiu sua camisa de 1967 a 1977. Quatro ex-North Stars entraram para o Salão da Fama: os defensores Leo Boivin e Larry Murphy, o ponta direita Mike Gartner e o goleiro Gump Worsley.

Legado
Com a ausência dos (North) Stars, Minnesota ficou sem hóquei profissional numa grande liga até a temporada 2000.

O Dallas Stars teve sucesso no Texas. Chegou duas vezes à final da Copa Stanley, vencendo em 1999 contra o Buffalo Sabres e perdendo em 2000 para o New Jersey Devils. Lá, Mike Modano se desenvolveu e tornou-se o maior pontuador estadunidense da história da NHL. O Dallas manteve as cores que o North Stars usou em sua última temporada: branco, verde, dourado e preto. E reaproveitou parte do nome: North Stars não faria sentido, uma vez que o Texas fica no Sul dos Estados Unidos. Mas como o Texas é conhecido como The Lone Star State (O Estado da Estrela Solitária), foi só tirar o "North" que o nome casou: Dallas Stars! Até mesmo o último logo dos North Stars, que continha apenas a palavra STARS com uma estrela abaixo, foi utilizado e até hoje é mantido, com a pequena diferença que sobre a palavra foi adicionado o nome DALLAS.

Já Minnesota não demorou muito a ganhar outro time: o Minnesota Wild, finalmente sediado na cidade de St. Paul. Até agora o Wild não repetiu o sucesso do North Stars, tendo, no máximo, conseguido alcançar as finais da Conferência Oeste em 2003, onde foi eliminado pelo Mighty Ducks of Anaheim. Independentemente de qualquer coisa, o Wild vem encantando mais com sua forte torcida de que com seu jogo em si, o que mostra que o hóquei fora de Minnesota é um erro. Embora o verde e o amarelo dos Stars estejam presente no novo time, suas cores ainda incluem vermelho-sangue e trigo.

Mas antes mesmo dos North Stars, o Estado do Hóquei vibrava bastante com um outro time: o Minnesota Golden Gophers, equipe da Universidade de Minnesota. Este timaço soma sete campeonatos universitários masculinos e três femininos.


Ficha — Minnesota North Stars
Fundação:
1967 (NHL)
Adesão à NHL: 1967
História:

- Minnesota North Stars (NHL), 1967-1993
Cidade:
- Bloomington, Minnesota, 1967-1993
Cores:
- Branco, verde e dourado (1967-1992)
- Branco, verde, dourado e preto (1990-1993)
Arena: Metropolitan Sports Center, mais conhecido como Met Center.
Títulos:
- Campeão da Conferência Prince of Wales (1981)
- Campeão da Divisão Norris (1982 e 1984)
- Campeão da Conferência Campbell (1991)
Melhor campanha: Finais da Copa Stanley, perdendo para New York Islanders (1981) e Pittsburgh Penguins (1991).

Thiago Leal escreve também para um sítio de futebol chamado Fanático Esporte Clube.
Arquivo TheSlot.com.br
Acima, à esquerda o logo original do Minnesota North Stars, e à direita o logo mais famoso, usado de 1975 a 1992. Abaixo, o logotipo utilizado na última temporada do time que, com algumas pequenas alterações, tornaria-se o logotipo do Dallas Stars.

Arquivo TheSlot.com.br
Novatinho marrento: o Minnesota North Stars, em sua primeira temporada, não se intimidou diante do campeão Toronto Maple Leafs.

Arquivo TheSlot.com.br
Bill Goldsworthy, o primeiro grande ídolo do time.

Arquivo TheSlot.com.br
Neal Broten, recordista em pontos.

Arquivo TheSlot.com.br
Bobby Smith não conseguiu ajudar os North Stars a superar o New York Islanders em 1981..

David E. Klutho
A outra oportunidade de ganhar a Copa Stanley foi em 1991. Mas Mario Lemieux estava no caminho.
(15/05/1991)

James A. Rasmussen
O Metropolitan Sports Center, mais conhecido como Met Center: casa dos North Stars de 1967 a 1993.

Edição Atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Página no Facebook | Contato
© 2002-08 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução do conteúdo escrito, desde que citados autor e fonte.
Página publicada em 28 de outubro de 2009.